31 outubro 2013
Evidentemente os textos mais importante sobre a presença real do
corpo e do sangue do Senhor Jesus no pão e no vinho consagrados, são os
textos dos Evangelhos (Mt 26,28; Mt 14, 24; Jo 6, 22-71;Mc 14, 22-24; Lc
22,19s; 1 Cor 11,23-26). No ano 56 São Paulo deixava claro aos
coríntios que quem participasse indignamente da Eucaristia, se tornaria
réu do corpo e do sangue do Senhor. (1 Cor 11, 23-26) E as graves
consequências desse pecado, indicadas pelo Apóstolo, mostram que a
Eucaristia não é mero símbolo, mas presença real de Jesus na hóstia
consagrada. Porventura o cálice de bênção que abençoamos, não é a
comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é porventura a
comunhão com o corpo e Cristo? (1Cor 10,16-21)
A Tradição da Igreja confirma esta verdade abundantemente. Da Didaquè
(ou Doutrirna dos Doze Apóstolos) A Didaquè é como um antigo catecismo,
redigido entre os anos 90 e 100, na Síria, na Palestina ou em
Antioquia. Traz no título o nome dos doze Apóstolos. Os Padres da Igreja
mencionaram-na muitas vezes. Em 1883 foi encontrado um seu manuscrito
grego. “Reunidos no dia do Senhor (dominus), parti o pão e daí graças,
depois de confessardes vossos pecados, a fim de que vosso sacrifício
seja puro. Quem tiver divergência com seu companheiro não deve juntar-se
a nós antes de se reconciliar, para que não seja profanado vosso
sacrifício, conforme disse o Senhor: “Que em todo lugar e tempo me seja
oferecido um sacrifício puro, pois sou um rei poderoso, diz o Senhor, e
meu nome é admirável entre as nações.” (Ml 1, 11) (n. XIV)
Quanto à Eucaristia, celebrai-a assim:
Primeiro, sobre o cálice: Damos-te graças, Pai nosso, pela santa
videira de Davi, teu servo, que nos deste a conhecer por Jesus, teu
Servo. Glória a ti nos séculos! Depois sobre o pão partido: Damos-te
graças, Pai nosso, pela vida e pela sabedoria que nos deste a conhecer
por Jesus, teu Servo. Glória a ti nos séculos! Assim como esse pão,
outrora disseminado sobre as montanhas, uma vez ajuntado, se tornou uma
só massa, seja também reunida tua Igreja, desde as extremidades da
terra, em teu reino, pois a ti pertence a glória e o poder, por Jesus
Cristo, para sempre. Que ninguém coma ou beba da vossa eucaristia se não
for batizado em nome do Senhor, pois a este respeito disse ele: “Não
deis aos cães o que é santo” (Mt 7,6).
Depois de vos terdes saciado, daí graças assim: Nós e damos graças,
Pai Santo, pelo teu santo nome que puseste em nossos corações, e pelo
conhecimento, pela fé e imortalidade que nos deste por meio de Jesus,
teu Servo. Glória a ti nos séculos! Tu, Senhor onipotente, tudo criaste
para honra e glória do teu nome; e deste alimento e bebida aos homens,
para seu desfrute; a nós porém, deste um alimento e uma bebida
espirituais e a vida eterna, por meio do teu Servo. Assim, antes de
tudo, damos-te graças porque és poderoso. Glória a ti nos séculos!
Lembra-te Senhor, de livrar do mal a tua Igreja, e de torná-la perfeita
em teu amor. Congrega-a dos quatro ventos, santificada no reino que lhe
preparaste, pois a ti pertence o poder e a glória, para sempre! Hosana
ao Deus de Davi! Se alguém é santo, aproxime-se; se alguém não é,
converta-se! Maranathá. Amém. Quanto aos profetas, deixai-os render
graças o quanto quiserem. (n.10)
Santo Inácio de Antioquia (+102), bispo e mártir: “Esforçai-vos,
portanto, por vos reunir mais frequentemente, para celebrar a eucaristia
de Deus e o seu louvor. Pois quando realizais frequentes reuniões, são
aniquiladas as forças de Satanás e se desfaz seu malefício por vossa
união na fé. Nada há melhor do que a paz, pela qual cessa a guerra das
potências celestes e terrestres.” (Carta aos Efésios)
São Justino (+165), mártir: Nasceu em Naplusa, antiga Siquém, em
Israel; achou nos Evangelhos “a única filosofia proveitosa”, filósofo,
fundou uma escola em Roma. Dedicou as sua “Apologias” ao Imperador
romano Antonino Pio, no ano 150, defendendo os cristãos; foi martirizado
em Roma. Terminadas as orações, damos mutuamente o ósculo da paz.
