Todos os cristãos crêem que Maria era virgem quando deu à luz a
Jesus. “Mas Maria disse ao anjo: ‘Como pode ser isso se não conheço
varão?’ E o anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o
poder do Altíssimo te encobrirá. Então a criança que irá nascer será
chamada santa, o Filho de Deus’” (Lucas 1,34-35).
Quando José ficou sabendo que Maria estava grávida, ele já era noivo
dela, embora ainda não vivessem juntos. Ele quis romper o compromisso
pois sabia que aquela criança não era sua.
“Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele
em sonho, dizendo: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua
mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mateus 1,20).
Tudo isto foi previsto no Antigo Testamento e aconteceu para que se
cumprissem as profecias dadas por Deus ao povo judeu: “Pois sabei que o
Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem concebeu e dará à luz
um filho e pôr-lhe-á o nome de Emanuel” (Isaías 7,14).
O ensinamento da Bíblia sobre esta matéria é tão claro que todas as
denominações cristãs concordam sobre a sua interpretação. Os católicos
crêem que Maria permaneceu virgem e não teve outros filhos. Algumas
denominações, porém, afirmam que Maria teve outros filhos. Elas dizem
isto por causa que a Bíblia às vezes menciona os “irmãos do Senhor”.
Mas, nos tempos bíblicos, todos os membros da família, inclusive primos,
eram considerados “irmãos”. E também vemos que, na Bíblia, o termo
“irmão” é várias vezes usado para se referir a pessoas que não são
irmãos no mesmo sentido em que entendemos a palavra hoje. Eis alguns
exemplos bíblicos:
Gênese 14,14: “Quando Abrão soube que seu IRMÃO fora levado
prisioneiro, fez sair seus aliados, seus familiares, em número de
trezentos e dezoito, e deu perseguição até Dã”.
O “irmão” em questão nesta passagem é Lot. Mas, era Lot irmão de
Abrão? Não. Ele era o filho de Arão, irmão falecido de Abrão (v. Gênese
11,26-28). Portanto, Lot era sobrinho de Abrão.
Gênese 29,15: “Então Labão disse a Jacó: ‘Por seres meu IRMÃO,
irás servir-me de graça? Indica-me qual deve ser teu salário”.
Acaso era Labão irmão de Jacó? Não, ele era seu tio.
A explicação, então, é simples: não existe palavra hebraica ou
aramaica para “parente”. Os escritores teriam assim que usar os termos
“irmão” ou “irmã”, ou escrever “o filho da irmã do meu pai”. É evidente
que preferiam usar a palavra “irmão”.
Assim voce vê que, em termos bíblicos, “irmão”, “irmã” e “irmãos”
pode significa parentes próximos, parentes de sangue ou até mesmo amigos
íntimos como, por exemplo:
1Reis 9,13: “Ele disse: ‘Que cidades são estas que me deste, meu
irmão?’ E deu-lhes o nome de ‘terra de Cabul’, que persiste até hoje”.
2Samuel 1,26: “Tenho o coração apertado por tua causa, meu irmão
Jônatas. Tu eras imensamente querido, a tua amizade me era mais cara do
que o amor das mulheres”.
Também pode significar um aliado:
Amós 1,9: “Assim falou Javé: ‘Pelos três crimes de Tiro, pelos
quatro, não o revogarei! Porque entregaram populações inteiras de
cativos a Edom e não se lembraram da aliança de irmãos’”.
Alguns também vêem nas palavras: “José não conheceu Maria até o
momento em que deu à luz a Jesus” um significado de que, após o
nascimento de Jesus, ela teve relações com José. Contudo, na Bíblia, o
termo “até que” simplesmente significa “o que se deu no passado” e não
tem a mesma conotação que temos em português, significando “algo que
aconteceu após”. A Bíblia menciona uma mulher que não teve filhos até “o
tempo de sua morte” (v. 2Samuel 6,23). Será, então, que produziu
descendentes após sua morte?
Uma pesquisa cuidadosa no Novo Testamento nos mostrará que realmente
existe um exagero de expressão se dissermos que Maria teve outros
filhos:
Quando Jesus foi encontrado no templo, com a idade de 12 anos (Lucas
2,41-51), não se menciona a existência de outros filhos, embora toda a
família tivesse peregrinado junto. O povo de Nazaré refere-se a Jesus
como “o filho de Maria” (Marcos 6,3) e não como “um dos filhos de
Maria”. A expressão grega inplica que Ele era seu único filho. Na
verdade, ninguém nos Evangelhos é chamado de filho de Maria, ainda
quando são chamados de “irmãos do Senhor”.
Existe ainda um outro ponto que requer uma compreensão da antiga
cultura oriental. Em tal cultura, o termo “irmão” era usado para se
referir aos mais velhos – parentes com mais idade cuja função era dar
conselhos aos mais novos. Em João 7,3-4, encontramos os “irmãos” de
Jesus aconselhando-o a deixar a Galiléia e ir para Judéia, para que seus
discípulos pudessem ver as suas obras. Se os “irmãos” forem
compreendidos neste sentido, conforme a cultura oriental, eles
certamente seriam mais velhos que Jesus, o que elimina de vez a
possibilidade de serem seus irmãos de fato, já que todos nós sabemos que
Jesus era o filho primogênito de Maria.
Finalmente, devemos considerar o que aconteceu aos pés da Cruz (João
19,26-27). Se Tiago, José, Simão e Judas fossem mesmo irmãos de Jesus,
porque Jesus fez vistas grossas a esse fato e confiou Sua mãe ao Seu
discípulo João? O Evangelhos nos diz que “a partir dessa hora, o
discípulo a recebeu em sua casa”. Por que ela iria para a casa de um
discípulo se ela tinha pelo menos mais quatro filhos?
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