ihu - O Ressuscitado, apresentando-se aos discípulos, não julga o
comportamento que eles tiveram, não crítica, não condena, não lhes joga
na cara as recordações dolorosas da sua fraqueza, mas conforta e
consola.
Publicamos aqui um trecho do livro Credo: la vita eterna, de Carlo Maria Martini, organizado por G. Vigini (Ed. San Paolo). O texto foi publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 18-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O que os apóstolos podiam esperar do Ressuscitado? Eles não tinham a
consciência clara: haviam fugido, o haviam abandonado, haviam se deixado
tomar pelo medo, alguns o haviam traído, quase ninguém estava sob a
cruz. Talvez imaginavam que, se Jesus tivesse aparecido, ele os teria
repreendido e criticado. Ao invés disso, o Ressuscitado, apresentando-se
a eles, não julga o comportamento que eles tiveram, não crítica, não
condena, não lhes joga na cara as recordações dolorosas da sua fraqueza,
mas conforta e consola.
As únicas palavras de crítica dirigidas tanto aos discípulos de Emaús
(Lc 24, 25), quanto aos apóstolos (Mc 16, 14), não se referem ao fato
de que eles o abandonaram e que, depois de tantas promessas, tantas
palavras altissonantes (morremos, contigo, iremos ao teu encontro)
revelaram-se não confiáveis; referem-se, ao contrário, à sua pouca fé.
Eles deveriam ter acreditado nas Escrituras, nas suas palavras e no
Testemunho daqueles que o tinham visto ressuscitado. Jesus, que quer o
bem desses pobres apóstolos atordoados, perdidos, confusos, humilhados,
interiormente abalados pela certeza de serem tão fracos, não leva em
conta a sua fragilidade, mas os consola e os levanta.
Detenhamo-nos sobre alguns exemplos de discípulos consolados.
O primeiro está no relato de João 20,11-16: Maria Madalena que chora ao sepulcro porque se despedaçou o laço terreno com o Mestre. Jesus
não a repreende, mesmo que as suas lágrimas se devam à falta de fé, à
incompreensão do mistério do Ressuscitado. Muito delicadamente,
interpela a mulher, entra na dor que ela vive a partir da sua situação
confusa: "Por que choras? A quem procuras?". Depois, ouve a resposta
estranha e equivocada: "Diga-me onde o puseste, e eu irei buscá-lo".
Então, a chama pelo nome, "Maria!", uma palavra que a enche de
consolação e lhe permite reconhecê-lo em verdade e plenitude.
O agir de Jesus é um modelo estupendo de consolação
que, passando por cima de todos os defeitos, capta o melhor da pessoa.
Ele sabia que Maria o amava e, pronunciando o seu nome, ressuscita a
chama do seu amor.
O segundo exemplo refere-se aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Enquanto o episódio de Madalena
representa a passagem do pranto à exultação, o dos discípulos de Emaús
representa a passagem da confusão à clareza. Os dois não choram, mas
estão perdidos, desiludidos porque Jesus não reconstruiu o reino de
Israel; estão tristes com a morte do Mestre e, ao mesmo tempo, abalados
pelas notícias de algumas mulheres que afirmam que o Senhor está vivo.
Jesus aproveita a ocasião da sua desilusão e da sua confusão para
explicar as Escrituras, aquecer o coração e levá-los para diante da mesa
eucarística.
Aqui também, com infinita paciência, ele age positivamente, os
ilumina e o faz compreender o sentido, a unidade, a ordem, a coerência, a
logicidade, a necessidade dos textos sagrados. É uma espécie de lectio divina,
que esclarece e aquece o coração. Os dois discípulos, sem entender quem
era aquele que falava com eles, se diziam com espanto: reencontramos a
paz, a serenidade, o conforto; os bloqueios que nos entristeciam foram
superados, e aquelas que pareciam ser desgraças, agora sabemos lê-las
como situações providenciais. Jesus realiza uma consolação tipicamente
bíblica, que consiste em explicar, a partir das Escrituras, a razão de
uma história, de um episódio.
Ainda em Lucas 24, o Ressuscitado aparece aos
discípulos (vv. 36-42). É a passagem do medo à alegria. De fato, eles
estão cheios de medo; a própria hipótese de que Jesus
ressuscitou os assusta, e eles quase temem ser rejeitados, ouvirem
dizer: não os conheço mais, vocês são incoerentes, mentirosos,
fanfarrões.
Jesus, aqui também, não pronuncia nenhuma das
palavras que eles temiam. Com imensa paciência, faz-se reconhecer:
olhem, sou eu, toquem-me, deem-me de comer; ele se esforça para
colocá-los à vontade, apresentando-se como um deles, próximo deles, como
amigo.
Extraordinária, enfim, é a manifestação de Jesus aos discípulos no lago de Tiberíades e a conversa com Pedro,
onde a passagem é da vergonha à confiança (Jo 21, 1-19). O Ressuscitado
não critica ninguém: estando à margem do lago, aconselha como fazer uma
boa pesca e assim enche o coração dos discípulos de satisfação humana,
quase sublinhando que ele está sempre disposto a lhes ajudar.
Ainda alguns anos antes, Pedro tinha experimentado isso no lago de Tiberíades, quando tinha jogado as redes ao largo segundo a palavra do Senhor.
Quando os discípulos retornam para a orla, Jesus
lhes oferece de comer, sem dizer nada, para não apressar as coisas, para
fazer com que eles consigam se refocilar e repousar depois de terem
trabalhado toda a noite. É um toque muito delicado.
Posteriormente, por três vezes, faz a Pedro a pergunta: "Pedro, tu me amas?", que permite implicitamente que Pedro remonte à sua traição, sem nenhuma censura.
Ao contrário, ele lhe entrega o mandato, renovando-lhe totalmente a
confiança: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas".
Essa é verdadeiramente consolação real: não aproveitar da humilhação
alheia para zombar, pôr de lado, mas sim reabilitar, restaurar a
coragem, restaurar a responsabilidade. Para consolar assim, eu penso que
é preciso ser como Jesus, isto é, ter em si uma grande
alegria, um grande tesouro, porque então é fácil comunicá-lo. O Senhor,
que tem o tesouro da sua vida divina, faz cair a consolação como um
bálsamo, gota a gota. E nós, na certeza de estar em comunhão com ele,
podemos fazer cair a consolação gota a gota, sem críticas nem presunção.
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