D. Geraldo Majella disse que a redução de católicos no país não é ameaça. Ao G1, ele comentou sobre expectativa da visita do Papa e da JMJ, no Rio.
18/07/2013
O cardeal Dom Geraldo Majella, durante rito que
antecedeu o conclave, reunião que escolheu o
Papa Francisco (Foto: Reprodução/TV Globo)
antecedeu o conclave, reunião que escolheu o
Papa Francisco (Foto: Reprodução/TV Globo)
A redução da população católica no Brasil não representa uma ameaça
para a igreja no país, afirma o cardeal brasileiro Dom Geraldo Majella.
Para ele, aqueles que abandonaram a instituição não tinham fé convicta
nela. "Não se perde aquilo que não se tem."
Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude, que acontece no Rio de
Janeiro na próxima semana, ele comenta que os jovens católicos do país
sofrem constantes interferências que tentam afastá-los da igreja e, por
isso, devem prestar mais atenção ao Evangelho, que pode orientá-los nas
decisões.
Em entrevista ao G1, Dom Geraldo Majella
explica ainda que a igreja não proíbe a participação de homossexuais e
que não exigirá de ninguém o abandono imediato das práticas
homossexuais, já que considera “não ser fácil passar de um caminho para
outro sem que haja uma conversão interior”.
Ele também comenta a expectativa sobre a primeira viagem internacional do Papa Francisco
e sobre o legado que a JMJ pode deixar para a igreja e a sociedade
brasileiras. Arcebispo emérito de Salvador, Majella foi um dos cinco
cardeais brasileiros que participaram do último conclave, realizado em
março, e que escolheu o argentino Jorge Mario Bergoglio como novo líder
dos católicos, assumindo o nome de Francisco. Veja os principais trechos
da entrevista:
Qual é a expectativa do senhor para a Jornada Mundial da Juventude?
Eu tenho uma expectativa de que, em primeiro lugar, os jovens são abertos. Eles têm uma disposição para ouvir, falar, então não se trata de uma juventude que é fechada a qualquer manifestação. Eles têm sido preparados, isto é, estudaram os pontos que deveriam tocar nesse tempo prévio à JMJ, de modo que tenho uma expectativa boa com relação aos jovens, [que terão] uma abertura e disponibilidade grandes.
Como o senhor analisa os jovens católicos brasileiros atualmente, sabendo que muitos recebem influências externas, de pessoas que são contrárias à instituição?
Eles recebem sugestões de toda parte, isto é, de meios que hoje que não
são isentos. Eles estão em ambientes muitas vezes contrários a qualquer
outra manifestação de fé ou de outras expectativas.
Mas isso significa que tal fato pode mudar a opinião deles a todo momento? E o que a igreja tem feito para evitar que essas ideias atrapalhem os jovens?
Não é que podem mudar, é que eles são a todo tempo interpelados não
somente pelos católicos, no caso, jovens católicos, mas também [por
pessoas] contrárias que querem fazer a cabeça dessa juventude. O que a
gente [Igreja Católica] bate e rebate [aos jovens] é o próprio
Evangelho. Não é dizendo a eles para que fechem os olhos as demais
manifestações, mas dizendo ‘olha, o mundo está nessa situação, mas da
parte do Evangelho nós temos a dizer isso’. Queremos dar a nossa
manifestação, mas sem querer obrigar a ninguém.
Qual o impacto da visita do Papa Francisco ao Brasil e para os jovens?
Eu já conheço o Papa desde muitos anos e ele é uma pessoa muito aberta
ao diálogo, muito aberta também a dar a sua resposta. Ele é muito claro e
não vai enganar a ninguém. Acho que o negócio depende do modo dele ser.
Ele é uma pessoa que conversa, fala, mas não está discute com os
outros. Uma pessoa pacífica e, com a sua presença, já vai mostrando
também o que pensa e acredita, que gostaria que as pessoas dessem também
a sua adesão. Não vai demonstrar facilidades, mas não é que ele também
queira colocar apenas as dificuldades. É um sujeito a tentações (...)
que tem uma resposta que nem sempre é do agrado do mundo, mas é uma
resposta que ele tem como convicção, de alguém que ouve a palavra de
Deus e está disposto a cooperar com ela e fazer um mundo novo.
