A
Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um
evento histórico e transcendente. No §639 o Catecismo afirma: “O
mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve
manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento.
Já S. Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: “Eu vos transmiti… o
que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as
Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Cor 15,3-4). O
apóstolo fala aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou
conhecendo após sua conversão às portas de Damasco.
O primeiro acontecimento da manhã do
Domingo de Páscoa foi a descoberta do sepulcro vazio (cf. Mc 16, 1-8).
Ele foi a base de toda a ação e pregação dos Apóstolos e foi muito bem
registrada por eles. São João afirma: “O que vimos, ouvimos e as nossas
mãos apalparam isto atestamos” (1 Jo 1,1-2). Jesus ressuscitado apareceu
a Madalena (Jo 20, 19-23); aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-25), aos
Apóstolos no Cenáculo, com Tomé ausente (Jo 20,19-23); e depois, com
Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24); no Monte
na Galiléia (Mt 28,16-20); segundo S. Paulo “apareceu a mais de 500
pessoas” (1 Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).
São Paulo atesta que Ele “… ressuscitou
ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e foi visto por Cefas, e depois
pelos Onze; depois foi visto por mais de quinhentos irmãos duma só vez,
dos quais a maioria vive ainda hoje e alguns já adormeceram; depois foi
visto por Tiago e, em seguida, por todos os Apóstolos; e, por último,
depois de todos foi também visto por mim como por um aborto” (1 Cor 15,
3-8).
“Deus ressuscitou esse Jesus, e disto
nós todos somos testemunhas” (At 2, 32), disse São Pedro no dia de
Pentecostes. “Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o
constituiu Senhor (Kýrios) e Cristo, este Jesus a quem vós
crucificastes” (At 2, 36). “Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor
dos mortos e dos vivos”.(Rm 14, 9). No Apocalipse, João arremata: “Eu
sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou
vivo pelos séculos, e tenho as chaves da Morte e da região dos mortos”
(Ap 1, 17s).
Toda a pregação dos Discípulos estava
centrada na Ressurreição de Jesus. Diante do Sinédrio Pedro dá
testemunho da Ressurreição de Jesus (At 4,8-12). Em At 5,30-32 repete.
Na casa do centurião romano Cornélio (At 10,34-43), Pedro faz uma
síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus
como ponto central. S. Paulo em Antioquia da Pisídia faz o mesmo (At
13,17-41).
A presença de Jesus ressuscitado era a
manifestação salvífica definitiva de Deus, inaugurando uma nova era na
História humana; era a força do Apóstolos. Jesus ressuscitado caminhou
com eles ainda quarenta dias e criou a fé dos discípulos e não estes que
criaram a fé no Ressuscitado.
A primeira experiência dos Apóstolos com
Jesus ressuscitado, foi marcante e inesquecível: “Jesus se apresentou no
meio dos Apóstolos e disse: “A paz esteja convosco!” Tomados de espanto
e temor, imaginavam ver um espírito. Mas ele disse: “Por que estais
perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede
minhas mãos e meus pés: sou eu! “Apalpai-me e entendei que um espírito
não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. Dizendo isto,
mostrou-lhes as mãos e os pés. E, como, por causa da alegria, não podiam
acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: “Tendes o que
comer?” Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o então e
comeu-o diante deles”. (Lc 24, 34ss)
Os Apóstolos não acreditavam a principio
na Ressurreição do Mestre. Amedrontados, julgavam ver um fantasma, Jesus
pede que o apalpem e verifiquem que tem carne e ossos. Nada disto foi
uma alucinação, nem miragem, nem delírio, nem mentira, e nem fraude dos
Apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram a principio da
Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram. O próprio Cristo teve
que falar a Tomé: “Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso
como me vedes possuir” (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam
decepcionados porque “nós esperávamos que fosse Ele quem restaurasse
Israel” (Lc 24, 21).Estes depoimentos “de primeira hora”,
concebidos e transmitidos pelos discípulos imediatos do Senhor, são
argumentos suficientes para dissolver qualquer teoria que quisesse negar
a ressurreição corporal de Cristo, ou falar dela como fraude. Esta fé
não surgiu “mais tarde”, como querem alguns, na história das primeiras
comunidades cristãs, mas é o resultado da missão de Cristo acompanhada
dia a dia pelos Apóstolos.
Com os Apóstolos aconteceu o processo
exatamente inverso do que se dá com os visionários. Estes, no começo,
ficam muito convencidos e são entusiastas, e pouco a pouco começam a
duvidar da visão. Já com os discípulos de Jesus, ao contrário, no
princípio duvidam. Não crêem em seguida na Ressurreição. Tomé duvida de
tudo e de todos e quer tocar o corpo de Cristo ressuscitado. Assim eram
aqueles homens: simples, concretos, realistas. A maioria era pescador,
não eram nem visionários nem místicos. Um grupo de pessoas abatidas,
aterrorizadas após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a
um auto-convencimento da Ressurreição de Jesus. Na verdade, renderam-se a
uma experiência concreta e inequívoca.
