ihu - É com imensa alegria que compartilhamos a carta elaborada por
nossos amigos da Pastoral da Diversidade, em São Paulo, em resposta à
consulta pública às paróquias solicitada pelo Vaticano em preparação
para o Sínodo dos bispos em 2014. A carta será disponibilizada também sob a forma de uma "petição on-line",
um abaixo-assinado para recolhermos as assinaturas de quem quiser
apoiar e subscrever o texto abaixo. Teremos 5 dias para recolher as
assinaturas antes de enviá-las para nossos bispos e para o núncio
apostólico (o representante diplomático da Santa Sé) no Brasil.
A carta foi publicada pelo blog Diversidade Católica, 6-12-2013.
Eis a carta
Estimados Senhores Bispos,
É a primeira vez na história, tanto quanto se saiba, que todos os fiéis, inclusive nós Católicos LGBT (Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), fomos convidados a nos
expressar como sujeitos sobre temas tão importantes para o futuro da
nossa Igreja. Aqueles que escrevemos esta carta estamos longe de nos
sentirmos no direito de responder por tantas pessoas diferentes, contudo
sentimo-nos honrados pelo convite e queremos pelo menos tentar
responder à altura.
É evidente que nos faltam conhecimentos para responder à maioria das
perguntas do questionário, por isso vamos nos ater somente às que nos
dizem respeito diretamente. Antes, porém, gostaríamos de comentar
brevemente quatro pontos que fluem de temas fundamentais da consulta.
O primeiro ponto é sobre o próprio termo Família. Gostaríamos de expressar que todos nós, como pessoas LGBT,
filhas e filhos de Deus, nascemos no seio de famílias, das mais
diversificadas, e todos nós buscamos viver em família, seja ela eletiva
ou biológica. Como Católicos, sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo
sempre promoveu e promove mais a família eletiva que a biológica. Ou
seja, consideramos que o discurso Católico sobre a família nos toca
profundamente, sobretudo porque estas palavras de Jesus nos ressoam: "A minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lucas 8, 21). Temos as mais variadas experiências de vida familiar: para alguns de nós, o fato de sermos LGBT
foi aceito com tranquilidade pelos nossos irmãos, pais, primos e
outros. Para outros, o fato provocou – e continua provocando – muito
sofrimento, seja em nossos parentes mais próximos, seja em nós mesmos.
Em suma, queremos dizer que os dramas da vivência da fé em família não
nos são alheios. Por isto, não podemos deixar de notar que, até agora, o
discurso eclesiástico sobre a família nos trata como se fôssemos os
inimigos da família, hostis de alguma forma à sobrevivência da mesma.
Porém, nenhuma dinâmica familiar pode ser considerada saudável se alguém
nela é tratado como ovelha negra (ou rosa). E isto nos leva a pedir que
os Senhores não insistam em “defender” a família contrapondo-a aos
direitos e à estabilidade psíquica e espiritual das pessoas LGBT.
Estas “defesas” soam como forma de se imiscuir de maneira pouco
evangélica em vivências familiares complexas em que todos sairiam
ganhando se o assunto fosse tratado com honestidade, escuta, paciência e
carinho.
O segundo ponto envolve a noção de Lei Natural.
Mesmo que a terminologia não seja muito comum no nosso meio, a realidade
visada nos é muito presente. Grande parte dos avanços no trato digno e
humano das pessoas LGBT tem sido fruto da crescente consciência tanto em nível científico quanto em nível popular de que nós, LGBT,
somos assim não por qualquer defeito ou deficiência, mas simplesmente
como algo que é. Sendo assim, como é o caso com todas as pessoas, o
nosso comportamento digno é fruto daquilo que somos. Ou seja, é a partir
de ser, e não apesar de ser, LGBT que entramos,
imbuídos com a força do Espírito Santo, naquela participação consciente e
ativa em nos tornarmos aquilo que Deus quer para nós, que caracteriza a
Lei Natural. Aprender aquilo que é, na prática, ser
filha ou filho de Deus tendo como um dos aspectos – um elemento pequeno,
mas não desprezível – de sua identidade o ser LGBT, é
uma grande tarefa de humanização para todos nós. Nesta tarefa não
ficamos isentos de todas as possibilidades, tanto de pecado quanto de
santidade, que desafiam qualquer pessoa. Contudo, observamos que quando a
autoridade eclesiástica fala da Lei Natural, ela
assume - aparentemente, sem se questionar - que somos de alguma maneira
marginais ao tema, somos julgados de maneira sempre negativa, por causa
de nossas inclinações que se supõem serem “objetivamente desordenadas”.
