sábado, 10 de agosto de 2013

Reflexão da Liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum - Ano C

Estai preparados!(ihu)


A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 19º Domingo do Tempo Comum (11 de agosto de 2013). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Sabedoria 18,6-9
2ª leitura: Hebreus 11,1-2,8-19
Evangelho: Lucas 12,32-48
Neste domingo, somos lembrados da importância da espera. E da alegria da espera: o Senhor voltará, mas nós já o possuímos. E Ele nos enche de felicidade: «O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem!»

Possuir desde já o que se espera

Trazemos todos no fundo de nós mesmos uma insatisfação escondida: uma certeza confusa de que tudo poderia ser melhor, de que poderíamos ser diferentes, de que as coisas que determinam a nossa situação atual poderiam e deveriam ser outras. As leituras de hoje estão cheias de referências a esta espera por uma "pátria melhor" (Hebreus 11,16). E o que esperamos exatamente? Não sabemos. No âmbito da fé, chamamos isto de «vida eterna» que consiste, diz Jesus, em conhecer -em sentido forte- o Pai e Aquele que Ele enviou; o Cristo (João 17,3). Conhecer, nascer com, para viver de sua vida. Esta é a Terra prometida para onde nos dirigimos sem que jamais, nesta vida, cheguemos a atingi-la. Como os Hebreus (11,13), nós a saudamos de longe, considerando-nos estrangeiros e viajantes nesta terra. Somos locatários provisórios dos lugares em que moramos. Mas isto não deveria nos instalar na tristeza e insatisfação? Não, uma vez que "a fé é a garantia dos bens que se esperam e a prova das realidades que não se veem" (Hebreus 11,1). A fé as antecipa. Quando a prostituta de Lucas 7 manifesta seu amor de reconhecimento antes mesmo de ter ouvido a palavra de perdão, ela copia a atitude dos Hebreus que celebraram a Páscoa antes mesmo de terem deixado o Egito: entoaram o hino de louvor, de ação de graças, antes mesmo de serem libertados, "como se isto já tivesse sido feito" (1a leitura). Alegremo-nos desde agora por aquilo em que nos tornaremos, pela vida para a qual somos chamados.

Conservai vossas lâmpadas acesas

Nosso evangelho inscreve-se perfeitamente no contexto que acaba de ser evocado. No versículo 32, Jesus nos recomenda não ter medo; a renunciar, portanto, à inquietação com respeito ao futuro. A insatisfação quanto ao nosso presente, moral, físico, espiritual, certamente tem fundamento. Corresponde ao que somos e vivemos; projeta-nos para o futuro. Mas insatisfação não quer dizer inquietude e nem mesmo medo; estas duas atitudes sinalizam a ausência da fé. E por que podemos de fato não ter medo? É Jesus quem o diz: porque «foi do agrado do Pai dar a vós o Reino». Reino significa realização, paz alegria. Mas leiamos de novo a frase que acabamos de citar: o Reino não é apresentado simplesmente como promessa, mas como um dom já realizado. Acrescente-se a isto outra palavra de Jesus: «O Reino de Deus está no meio de vós.» Ou «entre vós», ou «em vós». O futuro está já aí, portanto, presente já. Um pouco como o adulto está presente na criança. Digamos que a promessa de Deus já foi realizada na medida em que cremos nela. A nossa maneira de possuí-la é esperá-la. Espera simbolizada pelas lâmpadas que é preciso conservar acesas. Finalmente, o que esperamos não é alguma coisa, mas Alguém. E sua presença nos irá saciar porque é presença do amor. Este Amor que é «o Outro», capaz de nos penetrar e de nos transformar.

