jbpsverdade: Em uma
certa ocasião, um sacerdote me chamou em particular e comentou - João Batista
você fala muito do diabo em suas pregações - ora, o diabo é bíblico, é uma
realidade, eu costumo dizer que para se combater é preciso conhecer o oponente,
caso contrário seremos derrotados e com facilidade. Alias, o que ele (diabo),
deseja é ser desconhecido para poder agir livremente, é preciso conhecer as
suas maquinações, seduções e armas, quando conhecemos, a vitória em Cristo
torna-se mais fácil. O apóstolo Paulo escreveu na segunda carta aos corintios o
seguinte: Esses tais são falsos apóstolos, operários desonestos, que se
disfarçam em apóstolos de Cristo, o que não é de espantar. Pois, se o próprio
Satanás se transfigura em anjo de luz, parece bem normal que seus ministros se
disfarcem em ministros de justiça, cujo fim, no entanto, será segundo as suas
obras. (II Cor 11, 13ss), como então não descobrirmos as obras de satanás e
combatê-lo, se não conhecê-lo? O conhecimento vem tão somente pelo Espírito
Santo e não pelo conhecimemento humano. E ao conhecer, o apóstolo Paulo nos
ensina como combater... Não são carnais as armas com que lutamos. São
poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o
conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e o reduzimos à obediência a
Cristo. (II Cor 10, 4s)
Agora eu posso confirmar que a minha insistência em falar e procurar conhecê-lo não é em vão, eu louvo a Deus por isso.
Agora eu posso confirmar que a minha insistência em falar e procurar conhecê-lo não é em vão, eu louvo a Deus por isso.
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IHU - Na pregação do Papa Francisco há um tema que
aparece com uma frequência surpreendente: o diabo.
A
reportagem é de Sandro Magister
e publicada no sítio Chiesa.it,
13-05-2013. A tradução é do Cepat.
O mesmo
tema se repete com uma frequência similar no Novo Testamento. Mesmo tendo isso
presente, a surpresa permanece. Talvez seja porque, com suas contínuas
referências ao diabo, o Papa
Jorge Mario Bergoglio se afasta da pregação atual da Igreja,
que: ou cala sobre o tema ou o reduz à metáfora.
Mais, a
minimização do diabo está tão difundida que esta projeta sua sombra sobre as
próprias palavras do Papa. Até agora, a opinião pública, tanto católica como
laica, mostrou despreocupação diante da sua insistência sobre o diabo ou, no
máximo, indulgente curiosidade.
Ora, uma
coisa é certa. Para o Papa
Bergoglio o diabo não é um mito: é uma pessoa real. Em uma de
suas homilias matutinas na capela da Domus Sanctae Marthae disse que não há
apenas ódio no mundo em relação a Jesus e à Igreja, mas que por trás deste
espírito do mundo está “o príncipe deste mundo”: “Com sua
morte e ressurreição Jesus nos resgatou do poder do mundo, do poder do diabo,
do poder do príncipe deste mundo. A origem do ódio é esta: estamos salvos e
esse príncipe do mundo, que não quer que sejamos salvos, nos odeia e faz nascer
a perseguição, que começou nos primeiros tempos de Jesus e que continua até
hoje”. É preciso
reagir diante desse diabo – disse o Papa – como fez Jesus, que “respondeu com a
palavra de Deus. Não podemos dialogar com o príncipe deste mundo. O diálogo
entre nós é necessário; é necessário para a paz, é uma atitude que devemos ter
entre nós para nos escutarmos, para nos entendermos. E deve permanentemente ser
mantido. O diálogo nasce da caridade, do amor. Mas não podemos dialogar com
este príncipe; podemos somente responder com a palavra de Deus que nos
defende”.
Francisco fala do diabo demonstrando que tem muito
claro em sua mente seus fundamentos bíblicos e teológicos.
E
precisamente para refrescar a mente sobre estes fundamentos interveio, no L’Osservatore Romano, de 04
de maio, o teólogo Inos Biffi, com um artigo que recapitula a presença e o
papel do diabo no Antigo e no Novo Testamento, tanto no que foi revelado e
manifesto, como no que ainda pertence a um “panorama escondido” e, em
definitiva, aos “caminhos impenetráveis” de Deus.
