Jesuíta Thomas J. Reese |
IHU - Como o Papa Francisco se posiciona diante de
uma prática controversa: negar a comunhão aos católicos? O problema, em
suma, são os católicos "fingidos".
A reflexão é do jesuíta norte-americano Thomas J. Reese, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos EUA, de 1998 a 2005, e autor de O Vaticano por dentro (Ed. Edusc, 1998). O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 30-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Quando o cardeal Joseph Ratzinger foi eleito papa,
havia muito pouco que nós não sabíamos sobre os seus pontos de vista
sobre teologia e práticas eclesiais. Ele era um teólogo prolificamente
publicado e era, no momento da sua eleição, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, onde as suas ações eram bem noticiadas.
A eleição do cardeal Jorge Bergoglio, SJ, por outro
lado, colocou no papado um arcebispo latino-americano pouco publicado e
de baixo perfil que foi uma surpresa e um mistério para a maioria das
pessoas na Igreja. Até agora, o seu estilo pastoral simples tem recebido
críticas quase universalmente positivas.
Nas próximas semanas, eu vou tentar ir mais fundo na mente do Papa Francisco,
examinando os escritos, entrevistas e homilias limitados que estão
disponíveis. Embora esse material vai nos ajudar a compreender o Papa
Francisco, ele pode, é claro, modificar os seus pontos de vista no
futuro.
Em um artigo anterior, eu examinei os seus pontos de vista sobre o
celibato opcional. Aqui vou olhar para outra prática controversa: negar a
comunhão aos católicos.
Em Sobre o Céu e a Terra (Companhia das Letras, 2013), o livro do qual ele foi coautor com o rabino Abraham Skorka, o cardeal Bergoglio escreveu: "Pode-se negar a comunhão a um pecador público que não se arrependeu, mas é muito difícil comprovar essas coisas".
Pode-se notar que ele disse "pode-se" e não "deve-se". E, como um
pastor experiente, ele ressaltou a dificuldade de comprovar se uma
pessoa é "um pecador público que não se arrependeu". Muitos bispos
norte-americanos, como os cardeais Francis George e Donald Wuerl, tomaram posições semelhantes.
Ao mesmo tempo, Bergoglio disse que seria errado
receber a comunhão por parte de alguém que, "mais do que unir o povo de
Deus, distorceu a vida de muitíssimas pessoas". Tal pessoa "não pode
comungar, seria uma contradição total".
No livro, a questão da comunhão surge não no contexto do aborto, mas
da injustiça. Ele se refere ao "que não só matou intelectual ou
fisicamente, mas também matou indiretamente pelo mau uso dos capitais,
pagando salários injustos". Ele os chama de hipócritas porque "fazem
parte de sociedades de beneficência, mas não pagam aos seus empregados o
que lhes corresponde ou os contrata de modo clandestino".
Por isso, se você paga os seus empregados de forma irregular, sem imposto de renda, então o Papa Francisco
o consideraria um católico "fingido", que sofre de hipocrisia e
esquizofrenia espirituais. Ele reconhece que há muitas dessas pessoas
"que se escondem dentro da Igreja e não vivem de acordo com a justiça
que Deus proclama". Se você é uma dessas pessoas, ele gostaria que você
se perguntasse se você está pronto para a comunhão.
O arcebispo Bergoglio era especialmente suspeito dos
católicos "fingidos" que são figuras públicas buscando aparecer na foto
na fila da comunhão. Em tais circunstâncias, "eu não dou a comunhão, eu
fico atrás, os ministros a dão, porque eu não quero que essas pessoas
se aproximem de mim para a foto".
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