Vigiar sem descanso

Nenhum repouso nesta espera; as lâmpadas não devem se apagar jamais. É este exatamente o sentido dos versículos 35-40. Na seqüência, introduz-se, no entanto, um novo tema. De fato, o que pode exatamente significar vigiar sem descanso? Será que iremos nos tornar obcecados por esta espera, tendo apenas isto na cabeça, como um pensamento único? É claro que não. Seria um esforço em vão e logo nos descobriríamos incapazes de uma constância deste tipo. Já não é difícil para nós perseverarmos em oração, em nossa participação na missa, por exemplo, sem a menor distração? Felizmente, a partir do versículo 42, Jesus nos explica em que consiste a espera perfeita. Não se trata de manter os olhos fixos na porta para observar o momento da entrada do mestre, mas de fazer o nosso trabalho conscienciosamente. Num certo sentido, a espera do Cristo passa pelo trabalho que se nos impõe. Mas não importa como: o desejo e a espera da vinda de Deus são como uma bem leve coloração que afeta tudo o que vemos, sofremos e fazemos. Uma atmosfera em que tudo está imerso. Uma espécie de distância que nos permite dominar todas as coisas e não nos deixa afundar nas águas que não nos são favoráveis, a não ser que permaneçamos na superfície. Se esta espera se esvanece, somos entregues a todos os demônios. O chefe da casa (o responsável, conforme o v. 42 do nosso texto) não se preocupa mais com o pão dos seus empregados, mas pensa apenas em dominá-los e explorá-los (v. 45). Ao contrário, esperar é amar.

Viver em minoria(ihu)


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 12,32-48 que corresponde ao 19 Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Lucas copilou no seu evangelho palavras cheias de afeto e carinho dirigidas por Jesus a seus seguidores e seguidoras. Muitas vezes elas não são percebidas. Porém lidas atentamente desde nossas paroquias e comunidades cristãs aparecem hoje com uma surpreendente atualidade. É o que se necessita para escutar Jesus nestes tempos que não são fácies para viver a fé.
“Meu pequeno rebanho”. Jesus olha com grande ternura para seu pequeno grupo de seguidores. Eles são poucos. É uma vocação de minoria.  Não podem pensar em grandezas. Jesus imagina-os sempre assim: como um pouco de fermento escondido na massa, uma pequena “luz” no meio da obscuridade, um pouco de sal para dar sabor na vida.
Depois de séculos de “imperialismos cristãos”, os discípulos de Jesus aprenderam a viver em minoria. É um erro ter saudades de uma igreja forte e poderosa. É um engano procurar o poder do mundo ou tentar dominar a sociedade. O Evangelho não se impõe pela força. É contagiado por aqueles que vivem ao estilo de Jesus fazendo a vida mais humana.
“Não tenham medo”. Essa é uma grande preocupação de Jesus. Não quer que seus seguidores fiquem paralisados pelo medo ou afogados pelo desalento. Eles não devem nunca perder a confiança e a paz. Hoje, eles também são um pequeno rebanho, mas permanecendo unidos a Jesus, seu Pastor que os guia e os defende, podem viver com paz o tempo atual.
“O Pai de vocês tem prazer em dar-lhes o Reino”. Jesus lembra-lhes isso ainda uma vez mais. Eles não devem sentir-se órfãos. Tem a Deus como Pai. Ele confiou-lhes o seu projeto do Reino. Trata-se de um grande presente. O melhor que temos em nossas comunidades é a tarefa de que a vida seja mais humana e a esperança de conduzir a historia à sua salvação definitiva.
“Vendam os seus bens e deem o dinheiro em esmola”. Os seguidores de Jesus são um pequeno rebanho, mas nunca devem ser uma seita fechada em seus próprios interesses. Não podem viver de costas às necessidades de ninguém. Devem ser comunidades de portas abertas. Compartilham seus bens com todos os que precisam de ajuda e solidariedade.
“Deem esmola, isto é, “misericórdia”. Este é o significado original do termo grego. Os cristãos precisam mais tempo para aprender a viver em minoria no meio de uma sociedade secular e plural. Mas há algo que podem e devem fazer sem esperar nada em troca: transformar o clima que se vive nas comunidades, tornando-o mais evangélico. O papa Francisco nos está assinalando esse caminho com seus gestos e seu estilo de vida.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...