Estai preparados!(ihu)
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 19º Domingo do Tempo Comum (11 de agosto de 2013). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Sabedoria 18,6-9
2ª leitura: Hebreus 11,1-2,8-19
Evangelho: Lucas 12,32-48
Neste domingo, somos lembrados da importância da espera. E da alegria
da espera: o Senhor voltará, mas nós já o possuímos. E Ele nos enche de
felicidade: «O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem!»
Possuir desde já o que se espera
Trazemos todos no fundo de nós mesmos uma insatisfação escondida: uma
certeza confusa de que tudo poderia ser melhor, de que poderíamos ser
diferentes, de que as coisas que determinam a nossa situação atual
poderiam e deveriam ser outras. As leituras de hoje estão cheias de
referências a esta espera por uma "pátria melhor" (Hebreus 11,16). E o
que esperamos exatamente? Não sabemos. No âmbito da fé, chamamos isto de
«vida eterna» que consiste, diz Jesus, em conhecer -em sentido forte- o
Pai e Aquele que Ele enviou; o Cristo (João 17,3). Conhecer, nascer
com, para viver de sua vida. Esta é a Terra prometida para onde nos
dirigimos sem que jamais, nesta vida, cheguemos a atingi-la. Como os
Hebreus (11,13), nós a saudamos de longe, considerando-nos estrangeiros e
viajantes nesta terra. Somos locatários provisórios dos lugares em que
moramos. Mas isto não deveria nos instalar na tristeza e insatisfação?
Não, uma vez que "a fé é a garantia dos bens que se esperam e a prova
das realidades que não se veem" (Hebreus 11,1). A fé as antecipa. Quando
a prostituta de Lucas 7 manifesta seu amor de reconhecimento antes
mesmo de ter ouvido a palavra de perdão, ela copia a atitude dos Hebreus
que celebraram a Páscoa antes mesmo de terem deixado o Egito: entoaram o
hino de louvor, de ação de graças, antes mesmo de serem libertados,
"como se isto já tivesse sido feito" (1a leitura). Alegremo-nos desde
agora por aquilo em que nos tornaremos, pela vida para a qual somos
chamados.
Conservai vossas lâmpadas acesas
Nosso evangelho inscreve-se perfeitamente no contexto que acaba de
ser evocado. No versículo 32, Jesus nos recomenda não ter medo; a
renunciar, portanto, à inquietação com respeito ao futuro. A
insatisfação quanto ao nosso presente, moral, físico, espiritual,
certamente tem fundamento. Corresponde ao que somos e vivemos;
projeta-nos para o futuro. Mas insatisfação não quer dizer inquietude e
nem mesmo medo; estas duas atitudes sinalizam a ausência da fé. E por
que podemos de fato não ter medo? É Jesus quem o diz: porque «foi do
agrado do Pai dar a vós o Reino». Reino significa realização, paz
alegria. Mas leiamos de novo a frase que acabamos de citar: o Reino não é
apresentado simplesmente como promessa, mas como um dom já realizado.
Acrescente-se a isto outra palavra de Jesus: «O Reino de Deus está no
meio de vós.» Ou «entre vós», ou «em vós». O futuro está já aí,
portanto, presente já. Um pouco como o adulto está presente na criança.
Digamos que a promessa de Deus já foi realizada na medida em que cremos
nela. A nossa maneira de possuí-la é esperá-la. Espera simbolizada pelas
lâmpadas que é preciso conservar acesas. Finalmente, o que esperamos
não é alguma coisa, mas Alguém. E sua presença nos irá saciar porque é
presença do amor. Este Amor que é «o Outro», capaz de nos penetrar e de
nos transformar.
