Esther Paniagua e Caridade Álvarez |
02/Set/13
MADRI, (ACI/EWTN Noticias)-
As irmãs Caridade Álvarez e Esther Paniagua são duas agostinianas
missionárias que poderiam ser elevadas aos altares por terem sido
assassinadas por ódio à fé durante as revoltas de 1994 na Argélia, tal
como relataram duas das religiosas que foram testemunhas de sua
fidelidade ao Evangelho à custa de suas vidas.
Irmã María Jesus
Rodríguez Muñoz e Irmã María Paz Martín são duas agostinianas
missionárias que viveram em primeira pessoa a morte das irmãs Caridade
Álvarez e Esther Paniagua, duas missionárias assassinadas por ódio à fé
durante as revoltas da Argélia em 1994 e que atualmente estão em
processo de canonização.
Em meados dos anos 90, a Argélia se viu
envolvida em uma onda de violência. As revoltas afetaram especialmente
aos estrangeiros que viviam no país e de maneira muito particular aos
religiosos missionários que realizavam seu trabalho lá, já que era uma
comunidade minoritária.
A situação no país se tornou especialmente
violenta durante o verão de 1994. Nesses meses, por causa do
recrudescimento da violência, a embaixada da Espanha em Argel aconselhou
os espanhóis a saírem o mais rápido possível do país. O mesmo fez o
Arcebispo de Argel, Dom Henri Teissier, que pediu às comunidades
religiosas estabelecidas em sua cidade que fizessem um discernimento
para que cada um dos missionários escolhesse livremente sua estadia ou
sua partida do país, já que a situação era extremamente perigosa.
Frente
a esta situação, a irmã María Jesus Rodríguez, como superiora
provincial das Agostinianas Missionárias, decidiu visitar as três
comunidades que tinham em Argel e acompanha-las nesse discernimento que
depois resultou decisivo para suas vidas.
"Nos dias 6 e 7 de
outubro de 1994 fizemos esse discernimento. Foi um momento muito forte
de experiência de fé. Acompanhou-nos o Arcebispo de Argel e rezamos em
um ambiente sereno. Todas elas eram muito conscientes do perigo que
corriam, mas todas livremente e a nível individual decidiram ficar na
Argélia. Uma a uma foram dizendo as razões: por fidelidade ao Evangelho,
por amor ao povo argelino que lhes tinha acolhido, porque elas estavam
compartilhando fé e vida
com esse povo e não queriam fugir, queriam correr a sua mesma sorte...
Em nenhum momento queriam morrer, eram amantes da vida, mas também
amantes de seu povo e decidiram permanecer lá", explica a irmã em
declarações ao Grupo ACI.
A
então superiora permaneceu com as comunidades das Agostinianas
Missionárias durante algumas semanas. Em 23 de outubro, dia dedicado na Igreja às missões, também conhecido como 'Dia do DOMUND', a Irmã Rodríguez se encontrava com as irmãs da comunidade de Argel.
"Precisamente
no dia do Domund animei Cari a voltar para a Espanha porque estávamos
muito preocupadas com elas, mas ela me disse: 'É a minha fidelidade à
missão. Disse-lhes em casa que se acontece alguma coisa comigo, quero
que me enterrem na Argélia'. Disse-me isso uma hora e meia antes de
morrer", explica a Irmã María Jesus visivelmente emocionada.
A
irmã Esther Paniagua trabalhava em um hospital na zona de Bab el Oued e
morava na mesma comunidade que Caridade. Em 23 de outubro, Irmã Esther
tinha recebido uma visita do embaixador da Espanha na Argélia no
hospital onde trabalhava. O embaixador lhes pedia que deixassem o país.
"Contou-nos
que o embaixador queria leva-la no carro blindado e ela disse que não,
que voltaria para casa a pé, como sempre. Nesse dia Esther quando
retornou a casa trazia um livro titulado 'Tua entrega por amor'", conta a
religiosa.
Periodicamente as superioras da congregação que
estavam em Madri (Espanha) telefonavam para as comunidades de Argel para
lhes perguntar se tinham mudado de opinião depois do discernimento, ao
que -conforme conta María Jesus- sempre respondiam da mesma maneira:
"'Não se preocupem. Estamos nas mãos de Deus'. 'Mas, e se acontece
alguma coisa com vocês?', insistiam de Madri. 'Pois se nos acontece
algo, continuamos estando nas mãos de Deus', respondiam", lembra a
ex-superiora provincial com lágrimas nos olhos.
"Em uma das comunidades de Argel moravam Caridade, Esther e Lourdes e elas costumavam ir a Missa
juntas pela tarde, depois de voltar de seus respectivos trabalhos. Como
eu ainda estava com elas nesta cidade depois do retiro de
discernimento, nessa tarde da terça-feira 23 de outubro marcamos de ir a
Missa juntas, na capela que as Irmãzinhas de Foucauld tinham a poucos
metros de nossa casa", conta María Jesus. E continua explicando: "Para
ir à capela decidimos fazê-lo segundo as normas de segurança que a
embaixada nos havia dito: 'Sair sempre de dois em dois'. Por isso
primeiro foram Caridade e Esther e cinco minutos depois saímos Lourdes e
eu. Íamos a 100 metros de distância", conta María Jesus.
"Caridade
e Esther viraram a rua e as perdemos de vista. Nesse momento se
escutaram dois disparos. Instantes depois as pessoas começaram a correr e
uma senhora nos meteu em sua casa. Ouvimos um choro e soubemos que um
cristão tinha morrido. Subimos ao telhado da casa, de onde se via a
capela das Irmãs de Foucauld e vimos os corpos do Cari e Esther jogados
no chão", explica a irmã María Jesus com voz entrecortada e lágrimas nos
olhos.
Ambas morreram. Irmã Caridade estava tocando a campainha
da casa das Irmãs de Foucauld no momento do disparo, por isso seu corpo
caiu sobre a porta. Ainda hoje se encontra o buraco da bala na entrada.
As
irmãs Esther e Caridade são dois dos 19 missionários que perderam a
vida entre 1994 e 1996 na Argélia, por isso sua causa de canonização
está aberta conjuntamente. Em 1996 também foram assassinados o Bispo de
Orán (Argélia), Dom Pierre Claverie e o seu motorista, devido à explosão
de uma bomba que colocaram em sua casa.
Também morreram nessa onda de violência os monges trapenses, história em que se baseou o filme "De deuses e homens".
Irmã
María Paz Martín, que durante os anos 90 ocupava cargos de
responsabilidade dentro das Agostinianas Missionárias, contou as suas
lembranças do Jubileu das Testemunhas de Fé do século XX, em 7 de maio
do ano 2000 que o Papa João Paulo II
convocou. "Impactou-me a homilia que explicava por que era necessário
falar dos mártires. E explicava que eles são os maiores expoentes do
ecumenismo e que os jovens têm que saber quanto a fé custou aos que nos
precederam, é preciso fazer memória deles e documentada, explicava o
Papa".
A irmã María Paz explica que o amor ao país e a seu povo
que tiveram as religiosas Caridade e Esther e outros missionários que
morreram em Argel "não se explica com a Sociologia ou a antropologia. Só
é possível quando se faz um buraco no coração para o amor de Deus".
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