Após 15 anos de vida religiosa, ex-missionário se casou com mato-grossense. União na igreja precisou de autorização do Papa para ser validada.
Casal está junto há cinco anos e tem uma filha
(Foto: Dhiego Maia/G1)
(Foto: Dhiego Maia/G1)
Um missionário paranaense radicado na Itália largou 15 anos de
trabalhos dedicados à igreja católica para se casar com uma
mato-grossense que conheceu pela internet. A história que mais parece
ter sido criada para uma novela é o enredo da vida de Roberto Dembiski e
Andréia de Fátima. Juntos há cinco anos em Cuiabá,
o casal diz que vai comemorar nesta quarta-feira (12), pela quinta vez,
o ‘Dia dos Namorados’ com a mesma sensação do primeiro encontro.
Para concretizar a união, no aspecto religioso, o casal precisou
receber uma autorização do então papa Bento XVI. Roberto explica que
quando optou pela carreira religiosa, quando tinha 18 anos, fez três
votos. Entre eles, o da castidade. Para se casar na igreja com Andréia, o
voto precisou ser rompido.
Ex-religioso da Ordem Missionária Servos dos Pobres, em Curitiba (PR),
Roberto diz que viveu 15 dos 38 anos de vida com muito pouco. Ele resume
o período com um lema católico. “Religiosos não têm nada, mas possuem
tudo”. Intramuros, Roberto prestou assistência aos seminaristas da
ordem, fez sepultamentos, tinha um programa de rádio e participou de
missões religiosas.
O sinal de que a carreira religiosa não estava nada bem acendeu quando
ele recebeu uma proposta para repensar a própria vida em Palermo, na
Itália, local onde surgiu no século 19 a ordem religiosa à qual ele
pertencia. “A vida religiosa é uma vida consagrada que precisa ter os
votos sempre renovados com oração, trabalho, estudo e lazer. Quando eu
percebi que esses pilares que a sustentam não estavam bem eu passei a
questionar a minha decisão”, afirmou.
O sonho de viver no país-sede da igreja católica, para Roberto, foi a
gota d’água para ele largar de vez a vida reclusa. “Eu estava preso e
bastante desmotivado na Itália. Não tinha lá a mesma vida que tinha no
Brasil. Para não viver uma vida dupla, com uma história na igreja e
outra no mundo, eu decidi sair”, revela.
A milhares de quilômetros dali, Andréia, então com 21 anos, seguia uma
vida normal em Cuiabá. Secretária de um escritório, a jovem sonhava em
encontrar alguém que a fizesse feliz, mas nunca imaginou que o meio para
isso seria o virtual. “Uma amiga que hoje é madrinha do nosso casamento
fez um cadastro em um site de relacionamento. No começo, eu achava
muito estranho, mas passei a conversar com várias pessoas e num belo dia
recebi o convite do Roberto pedindo para eu adicioná-lo”, conta.
Andreia só descobriu semanas depois que Roberto era religioso. “Um dia
ele escreveu que queria largar a batina. Eu levei um choque e fiquei
dois dias sem ligar o computador”, revela. Andréia contou ao G1 que
o maior problema do namoro virtual ocorreu quando Roberto decidiu pôr
fim às conversas. “Ela estava exigindo demais, levando muito a sério a
situação. Disse que em Cuiabá eu teria emprego e poderia morar nos
fundos da casa da mãe dela. Eu nem conhecia Cuiabá”, disse Roberto.
Roberto deixou de ser seminarista e decidiu se
casar (Foto: Roberto Dembiski/Arquivo pessoal)
casar (Foto: Roberto Dembiski/Arquivo pessoal)
“Eu chorei demais e também fiquei bastante revoltada porque eu propus
esperar todo o processo que ele tinha que fazer para deixar a vida
religiosa. Eu não saía mais por conta dele e até ali eu entendia que a
gente estava namorando de forma séria”, completou Andréia.
No dia seguinte, Roberto pediu desculpas a Andreia e decidiu voltar ao
Brasil para se casar com ela. Com a carta de renúncia endereçada ao
Papa, Roberto fez as malas e seguiu para a casa dos pais e, em seguida,
para Cuiabá. Na capital de Mato Grosso, Roberto conseguiu emprego e
esperou a liberação da igreja para selar a união no religioso com
Andréia. O documento só foi autorizado pelo Papa em julho de 2009. Um
mês depois, o casal subiu ao altar para a celebração do casamento.
Roberto afirmou à reportagem do G1 que se manteve
virgem até poucos meses antes de se casar com Andréia, quando tinha 33
anos de idade. Advindo de uma família tradicionalmente católica, o
ex-missionário não se arrepende da opção que fez ao permanecer 15 anos
na igreja. “Toda a vida da gente é feita de etapas e cada etapa é
preciso ser vivida da melhor forma. Naquele momento eu aproveitei o
máximo, mas quando vi que não estava bem, eu decidi sair”, revelou.
Atualmente, Roberto trabalha com empreendimentos da construção civil e
cursa administração. Andréia é cabeleireira e estuda psicologia. O casal
tem uma menina de quatro anos e sonha em ir à Itália. “Eu faria tudo de
novo por ele. Mas eu recomendo que as pessoas tenham cuidado ao usar a
internet para se relacionar. A nossa história é uma em um milhão que deu
certo”, ponderou Andréia
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