3 julho 2013
Currículo de vida de Sua Santidade
Nascido em Wadovice-Cracóvia (Polônia) – 18 de maio de 1920 Ordenado sacerdote – 1º de novembro de 1946 Eleito Bispo de Ombi – 4 de julho de 1958 Consagrado Bispo – 28 de setembro de 1958 Arcebispo de Cracóvia – 13 de janeiro de 1964 Cardeal da Santa Igreja – 26 de junho de 1967 Eleito Papa – 16 de outubro de 1978 Entronizado solenemente – 22 de outubro de 1978 |
1. Dados biográficos
Data de nascimento: 18 de maio de 1920. Batizado
Karol (Carlos) Joseph, em 20 de julho do mesmo ano. Chamado pelo
diminutivo Lolek ou Lolus (Carlinhos).
Família: O pai também se chamava Karol. Karol
Wojtyla, nascido em 1879, foi oficial de intendência do exército
austríaco até a recuperação da independência da Polônia, em 1918.
Deixando o exército austríaco, ingressou no polonês e passou a exercer
funções administrativas em Wadovice. Faleceu durante a segunda guerra
mundial, em 18 de fevereiro de 1941, com 62 anos. A mãe chamava-se
Emília Kaczorowska. Faleceu quando Karol tinha apenas 9 anos, em 1929.
Teve um irmão e uma irmã, ambos mais velhos do que ele. O irmão, Edmond,
formou-se em medicina. Morreu em 1932, vítima de epidemia de
escarlatina. A irmã morreu com apenas alguns dias de vida, em 1914.
Karol foi o único sobrevivente. Aos 21 anos, ficou sem pais e sem
irmãos. A família era humilde e sofrida.
Terra natal: Wadovice, a 30 Km de Cracóvia,
considerada capital religiosa da Polônia, às margens do Skawa e no sopé
dos Beskides. Tinha em torno de nove mil habitantes em 1920, dos quais,
dois mil, mais ou menos, eram judeus. Um dos grandes amigos de Karol foi
um judeu. Este amigo testemunha que Karol, ao contrário dos demais
conterrâneos, nunca teve qualquer indelicadeza para com os judeus. Hoje,
a cidade tem quinze mil habitantes.
Infância e juventude: O amigo judeu registra que,
com 13 ou 14 anos, Karol, ajudado por um dos seus professores, fundou um
grupo de congregação mariana. Fundou também uma pequena companhia
teatral.
Em 1938, a fim de que Karol pudesse continuar os estudos, o pai
mudou-se com ele para Cracóvia. Passaram a morar num apartamento pequeno
e modesto, de apenas dois aposentos. Karol inscreveu-se na faculdade de
letras da Universidade e também na “Escola de arte dramática”. Passou a
freqüentar sua nova paróquia, dirigida pelos salesianos, que tinha
Santo Estanislau Kostka como padroeiro. Foi em Cracóvia que Karol
enfrentou as conseqüências da segunda guerra mundial. Abalada pelas
múltiplas dificuldades da guerra, a saúde do pai declinou rapidamente,
vindo a falecer em 1941. Encontrando-se sozinho na vida, Karol foi a
Wadovice e convenceu um jovem amigo e seus pais a morarem com ele em
Cracóvia. A mãe do amigo passou a cuidar da casa, o pai trabalhava de
motorneiro, e os dois jovens estudavam e faziam teatro juntos. Em 26 de
outubro de 1939, o governador ordenou serviço obrigatório para todos os
poloneses de 18 a 60 anos. Quem não estivesse empregado, não teria a
permissão alemã de livre circulação. Para fugir à perseguição do
nazismo, Karol empregou-se na usina química Solvay. Inicialmente, o
trabalho de Karol era numa pedreira, depois foi transferido para a usina
propriamente dita. Pelo teatro e por outras articulações, Karol
colaborou intensamente na resistência dos poloneses contra os invasores
nazistas. Para despistar a polícia e não ser preso, precisou deslocar-se
diversas vezes de um lugar para outro.
