Neste estudo não aprofundaremos intensamente o conceito de Igreja,
procuraremos, no entanto, oferecer um rápido esclarecimento para
compreendermos melhor a sua relação com Cristo. Deixaremos de abordar
temas que necessariamente deveriam ser vistos em uma definição mais
aprofundada, no entanto é nosso intento tomar apenas uma conceituação
básica que sirva de fundamento para nossa reflexão.
O conceito de Igreja não é tão fácil de ser definido. Na evolução da Igreja percebemos que ela própria aprofundou esta reflexão sobre si mesma e cresceu, como ainda cresce, na compreensão da verdade, segundo ensina a Dei Verbum: “A Igreja, pois, no decorre dos séculos, tende continuamente para plenitude da verdade divina, até que se cumpram nela as Palavras de Deus”. Neste sentido, para um melhor entendimento, façamos um mergulho do conceito de Igreja, segundo a fonte de nossa fé.
O conceito de Igreja não é tão fácil de ser definido. Na evolução da Igreja percebemos que ela própria aprofundou esta reflexão sobre si mesma e cresceu, como ainda cresce, na compreensão da verdade, segundo ensina a Dei Verbum: “A Igreja, pois, no decorre dos séculos, tende continuamente para plenitude da verdade divina, até que se cumpram nela as Palavras de Deus”. Neste sentido, para um melhor entendimento, façamos um mergulho do conceito de Igreja, segundo a fonte de nossa fé.
O conceito Bíblico-Patrístico
Nas Escrituras o termo mais forte para designar a Igreja é o termo grego
“ecclesia”. Este termo possui um duplo sentido segundo as tradições
culturais próprias, seja associado mais a cultura grega ou a cultura
judaica.
Ao considerarmos seu sentido mais associado a tradição grega, devemos uni-lo ao conceito de “polis”. Enquanto se considerarmos a tradição judaica este termo se aproxima do conceito da “qahal”. Nestes dois sentidos o termo “ecclesia” pode ser traduzido como uma certa convocação que se realiza no estado, o povo reunido segundo sua identidade para constituir-se enquanto povo.
No entanto existe uma radical diferença entre a tradição grega e a tradição judaica. À Assembléia de Israel acorriam não somente os homens, mas também as mulheres e crianças, enquanto que à Assembléia grega, neste sentido, era formada unicamente pelos homens com direito a voto. Isto porque na Assembléia grega os homens se reúnem para deliberar e decidir, enquanto na Assembléia judaica o povo se reúne para escutar a Palavra de Deus e aceitá-la.
Nas Escrituras encontramos uma forte tendência de tomar o termo “ecclesia” dentro da tradição judaica, sendo considerada uma Assembléia formada para escuta da Palavra de Deus, tomando a Assembléia do Sinai como protótipo. Esta é a indicação presente no Antigo Testamento que a Igreja nascente incorpora e torna presente no Novo Testamento.
“Assim fica claro o que significa o fato de à Igreja nascente se dar o nome de Ecclesia. Empregando este termo ela quer significar: eis que em nós se cumpriu este pedido. Cristo morto e ressuscitado é o Sinai vivo; os que se aproximam dele constituem a Assembléia, escolhida e definitiva, do Povo de Deus (cf., p. ex., Hb 12, 18-24). (…) Esta nova comunidade só se concretiza na dinâmica da congregação que provém de Cristo e é sustentada pelo Espírito, cujo centro é o Senhor, que se dá em seu próprio corpo e em seu próprio sangue”.
Encontramos então nas Escrituras esta definição, onde a Igreja é compreendida como este novo Povo de Deus, formado e reunido no Corpo de Cristo. Neste sentido, podemos definir a Igreja como Povo de Deus em virtude do Corpo de Cristo. A Igreja é o novo Povo, não nega a antiga Aliança, porém traz algo de novo. A Antiga Aliança é superada pela nova e definitiva Aliança.
