30 abril, 2013
O diálogo curador exige a coragem de ouvir.
Problemas existem. Dificuldades de relacionamento são relativamente
normais. Não podemos, sob nenhuma hipótese, permitir que essas
dificuldades se transformem em ressentimentos.
Existem situações que fogem ao nosso controle, que acabam por gerar
desentendimento. Mas isso jamais pode ser um obstáculo para que vivamos
como irmãos e nos amemos cada vez mais. O segredo é não deixar o
sentimento negativo se transformar em ressentimento. A verdade precisa
aparecer sempre. O grande critério para nossos relacionamentos, que tem
de estar acima de qualquer dúvida ou discussão é a verdade do Evangelho
(cf. Gl 2,14).
É preciso aprender a expressar nossos sentimentos positivos e também
os negativos. Não adianta querer se martirizar guardando tudo no
coração. Mas é preciso aprender a fabulosa arte de se expressar,
especialmente quando somos provocados por sentimentos estragados e
encardidos. Se já é difícil expressar os sentimentos bons, quanto mais
expressar corretamente os sentimentos estragados. É preciso saber como
falar e, acima de tudo, falar com objetivo de fazer crescer, de desejar a
cura do outro e não sua destruição.
Precisamos descobrir nossos sentimentos e nossas reações para
trabalhar corretamente a fim de que não se transformem em
ressentimentos. É preciso aprender a conviver com as limitações do
coração e, mais ainda, aprender a partilhar de modo positivo as emoções
negativas. A libertação é consequência de um sério esforço com esse
objetivo. Ninguém está imune ao ressentimento. Ninguém consegue
superá-lo só com alguns bons conselhos.
O ser humano vive e se abastece pelo diálogo. Esse é o modo natural
de comunicação, mas parece que nos esquecemos de algo tão óbvio e
evidente, e, diante dos problemas de relacionamento, nos fechamos num
silêncio sepulcral. Sem a coragem de dialogar não existe a menor
possibilidade de evitar que os problemas mais comuns do dia a dia acabem
por se transformar em ressentimento. Além do diálogo honesto, maduro,
franco, aberto e sincero, é preciso apresentar a Deus nossas
dificuldades de relacionamento. Tudo o que somos e tudo o que sentimos
deve ser objeto de nossas orações. A cura do ressentimento é fruto dessa
dupla dimensão da comunicação humana: diálogo com as pessoas e diálogo
com Deus (oração).
Assim como a oração precisa ser sincera, o diálogo também deve
obedecer a essa lei fundamental. Sinceridade significa estar desarmado.
Não há como um diálogo ser canal de cura se vou ao encontro do outro com
o coração armado e pronto para criticar, brigar, ofender e culpar. Isso
não é diálogo, é provocação. É claro que preciso ter a liberdade de me
expressar com a maior verdade possível. Amar é falar tudo o que penso ao
outro, mas é também poder falar sem pensar. Aliás, essa é também a
grande oração que precisamos aprender. A oração mais poderosa que
fazemos é quando temos a coragem de falar abertamente com Deus. A melhor
oração para a cura é aquela que fazemos quando não estamos rezando.
No diálogo fraterno e honesto não pode existir a intenção de ofender o
outro ou de devolver a ofensa recebida. Se existe essa intenção, é
melhor deixar para outra hora. Tudo o que falamos na hora da exaltação e
da raiva só ajuda a aumentar o problema e aprofundar a ferida. O
diálogo só é curador quando ocorre num clima de amizade fraterna, com o
objetivo de solucionar o problema, de sanar a ferida e de levar a outra
pessoa a crescer. O diálogo só é curador se ajuda quem fala e quem
escuta. Ou ajuda a curar os dois envolvidos no processo ou não é cura do
ressentimento.
Por isso, o diálogo curador exige a coragem de ouvir. É preciso se
colocar no lugar do outro, tentando enxergar o problema a partir do
ponto de vista dele, saber como o outro está vendo ou sentindo a
situação. Só existem brigas quando essas visões são absolutamente
contrárias e quando um ou os dois não conseguem dar o braço a torcer.
Padre Léo, scj
(Extraído do livro “A cura do ressentimento”)
(Extraído do livro “A cura do ressentimento”)
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