sábado, 18 de maio de 2013

O Papa Francisco e o diabo



jbpsverdade: Em uma certa ocasião, um sacerdote me chamou em particular e comentou - João Batista você fala muito do diabo em suas pregações - ora, o diabo é bíblico, é uma realidade, eu costumo dizer que para se combater é preciso conhecer o oponente, caso contrário seremos derrotados e com facilidade. Alias, o que ele (diabo), deseja é ser desconhecido para poder agir livremente, é preciso conhecer as suas maquinações, seduções e armas, quando conhecemos, a vitória em Cristo torna-se mais fácil. O apóstolo Paulo escreveu na segunda carta aos corintios o seguinte: Esses tais são falsos apóstolos, operários desonestos, que se disfarçam em apóstolos de Cristo, o que não é de espantar. Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, parece bem normal que seus ministros se disfarcem em ministros de justiça, cujo fim, no entanto, será segundo as suas obras. (II Cor 11, 13ss), como então não descobrirmos as obras de satanás e combatê-lo, se não conhecê-lo? O conhecimento vem tão somente pelo Espírito Santo e não pelo conhecimemento humano. E ao conhecer, o apóstolo Paulo nos ensina como combater... Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e o reduzimos à obediência a Cristo. (II Cor 10, 4s)
Agora eu posso confirmar que a minha insistência em falar e procurar conhecê-lo não é em vão, eu louvo a Deus por isso.
xxx 
IHU - Na pregação do Papa Francisco há um tema que aparece com uma frequência surpreendente: o diabo.
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 13-05-2013. A tradução é do Cepat.
O mesmo tema se repete com uma frequência similar no Novo Testamento. Mesmo tendo isso presente, a surpresa permanece. Talvez seja porque, com suas contínuas referências ao diabo, o Papa Jorge Mario Bergoglio se afasta da pregação atual da Igreja, que: ou cala sobre o tema ou o reduz à metáfora.
Mais, a minimização do diabo está tão difundida que esta projeta sua sombra sobre as próprias palavras do Papa. Até agora, a opinião pública, tanto católica como laica, mostrou despreocupação diante da sua insistência sobre o diabo ou, no máximo, indulgente curiosidade.
Ora, uma coisa é certa. Para o Papa Bergoglio o diabo não é um mito: é uma pessoa real. Em uma de suas homilias matutinas na capela da Domus Sanctae Marthae disse que não há apenas ódio no mundo em relação a Jesus e à Igreja, mas que por trás deste espírito do mundo está “o príncipe deste mundo”: “Com sua morte e ressurreição Jesus nos resgatou do poder do mundo, do poder do diabo, do poder do príncipe deste mundo. A origem do ódio é esta: estamos salvos e esse príncipe do mundo, que não quer que sejamos salvos, nos odeia e faz nascer a perseguição, que começou nos primeiros tempos de Jesus e que continua até hoje”. É preciso reagir diante desse diabo – disse o Papa – como fez Jesus, que “respondeu com a palavra de Deus. Não podemos dialogar com o príncipe deste mundo. O diálogo entre nós é necessário; é necessário para a paz, é uma atitude que devemos ter entre nós para nos escutarmos, para nos entendermos. E deve permanentemente ser mantido. O diálogo nasce da caridade, do amor. Mas não podemos dialogar com este príncipe; podemos somente responder com a palavra de Deus que nos defende”.
Francisco fala do diabo demonstrando que tem muito claro em sua mente seus fundamentos bíblicos e teológicos.
E precisamente para refrescar a mente sobre estes fundamentos interveio, no L’Osservatore Romano, de 04 de maio, o teólogo Inos Biffi, com um artigo que recapitula a presença e o papel do diabo no Antigo e no Novo Testamento, tanto no que foi revelado e manifesto, como no que ainda pertence a um “panorama escondido” e, em definitiva, aos “caminhos impenetráveis” de Deus.
Reproduzimos este artigo na sequência, que termina com uma crítica à ideologia corrente que banaliza a pessoa do diabo. Ideologia contra a qual Bergoglio quer fazer um apelo de todos à realidade.