Vocação e Preparação ao Sacerdócio:
Deus sempre surpreende. No caso de Karol, serviu-se de um alfaiate do
quarteirão onde morava para despertar nele a vocação sacerdotal. Era um
homem simples, amigo dos pobres. Embora portador de uma doença que o
fazia definhar lentamente, sempre se manifestava alegre e feliz. Karol
repetia muitas vezes que nesse homem resplandecia a beleza de Deus. Em
outubro de 1942, Karol entrou no seminário clandestino criado pelo
Arcebispo de Cracóvia, Dom Adam Stefan Sapihea. Curiosamente, anos
antes, Karol havia dito ao Arcebispo que não queria ser padre. O
Arcebispo estava em visita a Wadovice. Foi visitar o colégio local.
Karol foi escolhido para saudá-lo. Impressionado pelas palavras de
Karol, Dom Sapihea perguntou se não havia pensado em tornar-se padre.
Disse que não, pois desejava prosseguir seus estudos de língua e
literatura polonesas na universidade. O Arcebispo concluiu: é pena. Este
rapaz irá muito longe. Naturalmente, o estudo era clandestino e à
noite. Quando, em 1944, Varsóvia se rebelou contra a invasão dos
nazistas, estes acabaram concentrando todo seu furor contra Cracóvia. O
bispo de Cracóvia acabou escondendo Karol no porão do Arcebispado, onde
passou cinco meses sem ver o sol. Foi em 1944, no dia 12 de fevereiro,
como operário e seminarista clandestino, que Karol sofreu um acidente
que quase lhe roubou a vida. Ao retornar da Solvay, foi atropelado por
um caminhão alemão. O diagnóstico médico acusou comoção cerebral com
grandes ferimentos na cabeça. Mas, um mês depois, saiu curado do
hospital.
Ordenação e ministério presbiteral: O arcebispo de
Cracóvia, Dom Sapieha, ordenou Karol presbítero no dia primeiro de
novembro de 1946. Pe. Karol celebrou sua primeira missa na igreja de sua
paróquia, junto ao altar de Maria Auxiliadora, onde, anos antes,
rezando, amadurecera sua vocação. Como padre jovem, cheio de vida,
estudava e pregava, organizava grupos de jovens e escrevia peças de
teatro e poesias, passava horas no confessionário e cantava nos corais.
Com os jovens também gostava de esquiar nos montes Tratas ou de navegar
nas torrentes do Vístula. Em 1947, o Arcebispo Sapihea enviou Pe. Karol a
Roma. Lá, por dois anos, estudou no Angelicum, universidade
eclesiástica dirigida pelos dominicanos. Aí, em 1948, obteve seu
doutorado em filosofia e moral, com tese sobre a ética em São João da
Cruz. Durante este tempo, nos fins de semana, atuava numa paróquia de
periferia, especialmente com os jovens. Durante este tempo, também,
visitou a Bélgica, onde conheceu de perto o movimento Juventude Operária
Católica (JOC), fundada pelo Pe. Cardijn. Visitou também a Holanda e a
França, onde conheceu a experiência missionária de padres no meio
operário e a participação dos leigos.
Em 1949, Pe. Karol retornou a Cracóvia, onde continuou seus estudos
para doutorar-se em teologia pela Universidade Estadual. Ao mesmo tempo,
trabalhava numa paróquia, prontificando-se a substituir todos os padres
que se encontrassem em dificuldades nas aldeias da montanha. Em 1951,
doutorou-se e habilitou-se a lecionar na Universidade de Cracóvia. Em
seguida, tornou-se professor no seminário. Em 1954, assumiu a cadeira de
filosofia na Universidade Católica de Lublin. Passou a ser assistente
dos estudantes e dos formados da Universidade de Cracóvia.
Nomeação e ministério episcopal: No dia 04 de julho
de 1958, quando tinha 12 anos de padre e 38 de idade, Pe. Karol foi
nomeado bispo auxiliar de Cracóvia, sendo consagrado no dia 28 de
setembro seguinte. Escolheu como lema “Totus Tuus”, em relação à Virgem
Maria, de um santo francês, Louis-Marie Grignion de Montfort. No dia 13
de janeiro de 1964, foi nomeado Arcebispo de Cracóvia. Bispo conciliar,
participou da comissão de redação do documento Gaudium et Spes (Alegria e
Esperança) sobre a Igreja no mundo de hoje. Pronunciou-se com
freqüência nos debates conciliares, acentuando a abertura e a prontidão
da Igreja para o diálogo com os homens em qualquer situação, a dedicação
permanente e prioritária à evangelização em linguagem própria dos
tempos atuais. Em 26 de junho de 1967, foi nomeado Cardeal pelo Papa
Paulo VI. Em outubro desse mesmo ano, deveria participar do Sínodo
Mundial de Bispos em Roma. Porém, como o Cardeal Arcebispo de Varsóvia,
Stefan Wyszynski, histórico opositor do regime comunista, não recebera
passaporte para ir a Roma para participar também do Sínodo, em
solidariedade, o Cardeal Wojtyla não foi. No Sínodo de 1969, o Cardeal
Wyszynski foi novamente escolhido como delegado pelos Bispos poloneses.
