O primeiro testemunho a invocar vem da Didaquê, uma obra que foi
escrita para ajudar a doutrinar os novos cristãos, numa época bem
antiga da Igreja. Seu conteúdo mostra que ela está calcada no evangelho
de Mateus, conhece o de Lucas e parece desconhecer o evangelho de João
(que deve ter surgido no ano 90 ou 95). Por isso, alguns acham que ela é
anterior ao quarto evangelho. Uma coisa é certa: foi escrita antes do
ano 100, quando a Igreja ainda era produto de um contexto em que viveu a
segunda geração de cristãos. Nela lemos em 14.1: “Reunindo-vos no
dia do Senhor, parti o pão e dai graças, depois de haver confessado
vossas transgressões, para que o vosso sacrifício seja puro”. O dia
do Senhor, o domingo, era o dia da celebração da ceia do Senhor (“parti
o pão”). Não estou afirmando que esta epístola é inspirada, mas vendo-a
como um documento histórico que deve ser considerado. É uma voz da
história.
Na Epístola aos Magnesianos (escrita ao redor do ano 107), Inácio de Antioquia declarou, em 9.1: “Assim
os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da
esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do
Senhor”. A declaração é bem clara. Mais uma vez temos um testemunho
histórico com a posição da Igreja primitiva. Inácio faz outra declaração
bem firme: “Não vos deixeis iludir pelas doutrinas heterodoxas, nem
pelos velhos mitos sem utilidade. Pois se agora vivemos conforme o
judaísmo, confessamos não ter recebido a graça” (8.1). Estas palavras devem ser lidas em conexão com Colossenses 2.16-23, e bem pensadas.
Na Epístola a Diogneto, que é datada da segunda metade do século dois (ao redor do ano 150), lemos: “Não
será proveitoso, a meu ver, ouvires de mim o referente à meticulosidade
acerca de alimentos, à superstição a respeito dos sábados, à jactância
por causa da circuncisão em torno de jejuns e neomênias, porque
ridículas e indignas de menção” (4.1). A questão do sábado foi minimizada e tratada como superstição, pois fazia parte da velha ordem, que ficou para trás.Outro documento, “A Tradição Apostólica de Hipólito de Roma” (ao redor do ano 230), diz em 1.15: “Seja
ordenado bispo aquele que, irrepreensível tiver sido eleito por todo o
povo. E, quando houver sido chamado pelo nome e aceito por todos,
reúna-se o povo juntamente com o presbyterium e os bispos presentes, no
domingo”. Não diz para trocar o sábado pelo domingo, mas mostra, de
novo, a presença do primeiro dia da semana na vida da Igreja. E num
evento tão significativo, como a ordenação ao ministério.
Esta mesma obra diz, em 60.1: “No domingo de manhã, o bispo, se puder, distribuirá a comunhão a todo o povo, com as próprias mãos, partindo os diáconos o pão…”. O testemunho da história é que a Igreja se reunia no domingo, para celebrar o memorial da ceia do Senhor.
Você pode ver que todos esses documentos são anteriores a
Constantino, que viveu do ano 300 em diante. Ele não obrigou os cristãos
a guardarem o domingo, mas viu que os cristãos guardavam o domingo e o
tornou em dia de descanso em todo o Império Romano. Os cristãos não
copiaram os pagãos, mas os pagãos passaram a imitar os cristãos.
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