Reproduzimos
este artigo na sequência, que termina com uma crítica à ideologia corrente que
banaliza a pessoa do diabo. Ideologia contra a qual Bergoglio quer fazer um apelo
de todos à realidade.
Como
as Escrituras falam do demônio,
de Inos Biffi
Após o
surgimento do homem, obra do sexto dia da criação, eis que se manifesta a
presença de um ser misterioso e inquietante, a serpente. Assombra e desconcerta
o que esta inicia com os progenitores, e o que destes quer obter: insinuar
neles a suspeita em relação a Deus, isto é, persuadi-los de que as proibições
por ele colocadas provêm de seu zelo, de seu temor de que eles queiram
equiparar-se a ele. A serpente encarna, precisamente no princípio do mundo e de
sua história, a presença de um ser invejoso: “Pela inveja do diabo, entrou no
mundo a morte” (Sb 2, 24). No Novo
Testamento esta serpente é mencionada com frequência. Jesus declara que o diabo
é “assassino desde o começo”; nele “não há verdade”; “quando ele fala mentira,
fala do que é dele, porque ele é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). E
Jesus o define como “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31; 16, 11).
Paulo afirma que “a serpente, com sua astúcia,
seduziu Eva” (2 Cor 11, 3) e menciona a quem se perde “indo atrás de Satanás”
(1 Tm 5, 15). O mesmo apóstolo fala do viver mundano com o qual se segue o
“príncipe do poder do ar, o Espírito que agora age nos homens desobedientes”
(Ef 2, 2); menciona as “manobras do diabo” e nossa batalha “contra os
principados e as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas,
contra os espíritos do mal” (Ef 6, 12).
A
primeira carta de Pedro
nomeia o “inimigo”, “o diabo” ou o “acusador”, que “ronda como leão que ruge,
procurando a quem devorar” (5, 8). E nas cartas de João se recorda o
“anticristo” que deve vir (1 Jo 2, 18); o “mentiroso” que nega que Jesus é o
Cristo; o “anticristo” que “nega o Pai e o Filho” (2, 22). No Apocalipse está
escrito: “Aconteceu então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam
contra o Dragão. O Dragão batalhou juntamente com os seus Anjos, mas foi
derrotado, e no céu não houve mais lugar para eles. Esse grande Dragão é a
antiga Serpente, é o chamado Diabo ou Satanás. É aquele que seduz todos os
habitantes da terra. O Dragão foi expulso para a terra, e os Anjos do Dragão
foram expulsos com ele” (12, 7-9).
*
* *
Entre
estes textos e a exegese de Jesus sobre o diabo, assassino e mentiroso desde o
começo, o acordo é perfeito: trata-se de um ser hostil a Deus, que quer
destruir sua Palavra e, ao mesmo tempo, hostil ao homem, ao qual quer seduzir,
induzindo-o a rebelar-se contra o projeto divino. É o maligno. Em especial, o
acordo exegético refere-se àquele a quem o diabo reserva sua aversão, a saber:
Jesus Cristo.
Situam-se
assim, em antítese, duas realezas: a de Jesus e a do príncipe deste mundo. O
demônio não tolera Jesus Cristo e tenta obstaculizar de todas as maneiras
possíveis o eterno plano divino concebido para ele. É isso que acontece no
deserto.
Mas Jesus
se proclama vencedor deste príncipe: “Já não tenho muito tempo para falar com
vocês, pois o príncipe deste mundo está chegando. Ele não tem poder sobre mim”
(Jo 14, 30); é precisamente quando chega a hora de Jesus, a da sua elevação na
cruz e à direita do Pai, quando esse príncipe é derrotado: “Quem é o condenado?
É o príncipe deste mundo, que já foi condenado” (Jo 16, 11). Paulo ressalta, sobretudo, o
domínio do Ressuscitado: nele o Pai “nos arrancou do poder das trevas” (Cl 1,
13) e “destituiu os principados e autoridades, oferecendo-os em espetáculo
público, após triunfar sobre eles por meio de Cristo” (2, 15).
O cristão
passou a ser partícipe do domínio de Jesus sobre o demônio: “deu-nos a vida
juntamente com Cristo, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas.
(...) Na pessoa de Jesus Cristo, Deus nos ressuscitou e nos fez sentar no céu”
(Ef 2, 5-6).
