ihu - Primeiro as palavras do cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, que dirigirá o conselho dos sábios, chamado a apoiar o novo governo do Papa Francisco: “Também o IOR poderá ser reformado”. Depois, faz poucas horas, aquelas do cardeal Francisco Xavier Errázuriz Ossa,
arcebispo emérito de Santiago do Chile, que diz: “Quarenta bispos
europeus que trabalham para o Santo Padre e para o governo da Igreja são
demasiados”. São duas declarações de peso que dizem que no futuro
pouco, muito pouco restará do que é agora além do Tibre.
A matéria é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 21-04-2013. A tradução é de Benno Dischinger.
“Não ficará pedra sobre pedra", dizem alguns no Vaticano. Em
particular no que se refere às finanças, o terreno onde desde sempre
borbulham os maiores escândalos, e não por último um memorial do
ex-presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi,
que diz temer por sua vida. Trata-se de um “documento que tinha sido
mantido expressamente reservado enquanto tinha sido redigido num momento
de grande tensão e de preocupação pelo que estava acontecendo em razão
dos ataques e das polêmicas”, esclarece o próprio Gotti Tedeschi.
De fato, o texto mostra tensões pesadas, a ação do presidente do banco
vaticano obstacula curiais que a certa altura não confiam mais nele, em
seu trabalho, talvez também por causa de sua vontade de denunciar as
demasiadas contas cifradas presentes no Instituto, e ao mesmo tempo a
“ameaça” de colaborar com a Autoridade de informação financeira
instituída por Ratzinger de maneira paradoxal precisamente para vigiar sobre as sagradas finanças.De que modo o Papa reformará a cúria romana? O que será dos seus dicastérios financeiros? O Padre Frederico Lombardi
desmente as notícias sobre a vontade do Papa de criar um
superministério da economia. “No momento não existe absolutamente nada”,
diz. No entanto, as declarações dos dois purpurados Maradiaga e Errázuriz Ossa,
ambos inseridos no novo conselho de sábios querido pelo Papa, dizem que
pelo fim do ano algo acontecerá, com a provável atribuição das
responsabilidades sobre os dicastérios financeiros a um único centro de
decisão.No centro dos pensamentos dos reformadores está obviamente o IOR. Tanto que é previsível que a reforma partirá daqui, do IOR,
dos seus balanços até hoje não controlados devidamente, talvez chegando
a unificar as competências financeiras do Vaticano, hoje divididas em
até cinco secretarias.Em dezembro, além disso, os inspetores de Moneyval, o
Comitê do Conselho Europeu que avalia as medidas nacionais para o
conferimento da reciclagem de dinheiro e do financiamento do terrorismo,
apresentarão o próximo “Progress Report” da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano centrado não só sobre as “Core Recommendations”, mas também sobre todos os âmbitos cobertos pelas “Key Recommendations”.Para essa ocasião o Vaticano poderia atender a uma das exigências mais urgentes levadas em frente por Moneyval:
conferir mais poderes ao AIF e menos à comissão de cardeais que vigia
sobre o IOR, aquela mesma comissão que de fato, junto à Secretaria de
Estado vaticana, desincumbiu Ettore Gotti Tedeschi
através de um comunicado redigido junto com os membros da junta do
próprio Instituto. A luta foi e é entre o poder político detido pela
Secretaria de Estado e poder de controle atribuído por Ratzinger ao AIF. Este é também o vulnus [a lesão] denunciado por Moneyval.
Sem isso a Santa Sé não poderá ser incluída Lista Branca dos países
financeiramente eficazes onde “controlado e controlador se identificam”.O Papa Francisco sabe muito bem que os vários dicastérios vaticanos dotados de autonomia financiera – além do IOR, a primeira secção da Secretaria de Estado, a Apsa, Propaganda Fide e a Governadoria
– têm competências pouco claras e não gozam de um único balancete. Por
isso, também poderia decidir simplificar os mesmos dicastérios no
interior de uma tentativa aliás já posta em campo por Bento XVI
quando uniu, para pouco depois tornar a desincorporá-los, os
dicastérios da Cultura com o do Diálogo inter-religioso e o dicastério
dos Migrantes com o de Justiça e Paz.A ideia de Ratzinger era enxugar a Cúria. Porém algo em seu projeto não funcionou. Hoje o Papa Francisco, decidindo viver em Santa Marta,
tem de certo modo feito entender que quer superar os antigos esquemas e
abrir também em Roma uma nova estrada. Seu contínuo apelo à Igreja para
que saia de si mesma até abraçar todas as periferias do mundo, fala da
vontade de reformar profundamente uma estrutura onde também carreirismo e
privilégios têm prosperado. Limpeza e transparência lhe pediram os
cardeais elegendo-o. E não será por certo Francisco a
desiludi-los. Além disso, os custos exorbitantes dos demasiados
dicastérios entram em todos os colóquios que o Papa faz discretamente em
Santa Marta. Por isso, está para disparar a hora do plano da reforma.
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