Do UOL, em Aparecida (SP)
06/07/2013
Larissa Leiros Baroni
Em entrevista exclusiva ao UOL, a poucos dias da
chegada do papa Francisco ao Brasil, dom Raymundo Damasceno Assis,
arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil), disse que o crescimento de evangélicos no Brasil e
no mundo impulsionou um "despertar" da Igreja Católica, que, na opinião
dele, estava "acomodada".
"Talvez nós tenhamos nos acomodado e pode ser que o crescimento do
movimento neopentecostal tenha nos feito acordar, nos despertar para a
nossa verdadeira missão", disse ele, que ressaltou, no entanto, o
aumento da qualidade dos católicos. "Os praticantes são muito mais
coerentes com suas práticas e praticam sua fé de modo mais convencido.
Isso é muito positivo."
No Brasil, ao mesmo tempo em que o número de evangélicos aumentou
61,45% em 10 anos, a comunidade católica sofreu uma queda de 1,3% no
índice de fieis no mesmo período. É o que aponta o último Censo
Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 2000, cerca de 26,2 milhões se disseram evangélicos. Em 2010, eles
passaram a ser 42,3 milhões. Ainda assim o país ainda segue com maioria
católica. O número de católicos foi de 123,3 milhões em 2010, cerca de
64,6% da população. No levantamento feito em 2000, eles eram 124,9
milhões, ou 73,6% dos brasileiros.
Ainda assim Damasceno diz que a eleição do papa Francisco trouxe uma
esperança para a comunidade brasileira e mundial. "Gerou muita esperança
na Igreja Católica, uma expectativa muito positiva. Mas é muito difícil
quantificar essa mudança no aumento do número de fiéis. O que a gente
percebe ouvindo e vendo é que há uma expectativa positiva, alegre e
esperançosa para o seu pontificado", complementou o presidente da CNBB,
que ressalta o acolhido do pontífice, principalmente pela capacidade de
atração que o argentino naturalmente tem.
"E isso tem sido comprovado com o aumento de romeiros e visitantes em
Roma. O número de peregrinos está aumentando cada vez mais, sobretudo
nas audiências públicas de quarta-feira e no Angelus, no domingo. Estão
falando em cerca de 200 mil pessoas por semana". Esse poder de atração é
justificado por Damasceno, principalmente por causa de sua simplicidade
e a sua informalidade que o aproximam do povo.
Mas o arcebispo brasileiro relaciona a eleição do papa Francisco à
reaproximação da Igreja Católica ao sua missão. "A igreja existe para
evangelizar. O que significa que a igreja deve cuidar daqueles que a
frequentam, que participam da vida das nossas comunidades, mas que
também precisa sair ao encontro dos que estão distantes." Ele, no
entanto, afirma que a mudança da postura da comunidade católica nada tem
a ver com o crescimento da Igreja Evangélica.
"Não é uma resposta aos evangélicos. Fazemos isso por questão de
missão, de objetivo, de finalidade. Muitas vezes nós nos acomodamos e
precisamos sair desse comodismo. Isso está muito claro na visão do papa
Francisco", completou dom Damasceno, que garantiu que a Igreja Católica
não pretende discriminar ninguém, apesar de não concordar com certos
comportamentos da atualidade, tais como o casamento gay, a eutanásia e o
divórcio.
A igreja, como ele apontou, não discrimina pessoas, "mas não pode
concordar com certas posições que se opõe ao seu ensinamento ético".
"Não podemos equiparar um casamento com duas pessoas do mesmo sexo com
outro entre um homem e uma mulher. Não é mesma coisa. Com todo respeito
aos que optam por esse caminho. A igreja também não pode aprovar a
eutanásia, porque a vida é um dom de deus. A igreja não pode aprovar o
divorcio e não pode dizer que o divorcio é um caminho normal, embora
respeite quem fez essa opção", exemplifica.
Mesmo assim quase metade dos casais homossexuais brasileiros (47,4%) se autodeclaram católicos, veja aqui, segundo os dados do Censo Demográfico 2010 divulgados pelo IBGE.
Assista um pouco da entrevista.
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