Embora
tenha sido definitivamente derrotado pelo Senhor, o demônio segue insidiando o
homem redimido, para fazê-lo cair. Por este motivo, é preciso estar alerta. Pedro falava de seu rugido e
de sua vontade ainda não aplacada de prejudicar; Paulo nos exorta a tomar o
escudo da fé com o qual podemos apagar as “flechas inflamadas do Maligno” (Ef
6, 16). E o próprio Jesus havia ensinado a rezar pedindo ao Pai que nos
livrasse do maligno (Mt 5, 13).
*
* *
As
múltiplas exegeses sobre a serpente que aparecem nas origens nos levam a fazer
algumas considerações.
A primeira é sobre a “história”
consumada e decidida antes da criação do homem, e que consiste no estouro de
uma “grande guerra no céu” (Ap 12, 7), ou seja, em uma aceitação ou em uma
rebelião no mundo dos anjos: uma aceitação ou uma rebelião não genéricas, mas
cujo objetivo é o concreto e eterno projeto divino personificado em Jesus
Cristo.
O objeto
da orgulhosa intolerância dos anjos rebeldes é Jesus, aquele que “prevalece
sobre todas as coisas” e que, portanto, prevalece também sobre eles.
Entende-se, então, como a vida de Jesus esteve obstaculizada pela presença e
pelas maquinações do diabo; e que, por outro lado, desde o anúncio de seu
nascimento até a ascensão, esteve acompanhada, servida e consolada pela
presença dos anjos, que se alegram com ele, e com ele são vencedores do grande
dragão e de seus satélites, expulsos do céu e precipitados, com afirmava o
Apocalipse. O próprio Jesus afirmava ter visto “Satanás cair do céu como um
raio” (Lc 10, 8) e falava do “fogo eterno preparado para o Diabo e seus anjos”
(Mt 25, 41).
Falamos
da história que precede a história visível do homem: o que sabemos é que ela
aflora como de um panorama escondido, que nos ultrapassa e nos escapa, e que
agora só podemos presumir e intuir.
*
* *
A segunda consideração
refere-se ao poder impressionante de Satanás: tão forte e tenaz que só a força
do Filho de Deus pode dobrá-lo e desbaratá-lo; ou melhor dito, a força do Filho
de Deus derrotado na cruz e, portanto, em uma condição de extrema debilidade
humana converte-se, paradoxalmente e sem esforço, em potência absoluta. O diabo
consegue arrastar tudo e a todos, mas diante de Jesus sucumbe totalmente. O
Crucificado ressuscitado recria uma humanidade vencedora, afastada da
influência perversa do maligno. A força de atração do domínio é substituída
pela força de atração de Cristo, que declara: “Quando eu for levantado da
terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32). Só compartilhando a força do Jesus
morto e glorioso é que conseguimos nos opor às adulações da serpente das
origens.
Contudo,
poderia ficar uma pergunta: sem dúvida, a queda do anjo e do homem dependem
unicamente da livre vontade da criatura. Não apenas isso: o perdão do homem
estava incluído no amor misericordioso do Pai, que predestinou o seu Filho
Jesus ao papel de redentor. Então, por que a ordem concreta escolhida por Deus
inclui essa queda e, portanto, a realidade do pecado? Não estamos em condições
de responder a esta questão: pertence ao “pensamento do Senhor”, aos seus
“insondáveis desígnios” e aos seus “inescrutáveis caminhos” (Rm 11, 32-34).
*
* *
Uma terceira consideração é para
manifestar surpresa diante da ausência na pregação e na catequese da verdade
relativa ao demônio. Para não falar destes teólogos que, por um lado, aplaudem
o fato de que o Vaticano II tenha declarado que a Escritura é “alma da Sagrada
Teologia” (Dei Verbum,
24), mas que, por outro lado, não hesitam tanto em decidir sua inexistência –
como fazem com os anjos – como em considerar marginal um dado muito claro e
amplamente dado por certo na própria Escritura como é aquele que faz referência
ao demônio, considerando-o a personificação de uma obscura e primitiva ideia do
mal, agora já desmistificada e inaceitável.
Uma
concepção como esta é uma obra-prima de ideologia e equivale, sobretudo, a
banalizar a obra mesma de Cristo e seu papel de redentor.
É por
isto que as referências ao demônio que observamos nos discursos do Papa Francisco não nos
parecem secundárias.
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