“Mas a Igreja é Povo de Deus em virtude do Corpo de Cristo e é precisamente isto que a distingue como novo Povo. É o Corpo de Cristo que confere uma característica especial à existência e à unidade ao novo Povo de Deus que é a Igreja. Esta afirmação encontra seu fundamento no próprio Evangelho e no próprio Cristo. Ele mesmo escolheu os doze como para distingui-los de Israel. Cristo fundou definitivamente a Igreja celebrando a ceia com os doze e confiando-lhes algo de novo, que os distinguisse do Antigo Israel. A definição que Paulo dá de Igreja, como Corpo de Cristo, traz apenas uma formulação nova. Quanto ao mais, ela é simplesmente uma interpretação dos gestos do próprio Cristo: o novo povo recebe na ceia do Senhor a sua característica própria e é revestido por uma realidade específica”.
Como vimos Paulo, segundo os ensinamentos de Cristo, não hesita em declarar: “O Pão que partimos não é uma comunhão com o Corpo de Cristo? Visto haver um só pão, todos nós somos um só corpo; porque todos participamos deste pão único”. Desta forma no ensinamento paulino a Igreja é definida como Corpo de Cristo, que encontra na Eucaristia o seu verdadeiro fundamento. A Igreja recebe do Senhor seu Corpo e é desta forma configurada a Ele e, em conseqüência, configurada em si mesma, nos seus membros. Por isso não encontrarmos em Paulo uma diferenciação de termos para tratar quer da Igreja quer da Eucaristia, definindo tão somente como Corpo de Cristo, sem acrescentar adjetivos.
Esta será a mesma definição seguida pelos primeiros grandes pensadores da Igreja. Em toda Patrística encontramos a tendência em definir a Igreja como Corpo de Cristo: “Não podemos deixar de dizer que tanto em Paulo como nos Padres da Igreja não se encontra a expressão ‘corpus Christi Mysticum’. A Igreja era simplesmente denominada como ‘Corpo de Cristo’ (sem acrescentar qualquer adjetivo)”. Com isto encontramos a mesma linha das páginas do Novo Testamento presente nos primeiros Padres.
Podemos, seguindo o cardeal Ratzinger, definir a Igreja, no período Bíblico-Patrístico como “povo de Deus que se concentra no corpo de Cristo mediante a celebração eucarística. Talvez se pudesse falar aqui de uma concepção eclesiológico-sacramental. Assim pode ser válida a equação seguinte: ecclesia – communio = corpus Christi”.
Um texto de Inácio de Antioquia, escrito por volta do ano 110 de nossa era, ilustra esta tendência:
“Não deveis, portanto, ter com vosso Bispo senão um só e mesmo pensamento – como aliás o fazeis. Já o vosso venerável presbitério, digno de Deus, está em tanta harmonia com o vosso Bispo, como as cordas à citara. Mas também vós outros haveis de formar um coro em concórdia, em harmoniosa caridade, para que, recebendo na unidade a melodia de Deus, canteis com uma só voz por Jesus Cristo ao Pai e assim Ele vos ouça e vos reconheça, por vossas boas ações, como membros de seu Filho. Vosso interesse está em vos conservardes em unidade irrepreensível, para assim participardes sempre de Deus”.
Ao considerarmos seu sentido mais associado a tradição grega, devemos uni-lo ao conceito de “polis”. Enquanto se considerarmos a tradição judaica este termo se aproxima do conceito da “qahal”. Nestes dois sentidos o termo “ecclesia” pode ser traduzido como uma certa convocação que se realiza no estado, o povo reunido segundo sua identidade para constituir-se enquanto povo.
No entanto existe uma radical diferença entre a tradição grega e a tradição judaica. À Assembléia de Israel acorriam não somente os homens, mas também as mulheres e crianças, enquanto que à Assembléia grega, neste sentido, era formada unicamente pelos homens com direito a voto. Isto porque na Assembléia grega os homens se reúnem para deliberar e decidir, enquanto na Assembléia judaica o povo se reúne para escutar a Palavra de Deus e aceitá-la.
