18 de julho de 2013
Santo Agostinho afirmou que, se Deus não soubesse tirar algo de bom do sofrimento, não permitiria jamais que esse nos atingisse.
Há um mistério profundo no sofrimento. Mistério de dor e angústia que
Jesus, pelo Seu sofrimento, transformou em mistério de salvação.
Muitos homens e mulheres mudaram de vida radicalmente por causa do
sofrimento. Desde que Jesus escolheu o caminho da dor para nos salvar, o
sofrimento passou a ser a “matéria-prima” da salvação. São Paulo falava
da “loucura da cruz para aqueles que se perdem, mas poder de Deus para
aqueles que se salvam” (citação livre de 1 Cor 1,18). De fato, o poder
invisível de Deus se manifesta no sofrimento. Cura a alma, salva o
espírito, quebranta o orgulho, elimina a vaidade, abate a opulência,
iguala os homens.
E no sofrimento que os homens mais se sentem irmãos, filhos do mesmo
Pai. E na hora amarga da dor que se valorizam a fraternidade e a
solidariedade. E nessa hora sagrada que os corações se unem, as mãos se
apertam e o filho lembra-se do Pai. Não fora o sofrimento angustiante
daquele filho pródigo do Evangelho, jamais ele teria abandonado a vida
devassa e voltado para a casa do Pai.
Sim, o sofrimento é sagrado! É nele que encontramos a nós mesmos e
encontramos os outros, sem máscaras, sem enfeites e sem enganos. Ele não
foi criado por Deus, mas Cristo lhe deu um enorme sentido. A dor e a
morte são obras trágicas do homem, frutos do seu pecado, do desejo
obstinado de querer construir a vida sem Deus. São Paulo não teve
dúvida: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6,23a). E reafirmou: “O
pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte; assim a morte passou a
todos os homens” (citação livre de Rm 5,12).
Mas Cristo veio exatamente para destruir o pecado e a morte. Como
reza a Igreja, “com a Sua morte destruiu a morte, e com a Sua
ressurreição devolveu-nos a vida” (missa do Tempo Pascal). O Senhor
bebeu o cálice da dor até a última gota, para que todo o sofrimento da
terra fosse resgatado, transformado e divinizado. Qualquer que seja a
dor, ela é parte da mesma dor do Senhor, pois Ele a assumiu na Sua santa
paixão. E por isso que São Paulo afirma: “Completo na minha carne o que
falta às tribulações de Cristo” (citação livre de Cl 1,24). Nosso
sofrimento é o mesmo sofrimento de Cristo. Assumindo nossa natureza,
pela Sua encarnação, Ele assumiu também nosso sofrimento e fez dele o
instrumento da nossa salvação. Portanto, qualquer que seja a nossa dor,
oferecida a Deus, unida à paixão de Cristo, ela é extremamente valiosa e
salvífica. “As nossas tribulações do momento são leves e nos preparam
um peso de glória eterna” (citação livre de II Cor 4,17), nos garante
São Paulo.
Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, afirmou que ”não existe
coisa mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz todas as
cruzes por Ele enviadas”. E Santa Teresa D’Ávila disse que “o mérito
consiste em sofrer e amar.
É o sofrimento que quebra em nós o ímpeto do pecado, destrói nossas
más inclinações interiores e exteriores e nos preparam para o céu.
“Os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a
glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8,18). São Francisco
chegava ao extremo de dizer: “O bem que espero é tão grande que todo
sofrimento é prazer para mim.”
Jesus nos manda: “Tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9,23c). Se
Ele assim o diz, é porque isso é o melhor para nós. Não há que
duvidarmos do Senhor. E é Ele quem sabe qual é a cruz que devemos
carregar… Não é uma livre escolha nossa. Por isso, precisamos tomá-la e
carregá-la não à força e com repugnância e lamentação, mas com
humildade, paciência e fé. Nesta vida, não teremos verdadeira paz
interior, se não abraçarmos com amor os sofrimentos, oferecendo-os a
Deus. Segundo Santo Afonso: “Essa é a condição a que estamos reduzidos
em consequência da corrupção do pecado.”
O valor do sofrimento é tamanho, que os santos consideravam como
presentes as doenças e as dores que Deus lhes mandava. Como somos
diferentes deles! São Vicente de Paulo, por exemplo, dizia: “Se
conhecêssemos o precioso tesouro contido nas doenças, recebê-las-íamos
com a alegria com que se recebem os maiores presentes.”
O sofrimento, acolhido com fé, produz a santidade. Portanto, não
devemos desesperar-nos perante ele, mas abraçá-lo na fé. Que Deus nos dê
essa grande graça. A Palavra de Deus nos diz: “Todas as coisas
concorrera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28a) e mais:
Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo” (1 Ts 5,18).
Sofrer e amar, dando graças a Deus!
Prof. Felipe Aquino

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.