Ora, fica cada vez mais claro que a versão eclesiástica atual da Lei Natural carece de evidência na realidade. Por isso, exortamos os Senhores Bispos a não utilizar a Lei Natural como arma eclesiástica contra as pessoas LGBT e que deem mais espaço à dimensão da Lei Natural
que consiste em aprender por observação aquilo que realmente é, pois só
assim serão conhecidos e respeitados os desígnios do nosso Pai, Criador
de todas as coisas, nas nossas vidas. Só assim nos ajudarão a caminhar
segundo a vontade d’Ele.
O terceiro ponto trata do termo Pastoral. Desejamos ardentemente a existência de uma verdadeira Pastoral LGBT
no Brasil. Sabemos que nenhuma pastoral que não esteja fundamentada na
Verdade pode produzir bons frutos. E, de fato, há um grave problema
aqui, um dilema: ou somos pessoas heterossexuais consideradas
defeituosas, ou somos pessoas LGBT normais. No primeiro
caso, a Pastoral consistiria em nos ensinar a viver uma estrita
continência sexual, lutaria contra qualquer forma de reconhecimento da
nossa vida em comum, seja no civil seja no religioso, e talvez até
propusesse métodos para nos “curar” da desordem profunda que nos é
atribuída. No outro caso, a Pastoral teria a missão de nos ajudar a
florescer e crescer na fé a partir daquilo que somos; seu interesse se
voltaria, entre outras coisas, para a formação e estabilidade da nossa
vida conjugal e familiar, inclusive através da adoção de filhos, e para
fortalecer nosso compromisso com os mais sofridos através de projetos
sociais; e sobretudo, se empenharia em melhorar a vida de tantas
pessoas, especialmente das camadas mais empobrecidas e marginalizadas de
nossa sociedade, que sofrem todo tipo de discriminação no trabalho, na
educação, na saúde e outros âmbitos, por sua condição de LGBT, chegando até o ponto de serem jogadas na rua pelas suas famílias, e a se prostituírem para sobreviver.
A situação real na Igreja, no entanto, é que as autoridades
eclesiásticas não conseguem reconhecer publicamente sequer que existe
uma questão sobre a verdade a ser confrontada, embora no íntimo, tantos o
saibam muito bem. O resultado, que vemos no dia a dia, é um mundo onde
os leigos vão se dando conta cada vez mais facilmente de que não há
nenhuma desordem objetiva intrínseca ao fato de alguém ser LGBT.
Mas o clero, mesmo sabendo que muitos pertencem à nossa tribo, não
consegue tratar deste assunto honestamente. E ainda menos os Senhores,
cuja fala nesta esfera costuma ficar semelhante (com desculpas pela
comparação) aos discursos de outrora: “Nós fingimos ensinar, e o povo
finge aprender”. O resultado é que uma verdadeira e oficial pastoral
católica LGBT fica impossível! Os esforços pastorais
hoje existentes, a partir dos quais escrevemos esta carta, sobrevivem na
clandestinidade, sem acolhimento sincero, aberto e fraterno, em espaços
eclesiais não reconhecidos como tais. Pedimos, então, não como mera
questão acadêmica, mas como urgente exercício de responsabilidade
pastoral, que os Senhores busquem a maneira de entrar pública e
honestamente no processo de elucidar conosco aquilo que realmente é
neste campo. Sem medo da verdade, pois sem ela, nenhuma Pastoral
Católica é possível. O medo da verdade, além de pouco eficaz para a ação
pastoral, também é inútil, pois, como lemos na Declaração Dignitatis Humanae, n.1, do Concílio Vaticano II, "A verdade não se impõe de outro modo senão pela força da própria verdade."
