quinta-feira, 30 de maio de 2013

O endemoniado pelo qual rezou o Papa conta toda sua história: 10 exorcistas e 14 anos de sofrimento.

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Quatro demônios que não se vão.

A correspondente do jornal ‘O Mundo no Vaticano’, Irene Hernandez Velasco, falou con Angel, o homem que recebeu a oração do Papa Francisco que a imprensa de todo o mundo identificou como um exorcismo. Publicou seu testemunho no suplemento Crônica, com informações também de J. M. Vidal. Esta é a história do endemoniado mais famoso da mídia do século XXI.

14 anos de sofrimento

Angel V., homem de olhar lânguido e aflito e maneiras suaves é mexicano, procede do estado de Michoacan, tem 43 anos, dois filhos… e quatro demônios metidos em seu interior.
Quatro demônios que -disse- o atormentam há 14 anos e dos quais mais de uma dezena de exorcistas que o examinaram nos últimos anos não tem conseguido livrar-lhe de nenhum. Todos ele se mostram convencidos de que Angel é um caso incontestável de possessão diabólica.
“Não tenho mais nenhuma dúvida”, assegura à ‘Crônica’ o padre Amorth, exorcista da diocese de Roma há 26 anos e autor de mais de 150.000 exorcismos. Angel se converteu nos últimos dias no endemoniado mais famoso do mundo. Tudo, depois de que deu a volta ao planeta o vídeo rodado no domingo passado, pelas câmaras do ‘Centro Televisivo Vaticano’ CTV, no qual se vê como o Papa Francisco impõe as mãos sobre a cabeza dele com energia.

O que sabia o Papa

“Santidade, esta pessoa necessita sua bênção. Já o viram 10 exorcistas, lhe fizeram mais de 30 exorcismos e os demônios que leva dentro não querem sair”. O padre Juan Rivas, o sacerdote mexicano que acompanhou Angel em seu encontro com Francisco, assegura à ‘Crônica’ que foi com essas palavras exatas que apresentou Angel ao Papa.
“O Papa saudou Angel, este beijou o anel pontifício e nesse momento caiu em transe. Então o Papa pôs as mãos sobre sua cabeça e nesse momento ouviu-se um alarido terrível, como o rugido de um leão. Todos os que estavam ali escutaram perfeitamente”.
“O Papa, naturalmente, ouviu, os encarregados de sua segurança assim como uma menina que estava ao nosso lado. Mas apesar desse rugido espantoso, o Papa não se deixou impressionar e seguiu adiante com sua oração, como se antes já tivesse enfrentado situações similares”.
Angel acena com lentidão. Disse que se encontra melhor, que a reza do Papa lhe fez muito bem. A prova é que se apresenta à entrevista com ‘Crônica’ andando em seus próprios pés, enquanto que no encontro com o Pontífice estava numa cadeira de rodas. “Mas ainda tenho os demônios dentro, não se foram”, explica este homem que assegura que sabe perfeitamente o momento preciso em que o maligno entrou em seu corpo.

P – Quando e como o diabo se apoderou de você?

R -Foi em 1999, num dia em que regressava de ônibus do México DF para minha localidade natal, em Michoacan. Senti que uma energia entrava no ônibus. Não a vi com os olhos, mas percebi. Notei que se aproximava de mim e que se colocava na minha frente. E, de repente, senti como uma estaca que se me cravava no peito e depois, pouco a pouco, a sensação de que se iam se abrindo as costelas.
Angel estava convencido de que aquilo era um ataque do coração e de que ia morrer. Mas não morreu. A partir desse momento sua saúde se foi deteriorando.
“Tudo o que comia vomitava. Sentia espetadas em todo meu corpo, como se tivesse repleto de agulhas. Até os lençóis me causavam dano. Comecei a não poder caminhar. Cada dia respirava com maior dificuldade. Não podia dormir, e quando conseguia tinha pesadelos espantosos relacionadas com o mal”.
E começou a ter transes nos quais blasfemava e falava em línguas desconhecidas. Os médicos não eram capazes de explicar o que ocorria a esse homem de 30 anos que até essa época tinha tido saúde. Fizeram-lhe radiografias, análises, provas… “Mas não achavam a causa de meus problemas”.
Estava tão mal que um dia foi visitar um primo seu, sacerdote, para confessar e lhe dar a extrema unção. “No total me deram já quatro vezes os santos óleos”, conta. Mas não só não morreu, mas esse sacramento aliviou um pouco suas penalidades, notou uma melhora.

Alívio na oração

Angel começou a rezar com devoção ao Senhor da Misericórdia, cuja estampa lhe tinha dado seu primo. Sempre foi católico, sempre foi à missa aos domingos, mas disse que não rezava bastante.
Começou a se sentir um pouco melhor e, em agradecimento, pegou uma imagem do Senhor da Misericórdia na Igreja de Santo Agostinho em Morelia, a capital do estado de Michoacan. Notou certo alívio, mas seguia tendo recaídas e continuava sem entender o que acontecia. Até que um dia assistiu em Morelia a conferência de um sacerdote ucraniano.