Como as Escrituras falam do demônio, de Inos Biffi
Após o surgimento do homem, obra do sexto dia da criação, eis que se manifesta a presença de um ser misterioso e inquietante, a serpente. Assombra e desconcerta o que esta inicia com os progenitores, e o que destes quer obter: insinuar neles a suspeita em relação a Deus, isto é, persuadi-los de que as proibições por ele colocadas provêm de seu zelo, de seu temor de que eles queiram equiparar-se a ele. A serpente encarna, precisamente no princípio do mundo e de sua história, a presença de um ser invejoso: “Pela inveja do diabo, entrou no mundo a morte” (Sb 2, 24). No Novo Testamento esta serpente é mencionada com frequência. Jesus declara que o diabo é “assassino desde o começo”; nele “não há verdade”; “quando ele fala mentira, fala do que é dele, porque ele é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). E Jesus o define como “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31; 16, 11).
Paulo afirma que “a serpente, com sua astúcia, seduziu Eva” (2 Cor 11, 3) e menciona a quem se perde “indo atrás de Satanás” (1 Tm 5, 15). O mesmo apóstolo fala do viver mundano com o qual se segue o “príncipe do poder do ar, o Espírito que agora age nos homens desobedientes” (Ef 2, 2); menciona as “manobras do diabo” e nossa batalha “contra os principados e as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal” (Ef 6, 12).
A primeira carta de Pedro nomeia o “inimigo”, “o diabo” ou o “acusador”, que “ronda como leão que ruge, procurando a quem devorar” (5, 8). E nas cartas de João se recorda o “anticristo” que deve vir (1 Jo 2, 18); o “mentiroso” que nega que Jesus é o Cristo; o “anticristo” que “nega o Pai e o Filho” (2, 22). No Apocalipse está escrito: “Aconteceu então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado, e no céu não houve mais lugar para eles. Esse grande Dragão é a antiga Serpente, é o chamado Diabo ou Satanás. É aquele que seduz todos os habitantes da terra. O Dragão foi expulso para a terra, e os Anjos do Dragão foram expulsos com ele” (12, 7-9).
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Entre estes textos e a exegese de Jesus sobre o diabo, assassino e mentiroso desde o começo, o acordo é perfeito: trata-se de um ser hostil a Deus, que quer destruir sua Palavra e, ao mesmo tempo, hostil ao homem, ao qual quer seduzir, induzindo-o a rebelar-se contra o projeto divino. É o maligno. Em especial, o acordo exegético refere-se àquele a quem o diabo reserva sua aversão, a saber: Jesus Cristo.
Situam-se assim, em antítese, duas realezas: a de Jesus e a do príncipe deste mundo. O demônio não tolera Jesus Cristo e tenta obstaculizar de todas as maneiras possíveis o eterno plano divino concebido para ele. É isso que acontece no deserto.
Mas Jesus se proclama vencedor deste príncipe: “Já não tenho muito tempo para falar com vocês, pois o príncipe deste mundo está chegando. Ele não tem poder sobre mim” (Jo 14, 30); é precisamente quando chega a hora de Jesus, a da sua elevação na cruz e à direita do Pai, quando esse príncipe é derrotado: “Quem é o condenado? É o príncipe deste mundo, que já foi condenado” (Jo 16, 11). Paulo ressalta, sobretudo, o domínio do Ressuscitado: nele o Pai “nos arrancou do poder das trevas” (Cl 1, 13) e “destituiu os principados e autoridades, oferecendo-os em espetáculo público, após triunfar sobre eles por meio de Cristo” (2, 15).
O cristão passou a ser partícipe do domínio de Jesus sobre o demônio: “deu-nos a vida juntamente com Cristo, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas. (...) Na pessoa de Jesus Cristo, Deus nos ressuscitou e nos fez sentar no céu” (Ef 2, 5-6).