Nas Escrituras encontramos uma forte tendência de tomar o termo “ecclesia” dentro da tradição judaica, sendo considerada uma Assembléia formada para escuta da Palavra de Deus, tomando a Assembléia do Sinai como protótipo. Esta é a indicação presente no Antigo Testamento que a Igreja nascente incorpora e torna presente no Novo Testamento.
“Assim fica claro o que significa o fato de à Igreja nascente se dar o nome de Ecclesia. Empregando este termo ela quer significar: eis que em nós se cumpriu este pedido. Cristo morto e ressuscitado é o Sinai vivo; os que se aproximam dele constituem a Assembléia, escolhida e definitiva, do Povo de Deus (cf., p. ex., Hb 12, 18-24). (…) Esta nova comunidade só se concretiza na dinâmica da congregação que provém de Cristo e é sustentada pelo Espírito, cujo centro é o Senhor, que se dá em seu próprio corpo e em seu próprio sangue”.
Encontramos então nas Escrituras esta definição, onde a Igreja é compreendida como este novo Povo de Deus, formado e reunido no Corpo de Cristo. Neste sentido, podemos definir a Igreja como Povo de Deus em virtude do Corpo de Cristo. A Igreja é o novo Povo, não nega a antiga Aliança, porém traz algo de novo. A Antiga Aliança é superada pela nova e definitiva Aliança.
“Mas a Igreja é Povo de Deus em virtude do Corpo de Cristo e é precisamente isto que a distingue como novo Povo. É o Corpo de Cristo que confere uma característica especial à existência e à unidade ao novo Povo de Deus que é a Igreja. Esta afirmação encontra seu fundamento no próprio Evangelho e no próprio Cristo. Ele mesmo escolheu os doze como para distingui-los de Israel. Cristo fundou definitivamente a Igreja celebrando a ceia com os doze e confiando-lhes algo de novo, que os distinguisse do Antigo Israel. A definição que Paulo dá de Igreja, como Corpo de Cristo, traz apenas uma formulação nova. Quanto ao mais, ela é simplesmente uma interpretação dos gestos do próprio Cristo: o novo povo recebe na ceia do Senhor a sua característica própria e é revestido por uma realidade específica”.
Como vimos Paulo, segundo os ensinamentos de Cristo, não hesita em declarar: “O Pão que partimos não é uma comunhão com o Corpo de Cristo? Visto haver um só pão, todos nós somos um só corpo; porque todos participamos deste pão único”. Desta forma no ensinamento paulino a Igreja é definida como Corpo de Cristo, que encontra na Eucaristia o seu verdadeiro fundamento. A Igreja recebe do Senhor seu Corpo e é desta forma configurada a Ele e, em conseqüência, configurada em si mesma, nos seus membros. Por isso não encontrarmos em Paulo uma diferenciação de termos para tratar quer da Igreja quer da Eucaristia, definindo tão somente como Corpo de Cristo, sem acrescentar adjetivos.
Esta será a mesma definição seguida pelos primeiros grandes pensadores da Igreja. Em toda Patrística encontramos a tendência em definir a Igreja como Corpo de Cristo: “Não podemos deixar de dizer que tanto em Paulo como nos Padres da Igreja não se encontra a expressão ‘corpus Christi Mysticum’. A Igreja era simplesmente denominada como ‘Corpo de Cristo’ (sem acrescentar qualquer adjetivo)”. Com isto encontramos a mesma linha das páginas do Novo Testamento presente nos primeiros Padres.
Podemos, seguindo o cardeal Ratzinger, definir a Igreja, no período Bíblico-Patrístico como “povo de Deus que se concentra no corpo de Cristo mediante a celebração eucarística. Talvez se pudesse falar aqui de uma concepção eclesiológico-sacramental. Assim pode ser válida a equação seguinte: ecclesia – communio = corpus Christi”.
