3 junho 2013
A inversão de valores propagada pela mídia revela um projeto incisivo de destruição da moral cristã
Os noticiários não falam de outra coisa. O liberalismo sexual, no
qual se inclui a causa gay, ganhou de vez as manchetes dos principais
jornais do país, numa avalanche que parece não ter mais freio. A
unanimidade da imprensa em decretar o novo padrão de moralidade é tão
eloquente que os mais desavisados sentem-se quase que impelidos a
concordar com ele, mesmo que a contragosto. Mas enganam-se aqueles que,
ingenuamente, atribuem essas movimentações ao curso natural da
história. Trata-se, pelo contrário, de uma agenda compacta,
determinada e amplamente financiada, cuja única meta é: minar os
fundamentos da sociedade ocidental – o direito romano, a filosofia grega
e a moral judaico-cristã – e, em última análise, a natureza humana.
Não é mais segredo para ninguém a hostilidade com que inúmeras nações
se referem ao cristianismo. Praticamente todos os programas de governos
atuais têm por política o combate aos últimos resquícios de fé católica
que ainda restam na sociedade. E essa agenda ideológica encontra eco sobretudo nas Organizações das Nações Unidas,
logicamente, a mais interessada na chamada “Nova Ordem Mundial”. Essa
perseguição sistemática à religião cristã e, mais especificamente à
Igreja Católica, se explica pelo fato de ela ser única a levantar a
bandeira da lei natural, que é a pedra no sapato dos interesses
globalistas.
Em linhas gerais, o direito natural refere-se ao que está inscrito no
próprio ser da pessoa. Isso supõe uma ponte de acesso a uma moral
humana já pré-estabelecida, com direitos e deveres naturais, conforme a
ordem da criação. Não corresponde a um direito revelado, mas a uma
verdade originária do ser humano, que através da razão indica aquilo que
é justo ou não. Essa defesa do direito natural foi o grande diferencial
do cristianismo em relação às demais religiões no início do primeiro
milênio, como assinala o Papa Emérito Bento XVI ao Parlamento Alemão, em
um dos discursos mais importantes de seu pontificado:
“Ao contrário doutras grandes religiões, o cristianismo nunca impôs ao Estado e à sociedade um direito revelado, nunca impôs um ordenamento jurídico derivado duma revelação. Mas apelou para a natureza e a razão como verdadeiras fontes do direito; apelou para a harmonia entre razão objectiva e subjectiva, mas uma harmonia que pressupõe serem as duas esferas fundadas na Razão criadora de Deus”, (Cf. Bento XVI ao Parlamento Federal da Alemanha em 2011).
A partir do último meio século, ressalta o Santo Padre, o direito
natural passou a ser menosprezado, em grande parte, devido à razão
positivista. Passou-se a considerá-lo como “uma doutrina católica
bastante singular, sobre a qual não valeria a pena discutir fora do
âmbito católico, de tal modo que quase se tem vergonha mesmo só de
mencionar o termo”. Com efeito, para o teórico positivista Hans Kelsen, a
ética deveria ser posta no âmbito do subjetivismo e, por conseguinte, o
conceito de justiça.
Criou-se, portanto, uma situação perigosa da qual o próprio Kelsen
foi vítima posteriormente, quando perseguido pelo regime nazista por ser
judeu. A justiça e a ética caíram no relativismo. Cada um julga-se a si
mesmo, julga-se o conhecedor do bem e do mal. E “quando a lei
natural e as responsabilidades que implica são negadas, – alerta outra
vez Bento XVI em uma catequese sobre Santo Tomás de Aquino – abre-se
dramaticamente o caminho para o relativismo ético no plano individual e
ao totalitarismo de Estado no plano político”. Como condenar os regimes nazistas, fascistas e comunistas por suas atrocidades se a justiça é um conceito relativo a cada um?
A Igreja condena a perversidade do relativismo justamente por essa
falsa sensação de liberdade propagandeada por ele. É a mesma liberdade
oferecida pela serpente do Éden à Eva, a falsa beleza que, na verdade, é
escravidão. Quando exposta em termos claros e diretos, a lei
natural se torna evidente e com ela, todo o arcabouço que a sustenta: o
direito romano, a filosofia grega e a moral judaico-cristã. A lei natural encontra apelo no ser humano justamente por ser verdade e estar de acordo com a razão criadora, o Creator Spiritus.
O Magistério Católico é, neste sentido, um dos únicos baluartes da
justiça e da dignidade da pessoa humana, por falar quase que solitário
em defesa da lei natural.
O trabalho da elite globalista – diga-se ONU, imprensa, ONGs
esquerdistas e etc – consiste, neste sentido, única e exclusivamente na
destruição desses pilares da lei natural. Assim, sepultam-na numa
espiral do silêncio, enquanto reproduzem na mídia uma moral totalmente
avessa e contrária à família. Desse modo, abrem espaço para a educação
das crianças pelo Estado conforme a cartilha ideológica que defendem. É
um programa totalmente voltado para a subversão e o controle
comportamental que está sendo colocado em prática, descaradamente, por
países como Estados Unidos, França, Suécia, Holanda e até mesmo o
Brasil.
Neste momento, em que a Igreja vê-se atacada por todos os lados e se
joga com a vida humana como se fosse algo qualquer e sem valor, urge o
despertar de pessoas santas, imbuídas por uma verdadeira paixão à
Verdade. Todas as grandes crises pelas quais a Igreja passou nos
últimos séculos foram enfrentadas por santos de grande valor: São Luís
Maria Grignion de Montfort, São João Maria Vianney, Santa Catarina de
Sena, São Pio X… E essa crise atual requer a mesma fibra, o mesmo
destemor e parresia com os quais aqueles santos estavam dispostos a
entregar suas vidas, suas fortunas e até mesmo os seus nomes, sem medo
da humilhação, firmes na Providência Divina e na certeza de que no
alvorecer do novo dia será de Deus a última e definitiva palavra.
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