Impressiona
também o fato de que os Evangelhos narram que as primeiras pessoas que
viram Cristo ressuscitado são as mulheres que correram ao sepulcro. Isto
é uma mostra clara da historicidade da Ressurreição de Jesus; pois as
mulheres, na sociedade judaica da época, eram consideradas testemunhas
sem credibilidade já que não podiam apresentar-se ante um tribunal. Ora,
se os Apóstolos, como afirmam alguns, queriam inventar uma nova
religião, por que, então, teriam escolhido testemunhas tão pouco
confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas estivessem preocupados em
“provar” ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais teriam colocado
mulheres como testemunhas.
Os chefes dos judeus tomaram consciência
do significado da Ressurreição de Jesus, e, por isso, resolveram
apaga-la: “Deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro,
recomendando: “Dizei que os seus discípulos vieram de noite, enquanto
dormíeis, e roubaram o cadáver de Jesus. Se isto chegar aos ouvidos do
Governador, nós o convenceremos, e vos deixaremos sem complicação”. Eles
tomaram o dinheiro e agiram de acordo com as instruções recebidas. E
espalhou-se esta história entre os judeus até o dia de hoje” (Mt 28,
12-15). A ressurreição corporal de Jesus era professada tranqüilamente
pela Igreja nascente, sem que os judeus ou outros adversários a pudessem
apontar como fraude ou alucinação.
Os Apóstolos só podiam acreditar na
Ressurreição de Jesus pela evidência dos fatos, pois não estavam
predispostos a admiti-la; ao contrário, haviam perdido todo ânimo quando
viram o Mestre preso e condenado; também para eles a ressurreição foi
uma surpresa.
Eles não tinham disposições psicológicas
para “inventar” a notícia da ressurreição de Jesus ou para forjar tal
evento. Eles ainda estavam impregnados das concepções de um messianismo
nacionalista e político, e caíram quando viram o Mestre preso e
aparentemente fracassado; fugiram para não ser presos eles mesmos (Cf.
Mt 26, 31s); Pedro renegou o Senhor (cf. Mt 26, 33-35). O conceito de um
Deus morto e ressuscitado na carne humana era totalmente alheio à
mentalidade dos judeus.
E a pregação dos Apóstolos era
severamente controlada pelos judeus, de tal modo que qualquer mentira
deles seria imediatamente denunciada pelos membros do Sinédrio (tribunal
dos judeus). Se a ressurreição de Jesus, pregada pelos Apóstolos não
fosse real, se fosse fraude, os judeus a teriam desmentido, mas eles
nunca puderam fazer isto.
Jesus morreu de verdade, inclusive com o
lado perfurado pela lança do soldado. É ridícula a teoria de que Jesus
estivesse apenas adormecido na Cruz.
Os vinte longos séculos do Cristianismo,
repletos de êxito e de glória, foram baseados na verdade da Ressurreição
de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e cresceu em cima de uma
mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do que a própria
Ressurreição do Senhor.
Será que em nome de uma fantasia, de um
mito, de uma miragem, milhares de fiéis enfrentariam a morte diante da
perseguição romana? É claro que não. Será que em nome de um mito,
multidões iriam para o deserto para viver uma vida de penitência e
oração? Será que em nome de um mito, durante já dois mil anos, multidões
de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao
Senhor ressuscitado? Será que uma alucinação poderia transformar o
mundo? Será que uma fantasia poderia fazer esta Igreja sobreviver por
2000 anos, vencendo todas as perseguições (Império Romano, heresias,
nazismo, comunismo, racionalismo, positivismo, iluminismo, ateísmo,
etc.)? Será que uma alucinação poderia ser a base da religião que hoje
tem mais adeptos no mundo (2 bilhões de cristãos)? Será que uma
alucinação poderia ter salvado e construído a civilização ocidental
depois da queda de Roma? Isto mostra que o testemunho dos Apóstolos
sobre a Ressurreição de Jesus era convincente e arrastava, como hoje.
Na verdade, a grandeza do Cristianismo
requer uma base mais sólida do que a fraude ou a debilidade mental. É
muito mais lógico crer na Ressurreição de Jesus do que explicar a
potência do Cristianismo por uma fantasia de gente desonesta ou
alucinada. Como pode uma fantasia atravessar dois mil anos de história,
com 266 Papas, 21 Concilios Ecumênicos, e hoje com cerca de 4 mil bispos
e 416 mil sacerdotes? E não se trata de gente ignorante ou alienada;
muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores.
Prof. Felipe Aquino
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