Um texto de Inácio de Antioquia, escrito por volta do ano 110 de nossa era, ilustra esta tendência:
“Não deveis, portanto, ter com vosso Bispo senão um só e mesmo pensamento – como aliás o fazeis. Já o vosso venerável presbitério, digno de Deus, está em tanta harmonia com o vosso Bispo, como as cordas à citara. Mas também vós outros haveis de formar um coro em concórdia, em harmoniosa caridade, para que, recebendo na unidade a melodia de Deus, canteis com uma só voz por Jesus Cristo ao Pai e assim Ele vos ouça e vos reconheça, por vossas boas ações, como membros de seu Filho. Vosso interesse está em vos conservardes em unidade irrepreensível, para assim participardes sempre de Deus”.
O conceito moderno
Este conceito é retomado nos tempos modernos, onde cada vez mais
encontramos uma retomada dos textos da Patrística e um maior crescimento
na compreensão das Escrituras. O Documento do Concílio Vaticano II
oferece a seguinte definição: “A todos os eleitos o Pai, desde a
eternidade, ‘conheceu e predestinou a serem conforme a imagem de seu
Filho, para que Ele fosse o primogênito entre muitos irmãos’ (Rm 8,29).
Assim estabeleceu congregar a Santa Igreja os que crêem em Cristo. Desde
a origem do mundo foi prefigurada. Foi admiravelmente preparada na
história do povo de Israel e na Antiga Aliança. Foi fundada nos últimos
tempos. Foi manifestada pela efusão do Espírito. E no fim dos tempos
será gloriosamente consumada, quando, segundo se lê nos santos Padres,
todos os justos desde Adão, ‘do justo Abel até o último eleito’, serão
congregados junto ao Pai na Igreja Universal”.
Com esta compreensão da Igreja, não cabe dilema entre caráter místico e caráter institucional como elementos discordantes, mas antes uma visão onde não há oposição: “Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora fora de sua visível estrutura se encontrem vários elementos de santificação e verdade. Estes elementos, como dons próprios à Igreja de Cristo, impelem à unidade católica”.
Este crescimento na compreensão do conceito de Igreja deve nos conduzir a uma visão mais ampla da Igreja que ultrapassa uma definição simplista que a reduz a uma mera instituição humana ou mesmo uma definição que gere uma dicotomia entre Místico e Físico, mas nos introduza no mistério do Corpo de Cristo, onde o antigo adágio dos Santos Padres esclareça a natureza íntima do ser Igreja: “A Igreja faz a eucaristia e é feita por Ela”.
Com esta compreensão da Igreja, não cabe dilema entre caráter místico e caráter institucional como elementos discordantes, mas antes uma visão onde não há oposição: “Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora fora de sua visível estrutura se encontrem vários elementos de santificação e verdade. Estes elementos, como dons próprios à Igreja de Cristo, impelem à unidade católica”.
Este crescimento na compreensão do conceito de Igreja deve nos conduzir a uma visão mais ampla da Igreja que ultrapassa uma definição simplista que a reduz a uma mera instituição humana ou mesmo uma definição que gere uma dicotomia entre Místico e Físico, mas nos introduza no mistério do Corpo de Cristo, onde o antigo adágio dos Santos Padres esclareça a natureza íntima do ser Igreja: “A Igreja faz a eucaristia e é feita por Ela”.
Quem pertence a Igreja?