Francisco vem ao país em um momento especial, em clima de manifestações. O que ele pode trazer de novidade ou conforto para a população brasileira?
Eu tenho a impressão, pelo que eu vejo sempre dele, que ele vai mostrar
para o mundo como é a palavra de Deus, como é a revelação de Cristo. O
que Cristo espera do cristão e espera, portanto do jovem. Ele vai
mostrar os dois caminhos: o caminho do mundo e o caminho do Evangelho.
Ele vai deixar muito claro isso.
Com os constantes gestos do novo Papa, classificados por muitos como de simplicidade, há chance da Igreja Católica ganhar força e recuperar os fiéis que ela perdeu ao longo dos anos?
Olha, essa questão de perder fiéis é uma questão que muitas vezes se
coloca como se estivéssemos disputando algo. O Evangelho não se coloca
nessa situação. Aqueles que aparentemente mudaram, nunca pertenceram [à
Igreja Católica]. Não se perde aquilo que não tem. Muitas vezes se fala
que a igreja está perdendo. Não está perdendo coisa nenhuma. [O
católico] tem que ser alguém que sabe em quem ele acreditou. Não basta
porque ele está pedindo uma graça ou alguma coisa que ele queira
receber, mas o que se espera do cristão é que ele tenha convicção. Ele
dá a sua adesão à fé, ele tem a fé. Se não tiver fé, então ele não tem a
convicção.
Em 2005, quando o senhor foi presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o senhor considerou legítima a reivindicação dos homossexuais de viver na sociedade e serem respeitados em suas diferenças, sem discriminação ou perseguição. Hoje, qual a opinião do senhor sobre a participação dos homossexuais na Igreja Católica?
Olha, o homossexualismo está sendo, mais do que nunca, discutido com
opiniões muito diversificadas. Queremos que as pessoas tenham uma
clareza na sua convicção. Agora, não é que a gente queira que,
simplesmente, as pessoas deem a sua adesão aquilo que nós temos baseado
na palavra de Deus, no Evangelho. Nós vamos expor a palavra sem que haja
uma sensação de que ele foi obrigado a isso. Se você vai falar sobre a
homossexualidade, você expõe do ponto de vista evangélico. Não vamos
chegar ao ponto de exigir a adesão da pessoa, mas que ela dê sua adesão
pelo encontro que tiver com a palavra.
Quando o senhor se refere à adesão da pessoa, significa deixar o homossexualismo?
Sim. Claro que não é fácil passar de um caminho para outro sem que haja
uma conversão interior. Que ele possa encontrar as razões da sua fé, da
sua convicção. Nós temos que apresentar a palavra de Deus, o que ela
diz sobre as situações do comportamento humano. Só isso. Nós não
obrigamos ninguém a fazer imediatamente sua profissão de fé. Porque,
naturalmente, as pessoas têm um caminho a percorrer até encontrar este
rumo novo. Não é que seja de um dia para outro.
Que marcas positivas o senhor espera que a Jornada Mundial da Juventude deixe na igreja brasileira?
Que deixe pessoas que encontraram a sua fé e quem passaram a seguir um
caminho novo. Com adesão pessoal no que ele vai fazer para caminhar
satisfeito, com alegria, não por obrigação de nada, nem por ameaç
E também acredita que vai ter impactos positivos para o país, não apenas para os católicos, mas para a sociedade?
Eu penso que sim, porque, primeiro, a movimentação vai mostrar como os
jovens estão interessados em discutir, serão apresentados como pessoas
que estão dispostas a discutir o caminho que ela vai fazer e, portanto, a
sua convicção. Isso é importante para o mundo.
Qual a mensagem que o senhor deixaria aos jovens que vão participar da Jornada Mundial da Juventude?
A minha palavra seria: de que o mundo está em grande comoção e
confusão, precisando encontrar a paz. Então é preciso que o jovem também
contribua para que os outros fiquem alertas à palavra de Deus, a um
mundo novo, um mundo de adesão, em que Deus quer que haja paz e
entendimento entre as pessoas. Que cada um seja portador de uma palavra
que possa iluminar e ajudar outras pessoas a encontrar paz, entendimento
e a fraternidade.
O Papa Francisco brinca com bebê na Praça de São Pedro, no Vaticano (Foto: Alessandra Tarantino/Reuters)
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