Apresenta-se, então, a quem preside aos irmãos, pão e um vaso de água e
vinho, e ele tomando-os dá louvores e glória ao Pai do universo pelo
nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de
graças em razão dos dons que dele nos vêm. Quando o presidente termina
as orações e a ação de graças, o povo presente aclama dizendo: Amém… Uma
vez dadas as graças e feita a aclamação pelo povo, os que entre nós se
chamam diáconos oferecem a cada um dos assistentes parte do pão, do
vinho, da água, sobre os quais se disse a ação de graças, e levam-na aos
ausentes. Este alimento se chama entre nós Eucaristia, não sendo lícito
participar dele senão ao que crê ser verdadeiro o que foi ensinado por
nós e já se tiver lavado no banho (batismo) da remissão dos pecados e da
regeneração, professando o que Cristo nos ensinou. Porque não tomamos
estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma que Jesus
Cristo, nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa salvação, assim
também se nos ensinou que por virtude da oração do Verbo, o alimento
sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento de que, por
transformação, se nutrem nosso sangue e nossas carnes – é a carne e o
sangue daquele mesmo Jesus encarnado. E foi assim que os Apóstolos, nas
Memórias por eles escritas, chamadas Evangelhos, nos transmitiram
ter-lhe sido ordenado fazer, quando Jesus, tomando o pão e dando graças,
disse: “Fazei isto em memória de mim, isto é o meu corpo.”
E igualmente, tomando o cálice e dando graças, disse: “Este é o meu
sangue, o qual somente a eles deu a participar… No dia que se chama do
Sol (domingo) celebra-se uma reunião dos que moram nas cidades e nos
campos e alí se lêem, quanto o tempo permite, as Memórias dos Apóstolos
ou os escritos dos profetas. Assim que o leitor termina, o presidente
faz uma exortação e convite para imitarmos tais belos exemplos.
Erguemo-nos, então, e elevamos em conjunto as nossas preces, após as
quais se oferecem pão, vinho e água, como já dissemos. O presidente
também, na medida de sua capacidade, faz elevar a Deus suas preces e
ações de graças, respondendo todo o povo “Amém”. Segue-se a distribuição
a cada um , dos alimentos consagrados pela ação de graças, e seu envio
aos doentes, por meio dos diáconos. Os que têm, e querem, dão o que lhes
parece, conforme sua livre determinação, sendo a coleta entregue ao
presidente, que assim auxilia os órfãos e viúvas, os enfermos, os
pobres, os encarcerados, os forasteiros, constituíndo-se, numa palavra, o
provedor de quantos se acham em necessidade.” (Apologias)
Santo Ireneu (140-202)
“Dado que nós seus membros (de Cristo), nos alimentamos de coisas criadas, (as quais, aliás, ele mesmo nos oferece…), também quis fosse seu sangue o cálice de vinho, extraído de Criação, para com ele robustecer nosso sangue; quis fosse seu corpo o pão, também proveniente da Criação, para com ele robustecer nossos corpos. Se, pois, a mistura do cálice e pão recebem a palavra de Deus tornando-se a Eucaristia do sangue e do corpo de Cristo, pelos quais cresce e se fortifica a substância de nossa carne, como se haverá de negar à carne, assim nutrida com o corpo e sangue de Cristo, e feita membro do seu corpo, a aptidão de receber o dom de Deus, a vida eterna? Assim como a muda da videira, depositada na terra, depois frutifica, e o grão de trigo, caído no solo e destruído, resurge multiplicado pela ação do Espírito de Deus que tudo sustém; e em seguida pela arte dos homens se fazem dessas coisas vinho e pão, que pela palavra de Deus se tornam a Eucaristia, corpo e sangue de Cristo; assim também nossos corpos, alimentados com a Eucaristia, ao serem depositados na terra e aí destruídos, vão ressurgir um dia para a glória do Pai, quando a palavra de Deus lhes der a ressurreição. O Pai reveste de imortalidade o que é mortal, dá gratuitamente a incorrupção ao que é corruptível, pois o poder de Deus se manifesta na fragilidade.” (Contra as heresias, lv 5, cap. 2, 18,19,20)