Ser Igreja é um mistério! Não é uma simples pertença jurídica. Neste
sentido, não basta aderir a uma sociedade de normas e leis, mas trata-se
de um configuração de vida que toca toda existência. Ao afirmar-se como
Igreja, o cristão aceita a comunhão com todo o Corpo, ou seja, comunhão
com Cristo e a comunhão com os irmãos. Neste sentido as palavras do
grande teólogo Hans Urs von Balthasar são muito esclarecedoras. “Se as
coisas devem ser encaradas dessa maneira, deve-se dizer que a Igreja
estará mais presente onde houver mais fé, mais amor e mais esperança. A
Igreja estará mais presente onde houver mais abnegação de si e mais
apoio ao próximo”. Ser Igreja compromete uma forma de vida, uma postura
nova, direcionada a Cristo. “É verdade que a Igreja está cheia de
pecadores, mas enquanto pecadores, não podem ser contados na Igreja,
pois são apenas membros ‘inautênticos’, ‘aparentes’ e ‘simulados’ da
mesma. Como pecadores, as pessoas não podem exprimir adequadamente a
pertinência ao corpo único do amor”. Porém devemos acrescentar a estas
palavras o ensinamento do cardeal Ratzinger que assim as comenta: “Com
Balthasar convém acrescentar que este corpo do amor se torna manifesto
precisamente pelo fato de que nele não vale apenas a lei do ‘suportar-se
mutuamente’, mas vale também e principalmente a lei do ‘apoiar-se e do
encorajar-se mutuamente’”. Desta forma na Igreja não podemos conceber
uma santidade fechada e egoísta, mas sempre uma santidade que convida a
participação, segundo o exemplo de Cristo que sem pecado se faz pecado
por nossa salvação.
Não devemos, no entanto, reduzir a pertença a Igreja unicamente de membros perfeitos, mas conceber que a pertença a Igreja se faz mediante a resposta ao chamado de Cristo e a adesão à sua Graça. “E o fato de que haja também pecadores que pertencem à Igreja, fundamenta-se sobre a realidade do próprio Cristo, que não é, efetivamente, uma santidade fechada e egoísta, senão uma santidade missionária e salvífica”. Este mistério é ainda descrito por S. Tomás de Aquino: “A Oração dominical é recitada em nome da igreja universal. Portanto, quem a rezar, não querendo perdoar os pecados do próximo, não mente, embora não seja verdade o que diz, em seu próprio nome: porque o é, em nome da Igreja”.
A pertença a Igreja deve me conduzir cada vez mais a uma configuração a Cristo, a uma resposta a esta vocação batismal. Se pelo batismo somos incorporados a Cristo por uma marca indelével, devemos responder a esta graça com uma vivência deste batismo, uma resposta generosa ao Deus que nos chama e nos santifica pelo seu Espírito.
Esta vivência do mistério do “ser Igreja” deve desdobrar-se no amor e na doação, uma resposta que encontra no próximo o seu objetivo. Uma comunhão com toda a Igreja, não somente com a cabeça de uma forma fechada e egoísta, mas com todos os membros mediante uma santidade participada que busca a edificação do próximo. Ao indicar o caminho a seguir para seus discípulos, Cristo indicou-lhes a postura do lava-pés.
Não devemos, no entanto, reduzir a pertença a Igreja unicamente de membros perfeitos, mas conceber que a pertença a Igreja se faz mediante a resposta ao chamado de Cristo e a adesão à sua Graça. “E o fato de que haja também pecadores que pertencem à Igreja, fundamenta-se sobre a realidade do próprio Cristo, que não é, efetivamente, uma santidade fechada e egoísta, senão uma santidade missionária e salvífica”. Este mistério é ainda descrito por S. Tomás de Aquino: “A Oração dominical é recitada em nome da igreja universal. Portanto, quem a rezar, não querendo perdoar os pecados do próximo, não mente, embora não seja verdade o que diz, em seu próprio nome: porque o é, em nome da Igreja”.
A pertença a Igreja deve me conduzir cada vez mais a uma configuração a Cristo, a uma resposta a esta vocação batismal. Se pelo batismo somos incorporados a Cristo por uma marca indelével, devemos responder a esta graça com uma vivência deste batismo, uma resposta generosa ao Deus que nos chama e nos santifica pelo seu Espírito.
