11 set 2013
Apesar do atual preconceito protestante no que diz respeito
aos tradicionais artigos de fé católicos, como a Comunhão dos Santos,
confissão auricular, Purgatório, Papado, sacerdócio, matrimônio
sacramental etc, pode surpreender a muitos descobrir que Martinho Lutero
era um profundo conservador em algumas de suas posições doutrinais,
como na regeneração batismal, na eucaristia e, particularmente, em
relação à Bem-Aventurada Virgem Maria.
Lutero era completamente devotado a Nossa Senhora, e crente
em todas as doutrinas tradicionais marianas. É certo que esta
constatação não é muito freqüente nas biografias protestantes sobre o
reformador, contudo, é um fato irrefutavelmente verdadeiro. Parece ser
uma tendência natural que os discípulos atuais do Protestantismo
procurem se projetar no perfil do fundador do movimento que seguem.
Saber que o Luteranismo de hoje não tem uma Mariologia muito
consistente, leva-nos a supor que também Lutero tivesse – ele mesmo –
opiniões similares com relação a este ponto.
Todavia, nós veremos, por meio de fontes escritas pelo
próprio Lutero, que os fatos históricos são bem diferentes. Para tal,
nós consideraremos citações do ex-monge nos vários aspectos da doutrina
Mariana.
Lutero (bem como os principais reformadores, por exemplo,
Calvino, Zwingli, Cranmer) aceitava a opinião de que Jesus não possuía
nenhum irmão de sangue, crendo também na doutrina tradicional da
Perpétua Virgindade de Maria, e reconhecendo seu status como Teotokos
(Mãe de Deus):
“Cristo era o único filho de Maria. Das entranhas de Maria,
nenhuma criança além dEle. Os ‘irmãos’ significam realmente ‘primos’
aqui: a Sagrada Escritura e os judeus sempre chamaram os primos de
‘irmãos’.” (Martinho Lutero, Sermões sobre João 1-4, 1534-39)
“Cristo, nosso Salvador, foi o fruto real e natural do
ventre virginal de Maria. Isto se deu sem a cooperação de um homem,
permanecendo virgem depois do parto.” (Martinho Lutero, idem.)
“Deus diz: ‘o filho de Maria é meu Filho somente.’ Desta forma, Maria é a Mãe de Deus.” (Martinho Lutero, Ibidem)
“Deus não recebeu sua divindade de Maria; todavia, não
segue que seja conseqüentemente errado afirmar que Deus foi carregado
por Maria, que Deus é filho de Maria, e que Maria é a Mãe de Deus. Ela é
a Mãe verdadeira de Deus, a portadora de Deus. Maria amamentou o
próprio Deus; ele foi embalado para dormir por ela, foi alimentado por
ela, etc. Para o Deus e para o Homem, uma só pessoa, um só filho, um só
Jesus, e não dois Cristos. Assim como o seu filho não são dois filhos…
Mesmo que tenha duas naturezas.” (Martinho Lutero, “Nos Conselhos e na
Igreja”, em 1539)
Provavelmente, a opinião mariana mais antagonista de
Lutero, seja a aceitação da Imaculada Conceição de Maria que, na época,
ainda não era artigo de fé, que só aconteceu em 1854 na Igreja Católica.
A respeito deste fato há um questionamento: sobre os aspectos técnicos
das teorias medievais sobre a concepção e sobre a alma teriam se
alterado mais tarde em Lutero? Para alguns teólogos eminentes do
Luteranismo, como Arthur Carl Piepkorn (1907-1973) do Seminário
Concórdia em São Luis, nos Estados Unidos, mantêm a aceitação da
doutrina:
“É uma opinião doce e piedosa que a infusão da alma de
Maria ocorreu sem o pecado original; de modo que, ao infundir a sua alma
imune ao pecado original, foi adornada com presentes de Deus, recebendo
uma alma pura, infusa por Deus; assim, desde o primeiro momento em que
começou a viver ela esteve livre de todo o pecado.” (Sermão: “No dia da
concepção da Mãe de Deus,” Dezembro [?] 1527, de Hartmann Grisar, S.J.