Embora tenha sido definitivamente derrotado pelo Senhor, o demônio segue insidiando o homem redimido, para fazê-lo cair. Por este motivo, é preciso estar alerta. Pedro falava de seu rugido e de sua vontade ainda não aplacada de prejudicar; Paulo nos exorta a tomar o escudo da fé com o qual podemos apagar as “flechas inflamadas do Maligno” (Ef 6, 16). E o próprio Jesus havia ensinado a rezar pedindo ao Pai que nos livrasse do maligno (Mt 5, 13).
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As múltiplas exegeses sobre a serpente que aparecem nas origens nos levam a fazer algumas considerações.
A primeira é sobre a “história” consumada e decidida antes da criação do homem, e que consiste no estouro de uma “grande guerra no céu” (Ap 12, 7), ou seja, em uma aceitação ou em uma rebelião no mundo dos anjos: uma aceitação ou uma rebelião não genéricas, mas cujo objetivo é o concreto e eterno projeto divino personificado em Jesus Cristo.
O objeto da orgulhosa intolerância dos anjos rebeldes é Jesus, aquele que “prevalece sobre todas as coisas” e que, portanto, prevalece também sobre eles. Entende-se, então, como a vida de Jesus esteve obstaculizada pela presença e pelas maquinações do diabo; e que, por outro lado, desde o anúncio de seu nascimento até a ascensão, esteve acompanhada, servida e consolada pela presença dos anjos, que se alegram com ele, e com ele são vencedores do grande dragão e de seus satélites, expulsos do céu e precipitados, com afirmava o Apocalipse. O próprio Jesus afirmava ter visto “Satanás cair do céu como um raio” (Lc 10, 8) e falava do “fogo eterno preparado para o Diabo e seus anjos” (Mt 25, 41).
Falamos da história que precede a história visível do homem: o que sabemos é que ela aflora como de um panorama escondido, que nos ultrapassa e nos escapa, e que agora só podemos presumir e intuir.
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A segunda consideração refere-se ao poder impressionante de Satanás: tão forte e tenaz que só a força do Filho de Deus pode dobrá-lo e desbaratá-lo; ou melhor dito, a força do Filho de Deus derrotado na cruz e, portanto, em uma condição de extrema debilidade humana converte-se, paradoxalmente e sem esforço, em potência absoluta. O diabo consegue arrastar tudo e a todos, mas diante de Jesus sucumbe totalmente. O Crucificado ressuscitado recria uma humanidade vencedora, afastada da influência perversa do maligno. A força de atração do domínio é substituída pela força de atração de Cristo, que declara: “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32). Só compartilhando a força do Jesus morto e glorioso é que conseguimos nos opor às adulações da serpente das origens.
Contudo, poderia ficar uma pergunta: sem dúvida, a queda do anjo e do homem dependem unicamente da livre vontade da criatura. Não apenas isso: o perdão do homem estava incluído no amor misericordioso do Pai, que predestinou o seu Filho Jesus ao papel de redentor. Então, por que a ordem concreta escolhida por Deus inclui essa queda e, portanto, a realidade do pecado? Não estamos em condições de responder a esta questão: pertence ao “pensamento do Senhor”, aos seus “insondáveis desígnios” e aos seus “inescrutáveis caminhos” (Rm 11, 32-34).
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Uma terceira consideração é para manifestar surpresa diante da ausência na pregação e na catequese da verdade relativa ao demônio. Para não falar destes teólogos que, por um lado, aplaudem o fato de que o Vaticano II tenha declarado que a Escritura é “alma da Sagrada Teologia” (Dei Verbum, 24), mas que, por outro lado, não hesitam tanto em decidir sua inexistência – como fazem com os anjos – como em considerar marginal um dado muito claro e amplamente dado por certo na própria Escritura como é aquele que faz referência ao demônio, considerando-o a personificação de uma obscura e primitiva ideia do mal, agora já desmistificada e inaceitável.
Uma concepção como esta é uma obra-prima de ideologia e equivale, sobretudo, a banalizar a obra mesma de Cristo e seu papel de redentor.
É por isto que as referências ao demônio que observamos nos discursos do Papa Francisco não nos parecem secundárias.

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