13 novembro 2013
Eucaristia, mistério de uma presença!
O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Cristo Jesus, Aquele que
morreu, ou melhor, ressuscitou, Aquele que está à direita de Deus e que
intercede por nós (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em Sua
Igreja: em Sua Palavra, na oração de Sua Igreja, lá ‘onde dois ou três
estão reunidos em Meu nome’ (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos
presos, em Seus sacramentos, dos quais Ele é o autor, no sacrifício da
missa e na pessoa do ministro. Mas sobretudo está presente sob as
espécies eucarísticas (n. 1373).
É verdade que o Senhor Jesus, na força do Seu Espírito, está presente
de modos variadíssimos na Sua Igreja, mas, sobretudo, de um modo
eminente, Ele Se faz presente no pão e no vinho consagrados na
Eucaristia. Ali, já não está presente simplesmente a graça do Cristo,
mas, pessoalmente, o próprio Autor da graça!
Ele, que na Última Ceia Se entregou no pão e no vinho, dizendo “isto é
o Meu Corpo, isto é o Meu Sangue”, é Aquele mesmo que havia antes
prevenido de modo solene: “Em verdade, em verdade, vos digo: ‘Aquele que
crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida! A Minha carne é
verdadeiramente uma comida e o Meu sangue é verdadeiramente uma bebida”
(Jo 6,47s.55). Sendo assim, se em todos os sacramentos, Jesus Cristo
atua através de sinais sensíveis que, sem mudarem de natureza, adquirem
uma capacidade transitória de santificação, na Eucaristia, Ele está
presente com o Seu corpo e sangue, alma e divindade, dando ao homem toda
a Sua Pessoa e a Sua vida, tudo quanto viveu entre nós amorosamente,
até o extremo da entrega na cruz. Tudo isso está presente no pão e no
vinho consagrados.
Na Eucaristia, realmente presente para estar em real comunhão conosco
A Igreja sempre acreditou nesta maravilhosa realidade e insondável
mistério da presença real do Senhor Jesus. Com a transformação ocorrida
na consagração das espécies eucarísticas, o Senhor torna-Se presente no
Seu Corpo e Sangue.
Os Santos Padres, doutores da Igreja Antiga, para exprimir a mudança
do pão e do vinho no Corpo e Sangue do Senhor, falavam de “metabolismo”
do pão e do vinho em corpo e sangue. São Tomás de Aquino recordava que a
Eucaristia é o sacramento da presença de Cristo. Isso a distingue dos
outros sacramentos. O Santo Doutor dizia que ela “re-presenta” Cristo.
“Re-presenta”, no sentido de tornar Cristo realmente presente, já que a
Eucaristia não é uma devota recordação, mas a presença efetiva, real,
verdadeira e eficaz, pascal, do Senhor morto e ressuscitado, que quer
atingir todos os homens e com eles entrar em real e pessoal comunhão. E
Ele explicava ainda que o significado do Sacramento é tríplice: “O
primeiro diz respeito ao passado, enquanto comemora a paixão do Senhor,
que foi um verdadeiro sacrifício… Por isso, é chamado sacrifício. O
segundo diz respeito ao efeito presente, ou seja, à unidade da Igreja,
em que os homens são reunidos por meio deste Sacramento. O terceiro
significado diz respeito ao futuro: pois este Sacramento é prefigurativo
da bem-aventurança divina, que se realizará na pátria”.
Também São Boaventura contribuiu para a teologia da Eucaristia,
insistindo no espírito de piedade necessário para comungar Cristo.
Recorda-nos ele que, na Eucaristia, além das palavras da Última Ceia,
realiza-se a promessa do Senhor: “Eu estou convosco todos os dias até ao
fim do mundo” (Mt 28,20). Portanto, no Sacramento, Ele está real e
verdadeiramente presente na Igreja.
A presença real na Eucaristia: mysterium fidei!
Foi o Concílio de Trento que, como Magistério da Igreja, melhor
exprimiu o mistério da presença real do Senhor nas espécies
eucarísticas. O Tridentino insistiu na presença verdadeira, real e
substancial do Senhor Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sob as
espécies do pão e do vinho.