Luther, da tradução da versão do alemão para o inglês por E.M. Lamond,
editado por Luiggi Coppadelta, Londres: Kegan Paul, trincheira, Trubner,
primeira edição, 1915, Vol. IV [ de 6 ], p. 238; revisado por Werke
alemão, Erlangen, 1826-1868, editado por J.G. Plochmann e J.A.
Irmischer, editado por L. Enders, Francoforte, 1862 ff., 67 volumes;
citação 15 2 , p. 58)
“É cheia de graça, proclamada para ser inteiramente sem
pecado, algo tremendamente grande. Para que fosse cheia pela graça de
Deus com tudo de bom e para fazê-la vitoriosa sobre o diabo.” (Martinho
Lutero, Livro Pessoal de Oração, 1522)
Uma das referências mais antigas à Imaculada Conceição
aparecem no seu Sermão de Casa no Natal (1533) e em De Encontro ao
Papado de Roma (1545). Lutero não acreditava que esta doutrina deveria
ser imposta a todos os crentes, por achar que a Bíblia não ensina
explicita e formalmente sobre o assunto. Isso se justifica pela sua
teoria da “Sola Scriptura”. Mas, ele mesmo acreditava na Assunção
corpórea de Maria ao céu – crença que nunca renegou, embora criticasse
excessos na celebração desta festa. No seu sermão em 15 de agosto de
1522, quando pregava pela última vez na festa da Assunção, afirmou:
“Não se pode haver nenhuma dúvida que a Virgem Maria está
no céu. Como isso aconteceu, nós não sabemos. E já que o Espírito Santo
não nos revelou nada sobre isso, não podemos fazer disso um artigo de
fé. É suficiente sabermos que ela vive em Cristo.”
Lutero era favorável à pratica devocional da veneração a Maria e expressou isso em inúmeras ocasiões com veemência:
“A veneração de Maria está inscrita no mais profundo do coração humano.” (Martinho Lutero, Sermão em 1º de setembro de 1522.)
“Maria é a mulher mais elevada e a pedra preciosa mais
nobre no Cristianismo depois de Cristo… Ela é a nobreza, a sabedoria e a
santidade personificadas. Nós não poderemos jamais honrá-la o bastante.
Contudo, a honra e os louvores devem ser dados de tal forma que não
ferem a Cristo nem às Escrituras.” (Martinho Lutero, Sermão na Festa da
Visitação em 1537.)
“Nenhuma mulher é como tu! És mais que Eva ou Sara,
sobretudo, pela nobreza, bem-aventurança, sabedoria e santidade!”
(Martinho Lutero, Sermão na Festa da Visitação em 1537.)
“Devemos honrar Maria como ela mesma desejou e expressou no
Magnificat. Louvou a Deus por suas obras. Como, então, podemos nós a
exaltá-la? A honra verdadeira de Maria é a honra a Deus, louvor à graça
de Deus. Maria não é nada para si mesma, mas para a causa de Cristo.
Maria não deseja com isso que nós a contemplemos, mas, através dela,
Deus.” (Martinho Lutero, Explicação do Magnificat, em 1521.)
Lutero vai além: dá à Bem-Aventurada Virgem Exaltada a posição de “Mãe Espiritual” para os cristãos.
Uma coisa é certa: a rejeição dos protestantes atuais à Mãe de Deus é novidade, coisa recente…
“É a consolação e a bondade superabundante de Deus, o homem
pode exultar por tal tesouro: Maria é sua verdadeira mãe, Jesus é seu
irmão, Deus é seu Pai.” (Martinho Lutero, Sermão de Natal de 1522.)
“Maria é a Mãe de Jesus e a Mãe de todos nós, embora fosse
só Cristo quem repousou no colo dela… Se ele é nosso, deveríamos estar
na situação dele; lá onde ele está, nós também devemos estar e tudo
aquilo que ele tem deveria ser nosso. Portanto, a mãe dele também é
nossa mãe..” (Martinho Lutero, Sermão de Natal de 1529.)
Fonte: SEXUGI, Fábio Alexandro. A devoção de Martinho Lutero a Maria.
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