Igreja Missionária Inclusiva (IMI) é a única do Estado e já existe há um ano. IMI foi fundada para fiéis fugirem do preconceito de outras Igrejas.
Do G1 AL
Em tempos de discussão sobre a “cura gay”, projeto de lei que determina
o fim da proibição, pelo Conselho Federal de Psicologia, de tratamentos
que se propõem a reverter a homossexualidade, uma igreja localizada no
bairro do Poço, em Maceió, prega exatamente o contrário: a aceitação da condição homossexual como obra de Deus, e não uma doença.
Fundada, dirigida e frequentada quase exclusivamente por homossexuais, a
Igreja Missionária Inclusiva (IMI) busca ser, como seus líderes mesmo
pregam, um oásis de aceitação e um lugar onde os cristãos LGBTT podem se
aproximar de Deus sem nenhum tipo de discriminação.
Igreja funciona no bairro do Poço, e reúne em média cerca de 20 pessoas em cada reunião. (Foto: Divulgação/IMI)
Fundada há pouco mais de um ano, a missão foi organizada pelo pastor
Gustavo Cezar Germano, 24, ex-batista, natural do Recife. De acordo com o
presbítero Bruno Albyran, que é homossexual assumido, o propósito maior
da IMI é trazer os homossexuais de volta à igreja.
“Nosso objetivo é trazer de volta essas pessoas que abandonaram o
cristianismo por não serem aceitas devido à sua sexualidade. Muitas
alegam que não queriam abandonar a igreja onde estavam, mas a homofobia
velada dentro dessas instituições tradicionais as obrigaram a isso”
explica Albyran.
Pregando este objetivo, a IMI consegue reunir cerca de 20 membros
fixos, a maioria do gênero masculino, com idades que variam entre 14 e
35 anos, de diversas denominações cristãs e até mesmo de religiões
diferentes. E, ao contrário do que possa parecer, não existe conflito
ideológico entre eles, apesar de já terem sido chamados de “falsos
profetas do apocalipse” por pastores de denominações tradicionais.
Fiéis dizem que encontraram um lugar onde
podem buscar a Deus mesmo sendo
homossexuais. (Foto: Divulgação/IMI)
podem buscar a Deus mesmo sendo
homossexuais. (Foto: Divulgação/IMI)
Essa missão inclusiva é a única do gênero em todo o estado de Alagoas.
E, por conta disso, vem enfrentando diversas dificuldades. “Nosso grupo
é formado por jovens sem renda fixa. E não temos sede própria. Além
disso, muitos membros aqui chegam com diversos problemas, alguns até
traumatizados por suas antigas igrejas, tanto que eles têm uma certa
dificuldade de acreditar que é possível ser gay e cristão.
Esse foi o caso de Rafael Lopes, 22, membro da IMI há mais de um ano.
Vindo de uma tradição cristã, e sofrendo pressão por ser o único
homossexual declarado da família, ele relutou um pouco ao conhecer a
igreja. “No começo eu tinha medo, até achava um pouco estranha. Contudo,
depois de vários convites de amigos, resolvi ir. Lá eu encontrei um
lugar de aceitação, onde posso me encontrar com Deus. Minha família me
compreende por isso, e me sinto feliz”.
A situação é semelhante à da estudante Julliana Borba, 24. Ela cresceu
em uma família que seguia a igreja Batista, mas já frequentou diversas
igrejas. “Eu não me sentia bem em nenhuma igreja tradicional, por conta
da minha condição sexual. Na IMI eu me sinto acolhida. É um bom lugar
para procurar a Deus e sentir amor”.
Seguindo a Bíblia
Assim como outras igrejas, a IMI também usa a Bíblia e tem suas normas a
respeito de como seus membros devem se relacionar. “Orientamos nossos
membros a se relacionarem de forma séria com seus companheiros, a
casarem e constituírem família. Nós queremos desconstruir a visão de que
todo gay é promíscuo e infiel. Por isso, somos a favor do casamento
civil igualitário”, explica Albyran.
Ele conclui com um desabafo. “Se nascemos gays ou héteros foi para um
propósito específico. Eu falo por mim. Nasci gay para que hoje eu
pudesse ajudar outros gays que passam pelos mesmos dramas que eu. Gays
são criação de Deus, e não uma doença que precise de cura. É como diz a
Palavra, 'Pois dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas”.
A reportagem do G1 tentou contato com diversos
pastores de denominações cristãs tradicionais, a fim de conhecer a
opinião deles ou de suas igrejas a respeito da IMI. Contudo, todos os
procurados preferiram não se manifestar sobre o assunto ou não atenderam
as ligações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário