IHU - Um tweet em francês – “Papa Francisco: os sírios necessitam do
seu apoio para obter a liberdade. Assinem aqui a petição” – e um mais
um conjunto de mensagens para denunciar a propaganda pró-regime sírio de
certos ambientes cristãos, depois nada mais.
O comentário é de Enzo Bianchi, monge, prior do Mosteiro de Bose, na Itália, e publicado pelo jornal La Stampa, 16-11-2013.
Depois do dia 25 de julho não se tem mais notícias do padre Paolo Dall”Oglio, jesuíta italiano, há mais de 30 anos trabalhando na Síria, fundador de uma comunidade no mosteiro, reconstruído, de Mar Musa, expulso da Síria, em 2012, pelo governo de Bashar AL-Asad por ter apoiado à oposição.
Raptado depois de entrar clandestinamente na Síria para tentar uma
mediação e obter a libertação de outros religiosos sequestrados? Mas
quem o sequestrou? Onde ele está? Um silêncio angustiante envolve a sua
vida – neste domingo é o seu 59º aniversário... – assim como informações confusas sobre o drama sírio, assim como notícias contraditórias são divulgadas sobre a sorte dos dois bispos cristãos
e de outros seqüestrados, para depois voltar tudo à mais tétrica
escuridão sobre o que acontece com um povo inteiro martirizado.
Neste contexto vale a pena ler o livro “Cólera e luz. Um padre na revolução síria” que acaba de ser publicado na versão italiana (o original é em francês), com um pósfácio do próprio Dall’Oglio. O livro acabou de ser editado no mês de agosto de 2013, ou seja, quando o seu autor acabara de ser raptado.
Trata-se de um livro que, como o precedente “Innamorato dell’Islã, credente in Gesù”
(“Enamorado pelo Islã, crente em Jesus”, em tradução livre), nos fala
de um povo, da paixão pelo diálogo, da sede de liberdade, da raiva de
indignação, mas também, e precisamente por isso, da luta pela justiça,
da espera da luz, da esperança que não morre.
Padre Paolo não busca o consenso universal, não
persegue compromissos, não se deixa moderar pela prudência deste mundo:
fala e escreve para sacudir as consciências, para que o mundo saiba o
que está acontecendo, para que compreenda um pouco, pelo menos, do drama
de uma luta pela liberdade que é sufocada no sangue e na indiferença.
A carta ao jovem europeu, que abre o volume, fornece uma chave para
compreender o anelo que habita o coração do autor, e presta uma
homenagem a tantos jovens sírios – cristãos e muçulmanos – conhecidos e
amados pelo padre Dall’Oglio, que venceram o medo que os paralisava e se jogaram numa trágica aventura cuja única meta é a liberdade.
Um livro que fala, sim, da vida e da paixão de um homem, mas também
que a partir dos eventos pessoais chega, com lucidez, a falar da
esperança de um povo, do sonho de uma humanidade reconciliada, da união
impossível entre paz e justiça.
Graças a estas páginas compreendemos algo a mais do complexo drama
sírio, mas sobretudo veremos por detrás das notícias os rostos
aterrorizados e as palavras de homens e mulheres que não renunciaram à
própria humanidade e que buscam, desesperadamente, caminhos de
humanização e dias de luz. E saímos do livro com uma pergunta
inquietante: nós, tão destemidos – diferentes do autor – em não nos
enraivecer, somos também capazes de acender alguma fagulha de luz?
Nenhum comentário:
Postar um comentário