IHU - “São Pedro não tinha conta bancária. A pregação do Evangelho é algo gratuito”. Francisco
afirmou nesta quarta-feira que com uma Igreja rica, “a Igreja
envelhece” e “não tem vida”, durante a homilia da missa que celebra
desde a sua eleição todas as manhãs na paróquia de Santa Marta.
A reportagem está publicada no sítio Religión Digital, 11-06-2013. A tradução é do Cepat.
O papa argentino, como já afirmou em outras ocasiões, reiterou a
necessidade de que a Igreja “seja testemunha da pobreza” e acrescentou
que “São Pedro não tinha conta bancária”. Em referência
à passagem da Bíblia em que Jesus pede aos seus apóstolos para que “não
levem nos cintos nem moedas de ouro ou de prata”, o Papa Jorge Bergoglio insistiu em que “a pregação do Evangelho é algo gratuito”.
O pontífice afirmou que na Igreja sempre se caiu “nesta tentação” e
“isto criou um pouco de confusão” e fez com que “o anúncio (do
Evangelho) pareça proselitismo”.
“O anúncio do Evangelho tem de ir pelo caminho da pobreza (...) Esta
pobreza nos salva de nos convertermos em organizadores e empresários.
Temos que continuar realizando os trabalhos da Igreja, mas com um
coração de pobreza, não com o coração do investimento ou do empresário,
não?”, disse Bergoglio.
Na missa, concelebrada, entre outros, pelo arcebispo Gerhard Ludwig Müller, participaram os sacerdotes e colaboradores da Congregação para a Doutrina da Fé, Francisco
indicou que o Senhor quer que o anúncio “se faça com simplicidade”,
essa simplicidade “que deixa lugar ao poder da Palavra de Deus”, porque
se os Apóstolos não tivessem tido fé na Palavra de Deus”, “talvez teriam
feito outras coisas”.
O Papa Francisco indicou a “palavra-chave” das
consignas dadas por Jesus: “o que de graças recebestes, de graças dai”.
Tudo é graça, acrescentou, e “quando nós queremos agir de tal modo que a
graça” “é deixada de lado, o Evangelho não tem eficácia”.
“A pregação evangélica nasce da gratuidade, do estupor da salvação
que chega; o que recebi gratuitamente, devo dá-lo gratuitamente”,
continuou.
“E desde o princípio isto era assim – disse: São Pedro
não tinha uma conta bancária, e quando teve que pagar os impostos, o
Senhor o mandou ao mar para pescar um peixe e encontra a moeda dentro do
peixe, para pagar. Felipe, quando se encontra com o
ministro da economia da rainha de Candace, não pensou: ‘Ah, bem... vamos
fazer uma organização para apoiar o Evangelho...’. Não! Não fez
negócios com ele: anunciou, batizou e seguiu em frente”.
O Reino de Deus, prosseguiu, “é um dom gratuito”. E revelou que,
desde as origens da comunidade cristã, esta atitude se viu submetida a
tentações.
Mais, “na Igreja sempre existiu esta tentação”, e isto cria “um pouco
de confusão”, advertiu, já que “o anúncio parece proselitismo, e por
esse caminho não se vai em frente”. O Senhor, acrescentou, “nos convidou
para anunciar, não para fazer prosélitos”.
Citando Bento XVI, destacou que “a Igreja não cresce
por proselitismo, mas por atração”. E esta atração, prosseguiu, vem do
testemunho “daqueles que desde a gratuidade anunciam a gratuidade da
salvação”.
“Tudo é graça. Tudo. E quais são os sinais de que um apóstolo vive
esta gratuidade? Há muitos, mas destacarei apenas dois: em primeiro
lugar a pobreza. O anúncio do Evangelho deve estar acompanhado da
pobreza. O testemunho desta pobreza: não tenho riquezas, minha riqueza é
apenas o dom que recebi – Deus. Esta gratuidade é nossa riqueza! E esta
pobreza nos salva de nos convertermos em organizadores e empresários...
Devem ser levadas a cabo nas obras da Igreja, e algumas são muito
complexas, mas com coração de pobreza, não com o coração do investimento
ou de um empresário, não?”.
“A Igreja – acrescentou – não é uma Ong: é outra coisa, mais
importante, e nasce desta gratuidade, recebida e anunciada”. A pobreza,
afirmou, “é um dos sinais desta gratuidade”.
O outro sinal, acrescentou o Papa Francisco, “é a
capacidade de louvor. Quando um apóstolo não vive esta gratuidade, perde
a capacidade de louvar ao Senhor”. Louvar ao Senhor “é essencialmente
gratuito, é uma oração gratuita: não pedimos, somente louvamos”.
“Estes dons são os sinais de que um apóstolo vive esta gratuidade: a
pobreza e a capacidade de louvar ao Senhor. E quando encontramos
apóstolos que querem fazer uma Igreja rica e uma Igreja sem a gratuidade
do louvor, a Igreja envelhece, a Igreja se converte em uma Ong e não
tem vida. Peçamos ao Senhor, hoje, a graça de reconhecer esta
gratuidade: ‘Gratuitamente recebestes, gratuitamente dai’. Reconheçamos
esta gratuidade, o dom de Deus. Vamos também adiante com esta gratuidade
na pregação evangélica”.
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