Redação (Segunda-feira, 27-05-2013, Gaudium Press) - A humanidade ao longo dos anos e séculos, através de
estudos e pesquisas, vem desenvolvendo inventos que inequivocamente
trouxeram benefícios de toda ordem. Bastará citar no campo da saúde a
descoberta da penicilina no ano de 1928, pelo médico inglês Alexander
Fleming, devemos mencionar os avanços tecnológicos como o elevador, a
luz elétrica, o telefone, ou então, na área dos transportes o avião a
jato que permitiu viagens intercontinentais em questão de horas, ao
passo que os navios no início do século XX demoravam semanas.
No âmbito da comunicação, as
propagandeadas tecnologias de informação e comunicação (TICs) dinamizam
os processos de troca de informações entre as pessoas; dentre as quais
podemos citar os telefones celulares (agora em suas novas gerações de
smartphones), a internet, tablets e muitos outros recursos tecnológicos
que surgem a cada dia e que integram o quotidiano dos indivíduos; tanto
que no final do ano de 2012 o Brasil contava com 261,8 milhões de
aparelhos celulares ativos para uma população de, aproximadamente, 197
milhões de habitantes (1).
No entanto, se de um lado o conhecimento
humano - que é a base do referido progresso e das novas tecnologias -
vem trazendo-nos tantas vantagens, por outro, ainda que seja amplo e
aprofundado, depara-se com obstáculos e incógnitas que não sabe
resolver, nem apresentar construções benéficas que atendam todas as
nossas necessidades. Percebe-se, desta forma, quanto a capacidade humana
e a inteligência são limitadas e inoperantes frente ao que poderíamos
chamar de "mistérios da natureza". Sim, quantos são estes mistérios que o
homem não consegue penetrar!
Essa incapacidade da inteligência humana
para explicar todos os fenômenos da natureza tem levado cientistas, dos
mais renomados, a reconhecer a contingência do ser humano. Sim, somos
limitados e não conseguimos compreender sequer aquilo que está no
domínio de nossos sentidos. Esta afirmação pode ser comprovada através
de pesquisa publicada por uma equipe da Universidade de Cambridge (Reino
Unido), onde se assevera, a partir de mapeamento realizado em centenas
de pessoas, uma tese recorrente na neurociência: nossa inteligência
chegou a seu limite (2).
Esta incapacidade em entender pela razão
os fenômenos naturais cresce e atinge sua maior realidade quando o
homem busca a compreensão e o verdadeiro conhecimento de Deus.
Bem disse a esse propósito São
Belarmino:"Se tantos objetos neste mundo são inexplicáveis para o homem,
quanto maior é o perigo de errar quando ele procura perscrutar o que
está acima dos céus" (3).
Estas considerações vêm à nossa mente a
propósito daquele que é, no sentido pleno do termo, um mistério, ou
melhor, o maior Mistério diante do qual o homem fica menor do que um
"átomo", um nada, e que a Igreja celebra, a partir do período do
pontificado de João XXII (1316-1334), com as grandezas de uma
Solenidade: o Mistério da Santíssima Trindade.
Com efeito, nos ensina o Magistério
infalível da Igreja que o Mistério da Santíssima Trindade é "o mistério
de um só Deus em três pessoas iguais e realmente distintas que são o
Pai, o Filho e o Espírito Santo" (4). E continua a nos explicar o
Catecismo: "As três pessoas da Santíssima Trindade são um só Deus,
porque que todas têm uma só e a mesma natureza divina" e "são todas
iguais, porque todas têm a mesma natureza divina, o mesmo poder e a
mesma sabedoria" (5).
Diante deste ensinamento, poderíamos nos
perguntar: conseguimos nós, por mais inteligentes que uns e outros
sejamos, penetrar e ter uma compreensão plena deste mistério? E, sem
dúvida, todos serão unânimes em responder: simplesmente falando não
compreendemos em toda a sua dimensão o Mistério da Santíssima Trindade! E
por qual razão? Pelo simples fato de que não somos deuses, conforme
pontua Santo Antônio Maria Claret:
Incompreensível vos parecerá isto, sem
dúvida. E se pudéssemos compreendê-lo, ou seríamos Deus, ou Aquele cuja
natureza declarássemos como é em si, não o seria. O que teria de
precioso a Divindade incompreensível - pergunta Eusébio Emiseno - se a
sabedoria humana pudesse compreender aquele Senhor que habita nas
alturas, ao qual as nuvens servem de abajur e que é infinitamente
superior a toda a ciência dos homens? (6)
Nesta perspectiva, com base em São Tomás de Aquino, nos responde Mons. João Clá Dias, EP:
Esse insondável mistério de vida ad
intra de Deus, baseada no amor, tornou-se cognoscível apenas pela
Revelação. Para a inteligência humana resulta impossível entendê-lo,
pois nada há na ordem da criação que possa dar ideia explícita dele. "É
impossível chegar ao conhecimento da Trindade das Pessoas divinas pela
razão natural", afirma São Tomás. Logo a seguir, esclarece ser-nos
possível conhecer a Deus, por mero raciocínio, "o que pertence à unidade
da essência, não à distinção das Pessoas". (7)
Em outros termos, a razão humana foi capaz de chegar a conhecer a Deus, mas não a sua Trindade.