“Dado que nós seus membros (de Cristo), nos alimentamos de coisas criadas, (as quais, aliás, ele mesmo nos oferece…), também quis fosse seu sangue o cálice de vinho, extraído de Criação, para com ele robustecer nosso sangue; quis fosse seu corpo o pão, também proveniente da Criação, para com ele robustecer nossos corpos. Se, pois, a mistura do cálice e pão recebem a palavra de Deus tornando-se a Eucaristia do sangue e do corpo de Cristo, pelos quais cresce e se fortifica a substância de nossa carne, como se haverá de negar à carne, assim nutrida com o corpo e sangue de Cristo, e feita membro do seu corpo, a aptidão de receber o dom de Deus, a vida eterna? Assim como a muda da videira, depositada na terra, depois frutifica, e o grão de trigo, caído no solo e destruído, resurge multiplicado pela ação do Espírito de Deus que tudo sustém; e em seguida pela arte dos homens se fazem dessas coisas vinho e pão, que pela palavra de Deus se tornam a Eucaristia, corpo e sangue de Cristo; assim também nossos corpos, alimentados com a Eucaristia, ao serem depositados na terra e aí destruídos, vão ressurgir um dia para a glória do Pai, quando a palavra de Deus lhes der a ressurreição. O Pai reveste de imortalidade o que é mortal, dá gratuitamente a incorrupção ao que é corruptível, pois o poder de Deus se manifesta na fragilidade.” (Contra as heresias, lv 5, cap. 2, 18,19,20)
Santo Hipólito de Roma (160-235): Discípulo de Santo Ireneu
(140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde Orígenes o ouviu pregar.
Morreu mártir. Escreveu contra os hereges, compôs textos litúrgicos,
escreveu a -Tradição Apostólica- onde retrata os costumes da Igreja no
século III: ordenações, catecumenato, batismo e confirmação, jejuns,
ágapes, eucaristia, ofícios e horas de oração, sepultamento, etc.
Logo que se tenha tornado bispo, ofereçam-lhe todos o ósculo da paz,
saudando-o por ter se tornado digno. Apresentem-lhe os diáconos a
oblação e ele, impondo as mãos sobre ela, dando graças com todo o
presbiterium, diga: O Senhor esteja convosco. Respondam todos: E com o
teu espírito. “Corações ao alto!” Já os oferecemos ao Senhor. “Demos
graças ao Senhor.” É digno e justo. E prossiga a seguir: Graças te
damos, Deus, pelo teu Filho querido, Jesus Cristo, que nos últimos
tempos nos enviastes, Salvador e Redentor, mensageiro da tua vontade,
que é o teu Verbo inseparável, por meio do qual fizestes todas as coisas
e que, porque foi do teu agrado, enviaste do Céu ao seio de uma Virgem;
que, aí encerrado, tomou um corpo e revelou-se teu Filho, nascido do
Espírito Santo e da Virgem. Que, cumprindo a tua vontade – e obtendo
para ti um povo santo – ergueu as mãos enquanto sofria para salvar do
sofrimento os que confiaram em ti. Que, enquanto era entregue à
voluntária Paixão para destruir a morte, fazer em pedaços as cadeias do
demônio, esmagar os poderes do mal, iluminar os justos, estabelecer a
Lei e dar a conhecer a Ressurreição, tomou o pão e deu graças a ti,
dizendo: Tomai, comei, isto é o meu Corpo que por vós será destruído;
tomou, igualmente, o cálice, dizendo: Este é o meu Sangue, que por vós
será derramado. Quando fizerdes isto, fá-lo-eis em minha memória. Por