Desta vez, recebeu passaporte. Como o Cardeal Wojtyla fora convidado
pessoal do Papa para o mesmo Sínodo, os dois foram juntos. Daí para
frente, participou de todos os Sínodos (realizados de três em três
anos), sendo que no de 1971 foi eleito Secretário-Geral do próprio
Sínodo.
O Pe. e Bispo Karol Wojtyla publicou cinco livros, escreveu mais de
500 artigos, algumas comédias e diversas poesias. Falava, além do
polonês, latim, italiano, francês, inglês e alemão. Mais tarde, como
Papa, exercitou-se em vários outros idiomas, especialmente para suas
viagens apostólicas. Nas duas visitas ao Brasil, pronunciou-se em nossa
língua. Nos encontros com os Bispos brasileiros nas visitas qüinqüenais a
Roma (Visitas ad Limina), faz questão de falar em português.
Eleição e ministério papal: No dia 16 de outubro de
1978, o Cardeal Karol Wojtyla foi eleito Papa, assumindo o nome de João
Paulo II. Sucedeu a João Paulo I, falecido no dia 28 de setembro de
1978, que por apenas 33 dias dirigira a Igreja, sucedendo a Paulo VI,
falecido no dia 06 de agosto do mesmo ano. Foi o primeiro Papa polonês
da história da Igreja, o primeiro não italiano desde 1522 e o mais jovem
(58 anos) desde 1846. Sua entronização solene no ministério petrino foi
em 22 de outubro de 1978.
João Paulo II caracteriza-se como pessoa de intensa oração e de
grande atividade. Até maio de 1996, realizou 125 visitas a Dioceses da
Itália e 245 a paróquias de Roma. Fez 71 viagens apostólicas
internacionais, tendo estado em mais de cem países. Em alguns mais de
uma vez. Escreveu numerosos documentos. Tudo como se verá adiante.
Convocou e desenvolveu o Sínodo para os Bispos da Europa e da África.
Tem em vista o Sínodo para os Bispos das Américas, da Ásia e da
Oceania. Em seu pontificado foi concluída a redação do Código de Direito
Canônico, reformulado com base no Concílio Vaticano II, cuja finalidade
é “criar na sociedade eclesial uma ordem que, dando a primazia ao amor,
à graça e aos carismas, facilite ao mesmo tempo seu desenvolvimento
orgânico na vida seja da sociedade eclesial, seja de cada um de seus
membros” (Constituição de promulgação). Foi redigido e promulgado o
Catecismo da Igreja Católica, compêndio doutrinário, para servir de
“texto de referência, seguro e autêntico para o ensino da doutrina
católica, e de modo muito particular para a elaboração de catecismos
locais. É oferecido também a todos os fiéis que desejam aprofundar o
conhecimento das riquezas inexauríveis da salvação” (Cf. Jo 8,32).
Pretende dar um apoio aos esforços ecumênicos animados pelo santo desejo
da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão o conteúdo e a
harmoniosa coerência da fé católica…. é oferecido a todo o homem que nos
pergunte a razão de nossa esperança (Cf. 1 Pd 3,15) e queira conhecer
aquilo em que a Igreja Católica crê” (Constituição de promulgação).
João Paulo II realizou seis consistórios com nomeação de novos
Cardeais. Ao todo, nomeou 137, dos quais 123 estão vivos e 100 seriam
votantes (não completaram ainda oitenta anos – em março de 1995) num
conclave (reunião de cardeais para a eleição de um novo Papa). Dos 137
Cardeais nomeados por João Paulo II, 77 são da Europa (30 da Itália); 18
de América Latina; 15 da Ásia; 14 da América do Norte; 10 da África; 3
da Oceania.