Afirmou, do mesmo modo, que o Corpo do Senhor está presente não só no
pão, mas também no vinho, e que o Seu Sangue está presente não só no
vinho, mas também no pão. Em outras palavras: Jesus não está parte no
vinho e parte no pão, mas Se encontra real e perfeitamente todo no vinho
e todo no pão.
Explicou também que, em ambas as espécies, o Senhor Jesus Cristo está presente com a Sua alma humana e com a Sua divindade.
Portanto, Cristo, Verbo do Pai, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está presente todo inteiro sob as duas espécies e em cada parte delas.
Portanto, Cristo, Verbo do Pai, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está presente todo inteiro sob as duas espécies e em cada parte delas.
O mesmo Concílio definiu ainda a “transubstanciação”, isto é a
mudança real da substância do pão no Corpo de Cristo e da substância do
vinho no Seu divino Sangue.
Na sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia, o Beato João Paulo II
recorda: “A reprodução sacramental na Santa Missa do sacrifício de
Cristo coroado pela Sua ressurreição implica uma presença muito
especial, chama-se ‘real’, não a título exclusivo como se as outras
presenças não fossem ‘reais’, mas por excelência, porque é substancial, e
porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem.
Reafirma-se assim a doutrina sempre válida do Concílio de Trento: ‘Pela
consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância
do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a
substância do vinho na substância do Seu sangue; a esta mudança, a
Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado,
transubstanciação’. Verdadeiramente a Eucaristia é mistério de fé,
mistério que supera os nossos pensamentos e só pode ser aceita pela fé,
como lembram frequentemente as catequeses patrísticas sobre este
sacramento divino. ‘Não hás de ver – exorta São Cirilo de Jerusalém – o
pão e o vinho [consagrados] simplesmente como elementos naturais, porque
o Senhor disse expressamente que são o Seu corpo e o Seu sangue: a fé o
assegura a ti, ainda que os sentidos possam sugerir-te outra coisa” (n.
15).
Assim, segundo a fé católica, recebida dos apóstolos e conservada
fielmente na Igreja de Cristo, a presença eucarística do Senhor Jesus
morto e ressuscitado começa no momento da consagração e dura também
enquanto subsistirem as espécies eucarísticas. Em outras palavras,
enquanto houver o pão e o vinho consagrados, há realmente Corpo e Sangue
do Senhor.
João Paulo II, citando Paulo VI, afirmou claramente na sua Encíclica
eucarística: “Permanece o limite apontado por Paulo VI: ‘Toda a
explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério,
para estar de acordo com a fé católica deve assegurar que na sua
realidade objetiva, independentemente do nosso entendimento, o pão e o
vinho deixaram de existir depois da consagração, de modo que a partir
desse momento são o Corpo e o Sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão
realmente presentes diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e
do vinho’” (Ecclesia de Eucharistia, 15).
Portanto, não basta afirmar que Cristo está no pão ou está no vinho; é
necessário afirmar que Cristo é o pão e Cristo é o vinho e naquelas
espécies consagradas já não há realmente pão e vinho; nada há que não
seja o Cristo Senhor, morto e ressuscitado. Imenso mistério! Mistério de
amor! Mysterium fidei – mistério da fé!
Razões para estar tão presente de modo tão real
Pode-se perguntar o motivo de o Senhor dar-Se assim, tão realisticamente, no pão e no vinho. Apontemos algumas razões:
(1) A nossa união real e íntima com Ele que, na comunhão, não somente
está conosco, mas também em nós, fazendo com que nós estejamos Nele.
Nunca esqueçamos que isto é possível porque o Senhor que Se nos dá na
Eucaristia é pleno de Espírito Santo, de modo que, em cada comunhão,
recebemos o Seu Espírito Santo, que nos faz permanecer em Cristo e
Cristo em nós.
(2) A edificação da Igreja, já que comungando todos do mesmo Corpo e
Sangue do Senhor, tornamo-nos Nele cada vez mais um só corpo, que é a
Igreja, segundo a palavra do Apóstolo: “O cálice de bênção que
abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não
é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora
muitos, somos um só corpo, visto que participamos deste único pão” (1Cor
10,16). Esta unidade não é simplesmente simbólica ou sentimental, mas
real, pois é unidade no Corpo do Senhor, pleno do Espírito Santo.
