IHU - “Se não tem medo no Vaticano, por que terá aqui?”. Marina
está feliz. Acaba de chegar de Buenos Aires, depois de mais de 50 horas
de viagem num ônibus, junto com outras centenas de jovens que não
queriam perder por nada no mundo o encontro, no Rio de Janeiro, com seu compatriota Francisco. Ela, com 18 anos, fazia parte da multidão que na segunda-feira à tarde cercou Jorge Mario Bergoglio
no trajeto do aeroporto à Catedral. Marina disse que, embora as imagens
retransmitidas ao vivo por um helicóptero da televisão pudessem causar
preocupação e até medo, a sensação sobre o fato é muito diferente.
Fonte: http://goo.gl/OcunQ9 |
A reportagem é de Pablo Ordaz, publicada no jornal El País, 23-07-2013. A tradução é do Cepat.
“As pessoas não esperavam ver o Papa tão de perto,
num carro pequeno, com o vidro aberto, sorrindo, e houve uma reação
lógica, festiva, de ir abraçá-lo. Contudo, eu garanto que em nenhum
momento houve perigo. Como o Papa vai ter medo das pessoas que o querem?”.
A resposta não é tão simples. Dias antes da chegada do Papa ao Brasil, vinha se falando do difícil equilíbrio entre os anseios de Bergoglio
– nada de carros blindados, nem de ruas tomadas militarmente – e a
lógica preocupação daqueles que precisam garantir sua segurança numa
cidade e num país envolvidos num contínuo protesto, unido ao seu crônico
problema de segurança para os cidadãos. Embora o papa Francisco
tenha uma mensagem de ruptura, mais próxima dos indignados do que
daqueles que os governam, dos pobres do que daqueles que se beneficiam
da desigualdade, não deixa de ser um chefe de Estado e o líder de uma Igreja que representa, como nenhuma outra, o poder e a riqueza.
Os incidentes de segunda-feira – provocados por um erro eventual
daqueles que deveriam abrir-lhe o caminho entre o aeroporto e a Catedral
– serviram, não obstante, para reforçar a imagem de simplicidade de
quem, seja entre as pessoas que o querem ou entre as intrigas vaticanas,
não perde o sorriso, nem a determinação.
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) – que foi inaugurada oficialmente, na terça-feira, com uma missa na praia de Copacabana e com 355.000 inscritos – supõe para o Papa uma baforada de ar fresco em relação aos dias difíceis vividos no Vaticano. A detenção de monsenhor Nunzio Scarano,
envolvido junto com um agente da bolsa e um antigo espião numa operação
de tráfico de dinheiro sujo, e as notícias que revelam o passado
obscuro de dom Battista Ricca, seu recém-nomeado homem de confiança no Instituto para as Obras de religião (IOR), deixam claro que os venenos que amargaram os últimos dias de Bento XVI não desapareceram. Muito pelo contrário. Joseph Ratzinger era um intelectual tímido, isolado e bloqueado pela Cúria. Jorge Mario Bergoglio,
ao contrário, já deu mostras de que não tremerá o pulso na hora de
reformar ou eliminar, caso necessário, o banco do Vaticano ou as
viciadas estruturas econômicas do Vaticano.
Para ninguém do entorno de Francisco passou
despercebido que, na segunda-feira pela manhã, quando subiu as
escadarias do avião que o traria para o Rio de Janeiro, ele carregava
pessoalmente uma volumosa maleta preta com sua documentação pessoal.
Essa que, ainda, não pode confiar a ninguém. No seu retorno para Roma,
continuará mudando, enquanto o deixarem, as vigas enfermas da Igreja.
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