isso, nós que nos lembramos de sua morte e Ressurreição, oferecemos-te o
pão e o cálice, dando-te graças porque nos considerastes dignos de
estar diante de ti e de servir-te. E te pedimos que envies o Espírito
Santo à Oblação da santa Igreja: reunindo em um só rebanho todos os
fiéis que recebemos a Eucaristia na plenitude do Espírito Santo para o
fortalecimento da nossa fé na verdade, concede que te louvemos e
glorifiquemos, pelo teu Filho Jesus Cristo, pelo qual a ti a glória e a
honra – ao Pai e ao Filho, com o Espírito Santo na tua santa Igreja,
agora e pelos séculos dos séculos. Amém. (Tradição Apostólica)
Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, foi bispo de
Poitiers, combateu o arianismo, foi exilado pelo imperador Constâncio,
escreveu sobre a Santíssima Trindade: “Ele mesmo diz: – Minha carne é
verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come
da minha carne e bebe do meu sangue, fica em mim e eu nele”(Jo 6,56).
Quanto à verdade da carne e do sangue, não há lugar para dúvida; é
verdadeiramente carne e verdadeiramente sangue, como vemos pela própria
declaração do Senhor e por nossa fé em suas palavras. Esta carne, uma
vez comida, e este sangue, bebido, fazem que sejamos também nós um em
Cristo, e o Cristo em nós. Não é isto verdade? Não o será para os que
negam ser Jesus Cristo verdadeiro Deus! Ele está, pois, em nós por sua
carne, e nós nele, e ao mesmo tempo o que nós somos está com Ele em
Deus. Ele está em nós pelo mistério dos sacramentos, como está no Pai
pela natureza da sua divindade, e nós nele pela sua natureza corporal.
Ensina-se, portanto, que pelo nosso Mediador se consuma a unidade
perfeita, pois enquanto nós permanecemos nele, ele permanece no Pai, e,
sem deixar de permanecer no Pai, permanece também em nós, e assim nós
subimos até à unidade do Pai. Ele está no Pai, fisicamente, segundo a
origem de sua eterna natividade, e nós estamos nele, fisicamente,
enquanto também está em nós fisicamente. (Sobre a Santíssima Trindade)
São Cirilo de Jerusalém (+386), Bispo de Jerusalém, guardião da fé
professada pela Igreja no Concílio de Nicéia (325). Autor das Catequeses
Mistagógicas, esteve no segundo Concílio Ecumênico, em Constantinopla,
em 381. “Quanto a mim, recebi do Senhor o que também vos transmiti” etc.
(1Cor 11,23). Esta doutrina de São Paulo é bastante para produzir plena
certeza sobre os divinos mistérios pelas quais obtendes a dignidade de
vos tornardes concorpóreos e consanguíneos de Cristo. Quando, pois, ele
mesmo declarou do pão: “isto é o meu corpo”, quem ousará duvidar? E
quando ele asseverou categoricamente: “isto é o meu sangue”, quem ainda
terá dúvida, dizendo que não é? Outrora, em Caná da Galiléia, por sua
vontade, mudara a água em vinho, e não seria também digno de fé, ao
mudar o vinho em sangue?… É, portanto, com toda a segurança que
participamos de certo modo do corpo e sangue de Cristo: em figura de pão
é deveras o corpo que te é dado, e em figura de vinho o sangue, para
que, para que, participando do corpo e sangue de Cristo, te tornes
concorpóreo e consanguíneo dele. Passamos a ser assim cristóforos, isto
é, portadores de Cristo, cujo corpo e sangue se difundem por nossos
membros. E então, como diz S.Pedro, participamos da natureza divina (2Pe
1,4). Não trates, por isso, como simples pão e vinho a este pão e
vinho, pois, são, respectivamente, corpo e sangue de Cristo, consoante a
afirmação do Senhor. E ainda que os sentidos não o possam sugerir, a fé
no-lo deve confirmar com segurança. Não julgues a coisa pelo paladar.