A relíquia do Padre Pio

“A pessoa que o acompanhava e era seu tradutor era um médico que tinha convivido com o Padre Pio, o santo dos estigmas. Contei o que me acontecia, o mal que eu sentia. Ele pôs no meu peito uma relíquia do padre Pio e nesse momento vi uma luz especial que me rodeava, senti uma grande paz. Mas ao mesmo tempo, notei algo que começava arranhar dentro de mim. Esse algo me tirou o chão e começou a se manifestar. Eu não podia fazer nada, essa presença era mais forte que eu, me dominava”.
Era 2004. Depois de cinco anos sem entender o que acontecia, sem saber o que passava, Angel recebeu um novo diagnóstico: estava possuído pelo diabo. Nesse mesmo dia fizeram também seu primeiro exorcismo.

P – Como reagiu diante da ideia de estar endemoniado?

R.- Deu-me muitíssimo medo. E também me senti muito sujo em pensar que dentro de mim tinha um ser maléfico. Minha família reagiu a princípio com incredulidade e, de fato, entre meus irmãos há alguns que ainda continuam céticos, que creem que o que tenho é fruto de um desequilíbrio psicológico. Sei que há muita gente em todos os países do mundo que está passando por isso também. Gente que se sente incompreendida por sua família, por seus amigos e, em ocasiões, até pela própria Igreja, porque nem todas as dioceses tem exorcistas. Também porque há sacerdotes que não creem na possessão diabólica, que consideram que se trata de problemas psiquiátricos. Há muitos possuídos que terminam em manicômios e morrem sem saber o que acontece. É para poder ajudá-los que decidi conceder esta entrevista, a primeira que dou em minha vida.

De exorcista em exorcista

A partir desse momento, Angel começou a buscar desesperadamente exorcistas, a tratar de encontrar alguém capaz de extirpar os demônios.
Primeiro buscou ajuda com um no México DF, que fez quatro ou cinco exorcismos.
“Em um deles esse sacerdote perguntou ao demônio como havia entrado dentro de mim e este lhe disse que tinha sido por um malefício que me fez uma pessoa”.
Esse exorcista foi mandado para outra paróquia e Angel passou a outro, que tampouco conseguiu livrá-lo dos seus demônios. Alguém lhe recomendou que fosse ao padre José Antonio Fortea, o mais famoso exorcista espanhol. O primeiro encontro teve lugar há já três anos, no México, onde Fortea conheceu Angel e sua família e o assessorou. E o segundo faz poucos dias em Roma, onde o sacerdote de Huesca, se encontrava terminando sua tese doutoral sobre demonologia.

Um negócio arruinado

A possessão que parece que sofre Angel se converteu em um pesadelo a vida desse homem licenciado em Técnica de Mercado pela Universidade de Guadalajara e que tinha sua própria empresa de publicidade.
“Há um ano teve que fechar, minhas condições de saúde não me permitem trabalhar. Para poder manter minha família tive que vender minha casa e outro apartamento que tínhamos. Agora vivemos em uma casa que nos emprestou minha sogra. Por sorte, não estou em dificuldades econômicas, com a venda das duas casas nos chega para viver. Mas quero ter uma vida normal. Sobretudo por minha esposa e meus filhos, de 6 e 11 anos. Por sorte minhas duas crianças nunca me viram em transe. Mas sabem que estou doente”, disse entre lágrimas.
Os últimos oito meses, assegura, foram de terror. Não podia sair de casa pelo mal que me encontrava. Estava tão grave que uma vez mais lhe deram a extrema-unção.
E uma noite teve um sonho.

Sonhando com o Papa Francisco

“Vi o Papa Francisco vestido de vermelho, rezando, com um turíbulo na mão e rodeado de bispos e cardeais. Não dei importância, mas quando me levantei liguei a televisão e vi uma missa do Papa, vestido de vermelho e com um turíbulo na mão, rodeado de bispos e cardeais. E me veio a cabeça uma ideia: Tenho que ir a Roma? Além disso, nessa época estava lendo o libro do padre Amorth ‘O último exorcista’, no qual conta que tanto Bento XVI como João Paulo II tinham realizado exorcismos e orações de libertação a possuídos”.
Angel conta que duvidou muito sobre se devia viajar ou não a Roma.
“Estava muito mal, tinha medo de morrer longe de meus filhos, de minha família”, disse.

Desembarcando em Roma

Pediu a Juan Rivas, um sacerdote mexicano que conheceu há dois anos, que lhe acompanhasse. E, no dia 7 p.p, os dois se plantaram na Cidade Eterna.
“Depois de tentar em três ocasiões de saudar o Papa sem sucesso, no domingo passado a Divina Providência nos ajudou e conseguimos por fim encontrá-lo e que dissesse uma oração”, conta Juan Rivas.
O padre Amorth viu Angel no dia seguinte de seu encontro com o Papa, na quarta-feira passada. “Não há dúvida de que está possuído”, assegura à ‘Crônica’ este especialista que, em seus 88 anos, realizou uns 160.000 exorcismos e considera que Angel padece de um tipo de possessão muito especial: a possessão com mensagem. Não só estaria endemoniado mas, sustenta ele, o diabo que o habita se veria obrigado por Deus a transmitir uma mensagem.

Uma mensagem para o clero mexicano

“É um bom rapaz, foi escolhido pelo Senhor para mandar uma mensagem ao clero mexicano e dizer aos bispos que têm que fazer um ato em reparação por causa da horrenda lei do aborto aprovada na Cidade do México em 2007 e que supõe um ultraje à Virgem. Até que não o façam Angel, não será libertado”.
Angel recorreu nos últimos anos a distintos exorcistas. Mas sem conseguir resultados.
“Há momentos em que parece que os demônios vão sair. eu os noto na boca, meio fora, sinto que me incha o pescoço. Mas não se vão”.

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