Esta vivência do mistério do “ser Igreja” deve desdobrar-se no amor e na doação, uma resposta que encontra no próximo o seu objetivo. Uma comunhão com toda a Igreja, não somente com a cabeça de uma forma fechada e egoísta, mas com todos os membros mediante uma santidade participada que busca a edificação do próximo. Ao indicar o caminho a seguir para seus discípulos, Cristo indicou-lhes a postura do lava-pés.
A Postura da Igreja
A passagem do Lava-pés constitui uma passagem muito interessante no
Evangelho de João. Ao compararmos a última ceia descrita neste Evangelho
com a narrativa dos sinópticos encontramos uma notável diferença. João
não narra a instituição da Eucaristia com a fórmula própria, mas em seu
lugar narra o lava-pés, narrativa exclusiva de sua obra. Muitos
estudiosos apresentam que para o Evangelho de João o discurso do
capítulo 6º trata da Eucaristia, por isso ele optou por apontar um
sentido da vivência da Eucaristia na última ceia. Assim o Lava-pés
traduziria o mistério daqueles que se colocam à mesa com Cristo. Esta é
uma interpretação muito interessante, e os adeptos desta teoria indicam
como resumo deste ensinamento o mandamento novo: “Um mandamento novo eu
vos dou: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, vós também amai-vos
uns aos outros. Nisto todos reconhecerão que são meus discípulos: no
amor que tiverdes uns para com os outros”.
Jesus é aquele que se coloca a serviço dos seus, um serviço tão humilhante que nem mesmo um escravo judeu poderia ser obrigado a realizá-lo. Foi este o exemplo que Ele escolheu para representar seu sacrifício de amor e ao terminar declara: “Se pois eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis, também vós, lavar-vos os pés uns aos outros”. Os que participam da mesa eucarística devem assumir para si o gesto de Cristo, como declara o apóstolo Paulo: “Eu vos exorto pois irmãos, em nome da misericórdia de Deus, a vos oferecerdes vós mesmos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este será o vosso culto espiritual”. Participar da Eucaristia é assumir aquilo que somos de fato, ou seja, comungamos o Corpo que somos.
Quando na fila nos apresentamos para receber a Eucaristia, o Padre ao apresentar a Hóstia declara: “Corpo de Cristo”, e nós respondemos amém. Ora, respondemos amém àquilo que somos, há algo interno e externo. Se não o somos de fato, verdadeiro também não é o nosso amém, e comemos sem diferenciar o Corpo de Cristo.
Devemos notar que o Evangelista apresenta a narrativa do Lava-pés junto a traição de Judas, realçando que Jesus sabia quem o haveria de trair, mas não faz distinção, se doa a todos de forma igual. Na Igreja devemos nos doar a todos, sem distinguir entre membros puros e impuros, entre santos e pecadores, mas ser o alimento de todos. Devemos ser o “trigo de Deus, moído pelos dentes das feras para tornar-se o Pão puro de Cristo”, segundo a antiga expressão de Inácio de Atioquia ao se encontrar próximo ao martírio. Devemos desejar ser o alimento da comunidade, ser eucaristia.
“A fórmula: ‘A Igreja é o Corpo de Cristo’ indica que a Eucaristia, na qual o senhor nos dá o seu Corpo e nos transforma em seu Corpo, é o lugar em que surge permanentemente a Igreja, o lugar em que Ele a funda sempre de novo; é na Eucaristia que a Igreja se torna Ela própria em sua fórmula mais densa – em todos os lugares e, no entanto, apenas uma, como Ele próprio é apenas um”.
Ser Igreja nos insere no mistério de ser verdadeiramente Corpo de Cristo! Não há como limitar esta doação no amor. Comungando estamos assumindo aquilo que somos, sejamos de fato para não comungarmos sem discernir o Corpo de Cristo.