Ele promoveu alguns encontros marcantes no campo do ecumenismo e do
diálogo inter-religioso. Entre eles, destaca-se o primeiro Dia Mundial
de Oração pela Paz com representantes das Igrejas Cristãs e Comunidades
Eclesiais e Religiões do Mundo, no dia 27 de outubro de 1986, em Assis,
Itália. Tomou também a iniciativa de visitar a sinagoga de Roma, no dia
13 de abril de 1986.
Manifesta um carinho especial pela juventude. Instituiu as Jornadas
Mundiais da Juventude, com dez edições até agora. Já marcou a próxima
para Paris, França, no verão de 1997.
João Paulo II já realizou muitas canonizações (declaração de
santidade de uma pessoa) e muitas beatificações. Entre as beatificações,
está a de Madre Paulina, fundadora das Irmãzinhas da Imaculada
Conceição, no dia 18 de outubro de 1991, em Florianópolis-SC. Entre as
canonizações, está a dos Mártires das Missões, Padres Roque Gonzales,
Afonso Rodrigues e João de Castilho, em Assunción, Paraguai, em maio de
1988.
João Paulo II foi também duramente provado pelo sofrimento. Em 13 de
maio de 1981, foi vítima de um atentado em plena praça São Pedro. O tiro
de que foi alvo submeteu-o a uma delicada cirurgia com extração de
parte do intestino. Em julho de 1992, precisou de uma nova internação
hospitalar. Desta vez para extirpar um pequeno tumor também no
intestino. Em 1994, em conseqüência de uma queda, fraturou o fêmur.
Em dezembro de 1994, a Revista Time elegeu João Paulo II “Homem do
ano”. Justificou assim a escolha: “em um ano em que tantas pessoas
lamentam a deterioração dos valores morais ou buscam pretextos diante de
um mau comportamento, o Papa João Paulo II levou adiante, com
determinação, sua visão de uma vida reta e convidou o mundo a fazer o
mesmo. Por essa retidão, ele é o ?Homem do ano?”. Em matéria de 25
páginas, a revista apresenta a biografia do Papa, com destaque para suas
alegrias e sofrimentos: sua angústia pela situação da Bósnia e por
outras guerras no mundo, pela decadência dos valores morais e,
sobretudo, sua preocupação com a santidade do ser humano para a qual,
segundo o texto, “o Papa é uma força moral”.
2. Diretrizes de João Paulo II em seu Ministério Petrino
No dia seguinte ao de sua eleição papal, na mensagem “urbi et orbi”
(à cidade – de Roma – e ao mundo), pronunciada diante dos Cardeais que o
elegeram, João Paulo II traçou algumas linhas básicas de seu
Pontificado:
- Permanente importância do Vaticano II:
- garantir-lhe a devida execução;
- estabelecer sintonia com ele para tornar explícito aquilo que nele está implícito;
- aprofundar particularmente a colegialidade que associa intimamente os Bispos ao sucessor de Pedro e eles entre si;
- implementar o exercício da colegialidade, através dos organismos, em parte novos e em parte atualizados, que podem garantir a união dos espíritos, das intenções e das iniciativas. Neste sentido, ocupe o primeiro lugar o Sínodo.
- Fidelidade global à missão:
- conservar intacto o depósito da fé;
- confirmar os irmãos segundo a ordem especial de Jesus a Simão Pedro;
- apascentar, como prova de amor a Jesus, os cordeiros e as ovelhas do rebanho.
- Fidelidade à grande disciplina da Igreja, que significa:
- adesão ao magistério de Pedro especialmente no campo doutrinal;
- respeito pelas normas litúrgicas vindas da autoridade eclesiástica;
- correspondência generosa às exigências da vocação sacerdotal e religiosa;
- autêntica vivência do ser cristão por parte de todos os fiéis, na obediência aos pastores sagrados e na colaboração às iniciativas e obras a que são chamados.
- A causa ecumênica.
- Liberdade religiosa e justiça no mundo:
- oferecer um contributo positivo para as causas permanentes e dominantes da paz, do progresso e da justiça internacional;
- trabalhar pela consolidação das bases espirituais sobre as quais deve apoiar-se a sociedade humana;
- estender as mãos e abrir o coração a todas as gentes e a todas as pessoas que se vêem oprimidas por alguma injustiça ou discriminação no que diz respeito, seja à economia e à vida social, seja à vida política, seja ainda à liberdade de consciência e à justa liberdade religiosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário