10 setembro 2013
Confissão não é uma mera “conversa” entre sacerdote e fiel, mas o
tribunal de Deus, onde o penitente confessa nada mais que os seus
pecados, sobretudo os graves (e mortais)
Erat (Iesus) eiciens daemonium, et illud erat mutum ― «Estava (Jesus) expelindo um demônio, e ele era mudo» (Lc 11, 14).
O demônio mudo de que fala o Evangelho, significa o falso pejo com
que o espírito infernal, depois de seduzir o cristão a ofender seu Deus,
procura fazê-lo ocultar o pecado na confissão. Ah, quantas almas caem
todos os dias no inferno por este ardil diabólico! Meu irmão, se jamais o
demônio te vier tentar assim, pensa que, se é vergonhoso ofender a Deus
tão bom, não o é o confessar o pecado cometido e o livrar-se dele.
Quantos santos são venerados sobre os altares, que até fizeram uma
confissão pública!
I. O demônio mudo de que fala o Evangelho, é o falso pejo com
que o espírito infernal procura fazer-nos calar na confissão os pecados
cometidos, depois de primeiro nos ter cegado para não vermos o mal que
cometemos e a ruína que nos preparamos ofendendo a Deus. ― Com efeito,
exclama São João Crisóstomo, o demônio faz em todas as coisas o
contrário do que Deus faz. O Senhor pôs vergonha no pecado, para que o
não cometamos; mas depois de o havermos cometido, anima-nos a
confessá-lo, prometendo o perdão a quem se acusa. O demônio, ao
contrário, inspira confiança ao pecador com a esperança do perdão; mas
cometido o pecado, cobre-o de vergonha, para que se não confesse.
Por este ardil diabólico, oh, quantas almas já foram precipitadas e
ainda se precipitam cada dia no inferno! Sim, porque os miseráveis
convertem em veneno o remédio que Jesus Cristo nos preparou com seu
preciosíssimo sangue, e ficam presas com uma dupla cadeia, cometendo
depois do primeiro pecado outro mais grave: o sacrilégio.
Irmão meu, se por desgraça a tua alma está manchada pelo pecado,
escuta o que te diz o Espírito Santo: Pro anima tua ne confundaris
dicere verum (Eclo 4, 24). Sabe, diz ele, que há duas qualidades de
vergonha; deves fugir daquela que te faz inimigo de Deus, conduzindo-te
ao pecado; mas não dá que se sente ao confessá-lo e te faz receber a
graça de Deus nesta vida e a glória do paraíso na outra.
Se, pois, te queres salvar, não te envergonhes de fazer uma boa
confissão; aliás a tua alma se perderá. As feridas gangrenosas levam à
morte, e tais são os pecados calados na confissão; são chagas da alma
que se gangrenaram.
II. Meu filho, vergonhoso é o entrar nesta casa, mas não o
sair dela. Assim falou Sócrates a um seu discípulo que não quis ser
visto ao sair de uma casa suspeita. É o que digo também àqueles que,
depois de cometerem um pecado grave, têm pejo de o confessar. Meu irmão,
coisa vergonhosa é ofender a um Deus tão grande e tão bom; mas não o é
confessarmos o pecado cometido e livrar-nos dele. Foi por ventura coisa
vergonhosa para Santa Maria Madalena o confessar em público aos pés de
Jesus Cristo, que era uma mulher pecadora? Foi motivo de pejo
confessar-se uma Santa Maria Egypciaca, uma Santa Margarida de Cortona,
um Santo Agostinho, e tantos outros penitentes, que algum tempo tinham
sido grandes pecadores? Por meio de sua confissão fizeram-se santos.
Ânimo, pois, meu irmão, ânimo! (Falo a quem cometeu a falta de
ocultar por vergonha um pecado.) Tem ânimo e dize tudo a um confessor.
Dá glória a Deus, e confunde o demônio que, como diz o Evangelho, quando
saiu do homem, anda por lugares secos, buscando repouso, e não o acha. ―
Porém, depois de te teres confessado bem, prepara-te para novos e mais
violentos assaltos da parte do inimigo infernal. Ai de quem o deixa
entrar novamente, depois de o haver expulso! Et fiunt novissima hominis
illius peiora prioribus ― «O último estado do homem virá a ser pior do
que o primeiro».
Ó meu amabilíssimo Jesus! iluminai o meu espírito, afim de que nunca
mais me deixe obcecar pelo espírito maligno a cometer de novo o pecado.
Pesa-me de Vos haver ofendido, e proponho com a vossa graça antes morrer
que tornar a ofender-Vos. Mas, se por desgraça recair, dai-me força
para sempre vencer o demônio mudo e confessar-me sinceramente ao vosso
ministro. «Peço-Vos, Deus todo-poderoso, que atendais propício às minhas
humildes súplicas, e que em minha defesa estendais o braço de vossa
majestade»[1]. † Doce Coração de Maria, sede minha salvação. (*III 413.)
[1] Or. Dom. curr.
—–
Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e
Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até
Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 334-337.
Fonte: catolicostradicionais
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