Antes pela fé, enche-te de confiança, não duvidando de que foste julgado
digno do corpo e sangue de Cristo. Ao te aproximares, não o faças com
as mãos estendidas nem com os dedos separados. Faze como a esquerda como
um trono na qual se assente a direita, que vai conter o Rei. E, no
côncavo da palma, recebe o Corpo de Cristo, respondendo: “Amém”. Com
segurança, então, depois de santificados teus olhos pelo contato do
santo corpo, recebe-o, cuidando para nada perderes… Depois, aguardando a
oração, dá graças a Deus que te fez digno de tão grandes mistérios.
Conservai invioláveis estas tradições, guardai-as sem falha. (Catequeses
Mistagógicas)
Nota: A Tradição da Igreja nos mostra que os primeiros cristãos que
na celebração da Eucaristia, torna-se presente a própria oblação de
Cristo ao Pai feita no Calvário. É importantíssimo entender que não se
trata de uma repetição ou multiplicação do sacrifício do Calvário, pois
Jesus se imolou uma vez por todas (Hb 4, 14; 7, 27; 9, 12.25s. 28; 10,
12.14). A Ceia torna presente através dos tempos o único sacrifício de
Cristo, para que possamos participar dele e sermos salvos. O corpo e o
sangue de Jesus estão presentes na Eucaristia não de qualquer modo, mas
como vítima; pois estão corpo e sangue separados sobre o altar, como no
sacrifício da vítimas do Sinai que selou a Antiga Aliança (Ex 24,6-8).
Assim diziam os santos Padres: S. João Crisóstomo, bispo de
Constantinopla (?403): “Sacrificamos todos os dias fazendo memória da
morte de Cristo” (In Hebr 17,3)
Teodoreto de Ciro (?460): “É manifesto que não oferecemos outros
sacrifícios senão Cristo, mas fazemos aquela única e salutífera
comemoração” (In Hebr. 8,4). S. Leão Magno (400-461), Papa e doutor da
Igreja: “Talvez digas: é meu pão de cada dia. Mas este pão é pão antes
das palavras sacramentais; desde que sobrevenha a consagração, a partir
do pão se faz a carne de Cristo. Passemos então provar esta verdade.
Como pode aquilo que é pão ser corpo de Cristo? Com que termos então se
faz a consagração e com as palavras de quem? Do Senhor Jesus.
Efetivamente tudo o que foi dito antes é dito pelo sacerdote… Quando se
chega a produzir o venerável sacramento, o Sacerdote já não usa suas
próprias palavras, mas serve-se das palavras de Cristo. É, pois, a
palavra de Cristo que produz este sacramento. Qual é esta palavra de
Cristo? É aquela pela qual todas as coisas foram feitas. O Senhor deu
ordem e se fez o céu. O Senhor deu ordem e se fez a terra. O Senhor deu
ordem e se fez os mares. O Senhor deu ordem e todas as criaturas foram
geradas. Percebes, pois, quanto é eficaz a palavra de Cristo. Se, pois,
existe tamanha força na Palavra do Senhor Jesus, a ponto de começarem as
coisas que não existiam, quanto mais eficaz não deve ser para que
continuem a existir as que eram, e sejam mudadas em outra coisa? Assim,
pois, para dar-te uma resposta, antes da consagração não era o corpo de
Cristo, mas após a consagração, posso afirmar-te que já é o corpo de
Cristo. Não é, pois, sem motivo que tu dizes: Amém, reconhecendo já, em
espírito, que recebes o corpo de Cristo. Quando te apresentas para
pedi-lo, o sacerdote te diz: “Corpo de Cristo”. E tu responde: Amém,
quer dizer, É verdade. Aquilo que a língua confesse, conserve-o o afeto.
No entanto, para saberes: é este o sacramento, precedido pela figura.”
(Os Sacramentos e os Mistérios, Lv 4, 4-6, Ed. Vozes, p. 50-55)
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