Porém, uma vez que a ciência dos homens não alcança esta verdade, qual deve ser a postura nossa em relação ao Mistério da Santíssima Trindade?
Um dos maiores doutores da História da
Igreja, Santo Agostinho, nos indica a via: "Se almejamos compreender
tanto quanto nos é possível a eternidade, a igualdade e unidade de um
Deus trino, precisamos crer antes que entender (8) [grifo nosso]. Ou
seja, a partir da humildade e da fé poderemos - tanto quanto permita a
nossa natureza e ainda auxiliados pela graça de Deus - ter um certo
conhecimento da Trindade de Deus.
Sim, humildade! Virtude que nos coloca
em relação a Deus no nosso devido lugar, reconhecendo nossa limitação,
contingência e dependência para com nosso Criador. É a partir daí,
praticando aquela que é a "virtude que Deus ama acima de todas as
outras" (9)- conforme leciona São Luis Maria G. de Montfort - e não nos
elevando a nós mesmos com soberba, que Deus nos dará, tanto quanto
comporte a natureza humana, a graça de Seu conhecimento, que deve ser a
razão de nossa plena alegria.
Unida à humildade encontra-se a fé,
"virtude sobrenatural infusa, pela qual cremos firmemente todas as
verdades reveladas por Deus e propostas pela Igreja" (10). Encontramos
nas Sagradas Escrituras um ilustrativo e maravilhoso exemplo de
humildade e fé diante dos mistérios de Deus: os pastores de Belém.
Embora despojados de maiores
conhecimentos ou de uma inteligência especialmente cultivada (nos dias
atuais poderiam ser definidos como ignorantes e analfabetos), creram e
discerniram, pelo senso da fé, a presença do sobrenatural. Quando o Anjo
anunciou, foram ao encontro do Deus Menino e, prostrando-se no
Presépio, O adoraram. Podemos mencionar, ainda, a inocência das crianças
que. Sendo batizadas, creem sem colocarem a menor dúvida e sem buscar
explicações no âmbito da razão.
Assim, com este espírito humilde, cheio
de fé, flexibilidade e com a submissão de todo o entendimento e vontade
ao sobrenatural, rezemos nesta Solenidade da Trindade, a Oração do Dia
que nos propõe a Liturgia da Igreja:
Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a
Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes o vosso
inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a
glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente. Por nosso Senhor
Jesus Cristo (11).
Adilson Costa da Costa
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(1) Agência Nacional de Telecomunicações. Relatório 2012. Disponível em . Acesso em 24 de maio de 2013.
(2) Ed Bullmore. Nosso cérebro chegou ao limite, diz neurocientista. Revista Galileu.Disponível em . Acesso em 24 de maio 2013.
(3) São Bellarmino. In: Catecismo
Popular. Primeira Parte: a Fé. Francisco Spirago. 2ª ed. Tipografia da
Empresa Veritas, p. 30, s/d.
(4) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã. 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 15.
(5) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã, 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 16.
(6) Santo Antônio Maria Claret. Colección de Práticas Dominicales. v. II, Barcelona: L. Religiosa, 1886, p. 256.
(7) Mons. João S, Clá Dias, EP. O
inédito sobre os Evangelhos. v. V, Coedição internacional de Città del
Vaticano: Libreria Editrice Vaticana e São Paulo: Instituto Lumen
Sapientiae, 2012, p. 398.
(8) Santo Agostinho. De Trinitate. L. VIII, c.5, n.8. In: Obras. v. V, Madrid: BAC, 1956, p.514.
(9) São Luís Maria G. de Montfort. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. 42ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 140.
(10) Segundo Catecismo da Doutrina Cristã, 117ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 96.
(11) Liturgia Diária. Ano XXII: n. 257: Maio de 2013. São Paulo: Paulus, 2013, p. 90.
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