(3) A nossa divinização, pois, recebendo o Corpo e Sangue do Senhor,
recebemos a própria vida divina, alimentando-nos com o próprio Cristo
ressuscitado pleno do Espírito Santo que dá vida: “Quem come a Minha
carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai,
que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que come de Mim
viverá por Mim” (Jo 6,56s).
(4) Finalmente, comungando do corpo e sangue Daquele que morreu e
ressuscitou, recebemos como alimento a própria vida eterna, vida de
ressurreição: “Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida
eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Quem come deste pão viverá
eternamente” (Jo 6,54.58c).
Graças e louvores ao Santíssimo Sacramento!
Diante da Eucaristia, inestimável dom, nossa resposta é não somente a
fé agradecida, mas também a viva sede da comunhão frequente e da
adoração piedosa. São João Crisóstomo afirmava: “Quando estás para abeirar-te da sagrada mesa, acredita que nela está presente o Senhor de todos”. Por isso, a adoração é inseparável da comunhão.
Neste sentido, a Igreja desde tempos remotos, recomenda aos seus
filhos que se detenham frequentemente em adoração ao Senhor
sacramentado. O Beato João Paulo quis renovar essa recomendação: “O
culto prestado à Eucaristia fora da missa é de um valor inestimável na
vida da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do Sacrifício
eucarístico. A presença de Cristo nas hóstias consagradas que se
conservam após a Missa – presença essa que perdura enquanto subsistirem
as espécies do pão do vinho – resulta da celebração da Eucaristia e
destina-se à comunhão, sacramental e espiritual. Compete aos Pastores,
inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de
modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também as
visitas de adoração a Cristo presente sob as espécies eucarísticas. É
bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre o Seu peito como o discípulo
predileto (cf. Jo 13,25), deixar-se tocar pelo amor infinito do Seu
coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo
pela arte da oração, como não sentir de novo a necessidade de permanecer
longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de
amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes,
meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela
força, consolação, apoio! Desta prática, muitas vezes louvada e
recomendada pelo Magistério, deram-nos o exemplo numerosos Santos. De
modo particular, distinguiu-se nisto Santo Afonso Maria de Ligório, que
escrevia: ‘A devoção de adorar Jesus sacramentado é, depois dos
sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a Deus e a
mais útil para nós’. A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a
sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da missa
permite-nos beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã que
queira contemplar melhor o rosto de Cristo… não pode deixar de
desenvolver também este aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e
se multiplicam os frutos da comunhão do corpo e sangue do Senhor”
(Ecclesia de Eucharistia, 15).
Portanto, não tenhamos dúvidas: se as espécies eucarísticas
destinam-se primeiramente a serem consumidas em comunhão fraterna
durante a celebração da Santa Missa, também podem e devem ser adoradas
não somente no momento mesmo da consagração – quando devemos todos nos
ajoelhar de modo reverente a adorante -, mas também fora da missa, em
adoração pessoal ou comunitária. Estas são as constantes consciência e
doutrina da Igreja, da qual nenhum católico deve duvidar. Ninguém tem o
direito de ensinar diversamente! Que fique claro de modo cristalino: as
espécies eucarísticas, primariamente dadas à Igreja para a comunhão,
devem ser adoradas por todos, seja durante a consagração, seja com um
piedoso e reverente gesto antes da comunhão (um inclinação, uma
genuflexão ou até mesmo ajoelhar-se), seja na adoração pessoal ou
comunitária no culto eucarístico fora da celebração da santa Missa. Que
ninguém se deixe iludir por falsos mestres, mestres de si próprios e
doutores em próprio nome, que deturpam a fé, usurpam o mandato de
ensinar aos fieis, que compete à Igreja, e confundem o rebanho com
doutrinas exóticas e de própria autoria, que só levam à confusão dos
fieis e ao esfriamento geral da fé! A Eucaristia é um mistério grande
demais, sublime demais para ser manipulado por quem quer que seja!
Graças e louvores se deem a todo momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Dom Henrique Soares – Bispo Auxiliar de Aracju/SE
Fonte: Blog Visão Cristã
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