IHU - A reflexão é de Raymond Gravel, padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do Domingo de Pentecostes (19 de maio de 2013). A tradução é do Cepat.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
Primeira leitura: At 2, 1-11
Segunda leitura: Rm 8, 8-17
Evangelho: Jo 14, 15-16.23b-26
Primeira leitura: At 2, 1-11
Segunda leitura: Rm 8, 8-17
Evangelho: Jo 14, 15-16.23b-26
A celebração do Pentecostes encerra o tempo pascal. É, portanto,
tendo sempre presente a Páscoa que devemos celebrar esta festa do
Espírito Santo. Não devemos fazer do Pentecostes um acontecimento
material e histórico; é no centro da Páscoa de Cristo, morte e
ressurreição, que o Espírito foi dado aos discípulos e que é dado a nós
ainda hoje. O Espírito que ressuscitou Jesus e que o fez Cristo e
Senhor, é o mesmo Espírito, nos diz São Paulo, que nos faz filhos e
filhas de Deus: “O próprio Espírito assegura ao nosso espírito que somos
filhos de Deus” (Rm 8, 16). Se a Páscoa é a fonte e o cume da vida
cristã, com o Pentecostes completa-se a nossa vida cristã. Mas o que
muda para nós o fato de sermos habitados pelo Espírito Santo, o Espírito
de Cristo?
1. O Espírito é Amor
No Evangelho de São João, Deus é Amor e para
conhecê-lo precisamos fazer a experiência do Amor. E qual é? “Se alguém
me ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e
faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23). Se eu li corretamente este
versículo do evangelista João, é o Amor que nos une a Cristo e a Deus.
Mas como sabê-lo? “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos.
Então eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Defensor, para que
permaneça com vocês para sempre” (Jo 14, 15-16). E São João precisa
(infelizmente, essa parte foi excluída do evangelho de hoje): “Ele é o
Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o
conhece. Vocês o conhecem, porque ele mora com vocês e estará com
vocês” (Jo 14, 17).
Portanto, se formos capazes de amar, segundo o Evangelho de João,
é porque somos habitados pelo Espírito de Cristo que é Amor. A questão
que surge é a seguinte: será o Amor seletivo? Devemos amar somente
aqueles e aquelas que pensam como nós ou que fazem parte da mesma Igreja
que nós? A resposta é, evidentemente, não! Porque o Espírito é
universal.
2. O Espírito é universal
Isso quer dizer exatamente o quê? Em sua primeira carta aos Coríntios, São Paulo
escreve: “Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes
serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o
mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar
o Espírito para o bem de todos” (1 Cor 12, 4-7). Será que o Espírito
habita mais os católicos que os outros cristãos ou mesmo que os outros
crentes? Não creio, porque na história, numerosos são aquelas e aqueles
que, por Amor, souberam trabalhar “em vista do bem de todos” (1 Cor 12,
7), tornando o mundo melhor e mais humano. Há mesmo, entre eles, aqueles
que se dizem não crentes: são eles habitados pelo Espírito sem mesmo
sabê-lo? Talvez! A questão, entretanto, permanece aberta.
Uma coisa é certa: no livro dos Atos dos Apóstolos,
na primeira leitura de hoje, quando Lucas relata o acontecimento
teológico do Pentecostes, são todas aquelas e todos aqueles que estavam
reunidos que ficaram repletos do Espírito Santo (At 2, 4). São Lucas não
diz que somente os virtuosos são habitados pelo Espírito. Não! Podemos
supor que eram muitos os que estavam ali reunidos junto com os Doze e os
discípulos, transformados pelo Amor e reunidos num mesmo lugar
teológico, isto é, o coração humano, onde o Espírito estabelece sua
morada.
3. O Espírito é movimento
No evangelho de São João, Jesus fala da fidelidade à sua palavra (Jo 14, 23). Normalmente, diz o exegeta francês Jean Debruynne,
“a imagem que, com mais naturalidade, vem da fidelidade é da solidez,
isto é, da rocha, do enraizamento, do que resiste e que não se move.
Jesus, ao contrário, inscreve a palavra fidelidade no movimento. Para
Jesus, a fidelidade não é uma estátua ou um monumento; o Espírito é
movimento”. No fundo, a fidelidade exige o Amor e o Amor não pode ser
estático. Amar é não se apegar ao passado; é olhar sempre para frente,
para o futuro: é evoluir, questionar-se, converter-se, deixar-se
transformar pela vida. O Amor não é nunca intransigente, intolerante; o
Amor espera e permite que todos os possíveis se realizem. E é o Espírito
que habita o coração daquela e daquele que ama, que age e que se coloca
em movimento.
Lembremo-nos de que, na semana passada, no Evangelho de Lucas,
após a Ascensão, os discípulos retornaram ao Templo de Jerusalém: “E
estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus” (Lc 24, 53). Isso quer
dizer que eles ainda não estavam em movimento; eles não tinham tomado
consciência de que eram habitados pelo Espírito Santo e que deviam sair
do Templo para partir em missão. Nesse dia do Pentecostes eles se deram
conta de que deviam sair do Templo para transmitir o sopro de vida
(vento), para reunir no Amor todos os povos (fogo) e para comunicar a
todos e todas o Amor universal (línguas). Este é o papel do Espírito
Santo.
4. O Espírito é Memória
“Mas o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome,
ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que
eu lhes disse” (Jo 14, 26). Mas atenção! O que Jesus disse não é um fim
em si: é um começo, é uma semente. E o Espírito Santo, o Espírito de
Deus que é a energia que cria e recria, faz acontecer a Palavra, a
partir desta semente que era Jesus Cristo, Palavra e Verbo de Deus. O
Espírito Santo vem hoje avivar a nossa memória; ele nos faz lembrar o
Futuro.
O teólogo francês Gérard Bessière escreve: “Esta
memória é uma semeadura. Nela se esconde a semente lançada pela mão do
semeador, a minúscula mostarda que promete crescimentos noturnos e o
grão que parece morto no sulco ensanguentado. Palavras e atos de Jesus
fermentam no terreno da nossa história, mesmo nos lugares humanos mais
afastados das nossas igrejas”.
Concluindo, simplesmente gostaria de acompanhar a reflexão de Gérard Bessière,
que escreve: “Um teólogo escreveu que, ao celebrar a Eucaristia, os
cristãos se recordam do que será. Estranha memória voltada para o
futuro. Mas verdadeira memória de Jesus, porque havia milhares de
antecipações em relação ao seu tempo e nós apenas começamos a caminhar
na direção do horizonte que ele nos mostrou. Gostaria que todo homem, e
toda a humanidade, se tornasse novamente criança, e mesmo nascesse de
novo. Suas atitudes, suas iniciativas, suas partilhas eram contagiantes
desta vida inesperada onde as crispações, as durezas, os remordimentos
se apagam na liberdade fraterna das crianças do Deus caloroso que dá e
perdoa. Sonho, utopia? Sim, mas sonho e utopia que fecundam a história e
que reavivam incessantemente os homens. O Espírito nos faz lembrar o
que será. Nas trevas em que muitas vezes andamos tateando, é fogo que
abrasa, ilumina e aquece”.
O Espírito Santo é a Memória do Futuro...

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