Vigiar sem descanso
Nenhum repouso nesta espera; as lâmpadas não devem se apagar jamais. É
este exatamente o sentido dos versículos 35-40. Na seqüência,
introduz-se, no entanto, um novo tema. De fato, o que pode exatamente
significar vigiar sem descanso? Será que iremos nos tornar obcecados por
esta espera, tendo apenas isto na cabeça, como um pensamento único? É
claro que não. Seria um esforço em vão e logo nos descobriríamos
incapazes de uma constância deste tipo. Já não é difícil para nós
perseverarmos em oração, em nossa participação na missa, por exemplo,
sem a menor distração? Felizmente, a partir do versículo 42, Jesus nos
explica em que consiste a espera perfeita. Não se trata de manter os
olhos fixos na porta para observar o momento da entrada do mestre, mas
de fazer o nosso trabalho conscienciosamente. Num certo sentido, a
espera do Cristo passa pelo trabalho que se nos impõe. Mas não importa
como: o desejo e a espera da vinda de Deus são como uma bem leve
coloração que afeta tudo o que vemos, sofremos e fazemos. Uma atmosfera
em que tudo está imerso. Uma espécie de distância que nos permite
dominar todas as coisas e não nos deixa afundar nas águas que não nos
são favoráveis, a não ser que permaneçamos na superfície. Se esta espera
se esvanece, somos entregues a todos os demônios. O chefe da casa (o
responsável, conforme o v. 42 do nosso texto) não se preocupa mais com o
pão dos seus empregados, mas pensa apenas em dominá-los e explorá-los
(v. 45). Ao contrário, esperar é amar.
Viver em minoria(ihu)
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de
Jesus Cristo segundo Lucas 12,32-48 que corresponde ao 19 Domingo do
Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Lucas copilou no seu evangelho palavras cheias de afeto e carinho
dirigidas por Jesus a seus seguidores e seguidoras. Muitas vezes elas
não são percebidas. Porém lidas atentamente desde nossas paroquias e
comunidades cristãs aparecem hoje com uma surpreendente atualidade. É o
que se necessita para escutar Jesus nestes tempos que não são fácies
para viver a fé.
“Meu pequeno rebanho”. Jesus olha com grande ternura para seu pequeno
grupo de seguidores. Eles são poucos. É uma vocação de minoria. Não
podem pensar em grandezas. Jesus imagina-os sempre assim: como um pouco
de fermento escondido na massa, uma pequena “luz” no meio da
obscuridade, um pouco de sal para dar sabor na vida.
Depois de séculos de “imperialismos cristãos”, os discípulos de Jesus aprenderam a viver em minoria. É um erro ter saudades de uma igreja forte e poderosa.
É um engano procurar o poder do mundo ou tentar dominar a sociedade. O
Evangelho não se impõe pela força. É contagiado por aqueles que vivem ao
estilo de Jesus fazendo a vida mais humana.
“Não tenham medo”. Essa é uma grande preocupação de
Jesus. Não quer que seus seguidores fiquem paralisados pelo medo ou
afogados pelo desalento. Eles não devem nunca perder a confiança e a
paz. Hoje, eles também são um pequeno rebanho, mas permanecendo unidos a
Jesus, seu Pastor que os guia e os defende, podem viver com paz o tempo
atual.
“O Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino”.
Jesus lembra-lhes isso ainda uma vez mais. Eles não devem sentir-se
órfãos. Tem a Deus como Pai. Ele confiou-lhes o seu projeto do Reino.
Trata-se de um grande presente. O melhor que temos em nossas comunidades
é a tarefa de que a vida seja mais humana e a esperança de conduzir a
historia à sua salvação definitiva.
“Vendam os seus bens e deem o dinheiro em esmola”. Os seguidores de
Jesus são um pequeno rebanho, mas nunca devem ser uma seita fechada em
seus próprios interesses. Não podem viver de costas às necessidades de
ninguém. Devem ser comunidades de portas abertas. Compartilham seus bens
com todos os que precisam de ajuda e solidariedade.
“Deem esmola, isto é, “misericórdia”. Este é o
significado original do termo grego. Os cristãos precisam mais tempo
para aprender a viver em minoria no meio de uma sociedade secular e
plural. Mas há algo que podem e devem fazer sem esperar nada em troca:
transformar o clima que se vive nas comunidades, tornando-o mais
evangélico. O papa Francisco nos está assinalando esse caminho com seus gestos e seu estilo de vida.
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