A reportagem é de Luiz Ernesto Magalhães e publicada pelo jornal O Globo, 10-05-2013.
As igrejas evangélicas se concentram na localidade do Piraquê,
na Estrada da Matriz. Pelo menos quatro fazem limite com o terreno
escolhido para receber até 1,5 milhão de peregrinos. O Piraquê, na
verdade, é um loteamento irregular, surgido há décadas a partir da
invasão de parte de uma fazenda, que inclui o terreno onde o Papa
celebrará a missa. Há sete anos pregando no Piraquê, o pastor evangélico
Isídio da Costa Melo, de 72 anos, da Igreja Assembleia de Deus Poder da Fé, conta que durante a missa seu templo estará aberto.
"Aos domingos, pela manhã, temos estudos bíblicos. Vou abrir a igreja
para os fiéis da mesma maneira que sempre fiz. Acho que todos virão,
mas eles são livres para decidir. Respeito o Papa Francisco. Mas o
senhor Deus, ao entregar a tábua com os dez mandamentos a Moisés, disse
que, além dele, não há outro. Durante a Jornada Mundial da Juventude, teria que escolher entre o Papa ou pregar. Prefiro eu mesmo falar sobre papai do céu", isse Isídio.
A dissidência no rebanho de Isídio, no entanto, começa em casa. A mulher, Janete Costa Melo, não pretende assistir à missa. Mas faz questão de conhecer o Papa, mesmo se faltar ao culto:
"Nossa crença pode ser outra. Mas ele é um líder religioso
importante. Somos vizinhos do local da missa. Claro que eu vou", disse Janete.
O pastor Jamil Manhães, que antes de se converter
era católico, ainda não sabe o que fará no último domingo de julho. Ele
pode ser chamado a pregar ou a converter alguém. Caso contrário, poderá
assistir à missa. Um dos templos onde prega, na Estrada da Matriz, foi
construído por ele mesmo. Da janela coberta de poeira, é possível
observar as obras de preparação do Campus Fidei. Por enquanto, tudo
ainda é um imenso descampado.
"Católicos e evangélicos têm a mesma missão: levar a palavra de Deus.
O importante, como está escrito na Bíblia, é conhecer a verdade. Porque
só a verdade liberta", disse Jamil.
Por sua vez, a empregada doméstica Maria José Pinto, de 56 anos, já tomou sua decisão. No dia 29 de julho, irá com a filha ao culto da Assembleia de Deus em Campo Grande:
"Cada um tem sua religião. Eu respeito o Papa, mas como um homem", disse Maria José.
Na casa do comerciante católico Rafael de Oliveira,
de 36 anos, a história é outra. Ele se prepara para hospedar, durante a
Jornada, cinco pessoas de sua família que são evangélicas:
"Todos moram em São Paulo. Semana passada, ligaram pedindo para ficar
hospedados aqui, porque querem rezar com o Papa, independentemente de
religião", contou Rafael.
A menos de 300 metros de Rafael, mora Maria das Dores Costa,
de 57 anos. Evangélica frequentadora da Assembleia de Deus de Campo
Grande, ela também diz que prefere acompanhar seu culto a assistir a
missa do Papa.
"Eu sigo o caminho que Jesus determina. Mas respeito todas as
religiões. E também respeito o Papa. A gente só não pode respeitar o
diabo, porque ele não merece", justificou.
Católicos e evangélicos reivindicam o reconhecimento de serem maioria
na região. Mas não há dados oficiais atualizados sobre o assunto. O Instituto Pereira Passos
ainda está consolidando informações do Censo 2010 sobre crenças por
região da cidade. Os dados disponíveis ainda são do Censo 2000, que
mostravam os seguidores do catolicismo liderando com folga na região. Os
números indicavam que, na Região Administrativa de Guaratiba (que
inclui ainda os bairros de Barra de Guaratiba e Pedra Guaratiba), os
católicos representavam de 50 a 59% da população. Os evangélicos vinham a
seguir, com pelo menos 25%.
Padre diz que mobilização é grande
A concentração de templos de outra fé no entorno do Campus Fidei,
aparentemente, não preocupa os líderes católicos da região. O Padre Marcos Vinicius da Trindade,
da Igreja de São Pedro, disse que, às vésperas da visita do Papa, o
clima é de tolerância religiosa. Ele afirmou respeitar todas as crenças.
Mas, segundo ele, o número de fiéis evangélicos das igrejas da região
ainda é inferior ao de católicos que frequentam a sua paróquia.
Padre Marcos cita números para comprovar o poder de mobilização de católicos. Apenas em Guaratiba,
a igreja católica conseguiu 4 mil lugares para o repouso dos
peregrinos. Somente em residências, são 1.200 vagas. O restante dos
peregrinos será acomodado em escolas e creches, entre outras
instituições:
"Uma missa na Igreja de São Pedro aos domingos reúne mais gente do
que todas as igrejas evangélicas juntas. O que ocorre é que a igreja
católica não se preocupa tanto com a visibilidade dos templos, ao
contrário das evangélicas", disse o padre Marcos.
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