Jesus é aquele que se coloca a serviço dos seus, um serviço tão humilhante que nem mesmo um escravo judeu poderia ser obrigado a realizá-lo. Foi este o exemplo que Ele escolheu para representar seu sacrifício de amor e ao terminar declara: “Se pois eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis, também vós, lavar-vos os pés uns aos outros”. Os que participam da mesa eucarística devem assumir para si o gesto de Cristo, como declara o apóstolo Paulo: “Eu vos exorto pois irmãos, em nome da misericórdia de Deus, a vos oferecerdes vós mesmos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este será o vosso culto espiritual”. Participar da Eucaristia é assumir aquilo que somos de fato, ou seja, comungamos o Corpo que somos.
Quando na fila nos apresentamos para receber a Eucaristia, o Padre ao apresentar a Hóstia declara: “Corpo de Cristo”, e nós respondemos amém. Ora, respondemos amém àquilo que somos, há algo interno e externo. Se não o somos de fato, verdadeiro também não é o nosso amém, e comemos sem diferenciar o Corpo de Cristo.
Devemos notar que o Evangelista apresenta a narrativa do Lava-pés junto a traição de Judas, realçando que Jesus sabia quem o haveria de trair, mas não faz distinção, se doa a todos de forma igual. Na Igreja devemos nos doar a todos, sem distinguir entre membros puros e impuros, entre santos e pecadores, mas ser o alimento de todos. Devemos ser o “trigo de Deus, moído pelos dentes das feras para tornar-se o Pão puro de Cristo”, segundo a antiga expressão de Inácio de Atioquia ao se encontrar próximo ao martírio. Devemos desejar ser o alimento da comunidade, ser eucaristia.
“A fórmula: ‘A Igreja é o Corpo de Cristo’ indica que a Eucaristia, na qual o senhor nos dá o seu Corpo e nos transforma em seu Corpo, é o lugar em que surge permanentemente a Igreja, o lugar em que Ele a funda sempre de novo; é na Eucaristia que a Igreja se torna Ela própria em sua fórmula mais densa – em todos os lugares e, no entanto, apenas uma, como Ele próprio é apenas um”.
Ser Igreja nos insere no mistério de ser verdadeiramente Corpo de Cristo! Não há como limitar esta doação no amor. Comungando estamos assumindo aquilo que somos, sejamos de fato para não comungarmos sem discernir o Corpo de Cristo.
Ao vivermos este mistério do ser Igreja, gozamos de uma relação
conquistada pelo próprio Cristo que nos faz esposa amada. A este
respeito, escreve o filósofo leigo Jacques Maritain, comentando Ef 5,
25-27: “Com isto Paulo nos ensina que esta grande multidão humana que se
estende por toda a terra e atravessa todos os séculos tem uma
personalidade no sentido próprio do termo; ensina-nos que a Igreja é uma
pessoa: não uma multidão dotada, num sentido todo analógico, de uma
‘personalidade moral’, mas verdadeiramente uma pessoa; e aí está seu
privilégio essencialmente sobrenatural e absolutamente único”.
A Relação entre Cristo e a Igreja nos insere diretamente no mistério do
ser Igreja, esposa de Cristo. Jesus quis purificar esta sua esposa e
constituir com ela uma relação única. Esta relação é na Graça, e para
vivermos devemos ser Igreja, no que isto exige de nós. Não podemos,
desta forma, falar de um relacionamento entre Cristo e a Igreja sem
mergulhar no relacionamento inter-eclesial, ou seja, no relacionamento
com os homens.
Conclusão
A relação única entre Cristo e a sua Igreja, querida por Ele mesmo, nos
lança na expressão a todos os irmãos, um dever de caridade
inter-eclesial. Seja de forma abrangente, no despojamento presente nos
serviços à comunidade, no ardor missionário ou no socorro aos
necessitados, ou na expressão particular, menifesto no suportar e armar
aqueles que pertencem à minha comunidade, que seguem a Cristo do meu
lado. Ao vivermos este mistério, viveremos também o mistério da relação
única de amor e intimidade que Cristo confia à sua esposa.
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