O quarto e último termo é a Evangelização. Observamos com grande alegria a maneira como o Papa Francisco tem abordado este tema na Evangelii Gaudium
e sentimo-nos plenamente convocados a participar desta nova
evangelização. De fato, muitos de nós já estamos fazendo isto de
diferentes maneiras, exatamente como pessoas LGBT que
vivenciam profundamente a fé - infelizmente, sem qualquer apoio da
Igreja institucional. Mas nos sentimos animados pelo Papa quando ele nos
disse na JMJ 2013 que assim tem de ser, e que, mais
cedo ou mais tarde, os Senhores irão descobrir que nós estávamos fazendo
aquilo que devíamos, levando o conhecimento e a presença de Jesus
Cristo a diferentes periferias existenciais. Gostaríamos de ressaltar
que, para nós, descobrir que somos pessoas LGBT amadas
como tal por Deus, convidadas à irmandade de Jesus e à nova família
eletiva da Igreja, é parte da Boa Nova de Cristo. Na medida em que os
Senhores insistem em tratar todo movimento em prol da dignidade e
veracidade das pessoas LGBT como contrário ao Evangelho, em vez de discernir os elementos de Kairós
que nos chegam por meio deste movimento, da mesma forma se condena a
evangelização a ser uma repetição estéril, uma mera ideologia moralista.
A nossa experiência no Brasil, amplamente partilhada pelos nossos
amigos e irmãos LGBT em outros países, tanto católicos
quanto cristãos de outras Igrejas, aponta para a seguinte observação: as
gerações mais jovens não conseguem entender porque conhecer a Jesus
implica numa caracterização, que sabem que é falsa, das pessoas LGBT
com quem convivem como amigos, irmãos, filhos, vizinhos e colegas de
escola ou trabalho. Para a nova e verdadeira evangelização, feita com
aquele espírito de que fala o Papa Francisco na sua exortação
apostólica, é imprescindível descobrir qual é o elemento de “Boa Nova”
no assunto LGBT. Caso contrário, as gerações mais jovens não irão vos escutar.
Feitas estas observações gerais, passamos a responder às perguntas da seção 5 do questionário.
5 - Sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo
1. Existe no vosso país uma lei civil de reconhecimento das uniões de pessoas do mesmo sexo, equiparadas de alguma forma ao matrimônio?
Não existe uma lei propriamente dita, mas, graças a Deus, o Supremo Tribunal Federal equiparou a união civil entre pessoas do mesmo sexo ao matrimônio civil. Após a decisão do STF, o Conselho Nacional de Justiça
expediu resolução, com caráter normativo e vinculante aos cartórios,
que obriga os tabeliães a registrar uniões estáveis e casamentos entre
pessoas do mesmo sexo.
2. Qual é a atitude das Igrejas particulares e locais, quer diante do Estado civil promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, quer perante as pessoas envolvidas neste tipo de união?
Na nossa experiência, tanto a CNBB como as Igrejas
particulares eram obedientemente hostis à introdução destas realidades
no nosso meio, se bem que em tom menos agressivo e grosseiro que os
grupos evangélicos neopentecostais que protagonizaram a luta contra
nossos direitos. Em nível mais local, não causou tanto problema a nova
realidade legal, e como pessoas, algumas das quais envolvidas neste tipo
de união, temos poucas noticias de maus-tratos por pessoas ligadas às
paróquias, mas também poucas notícias de um acolhimento com júbilo.
Evidentemente há uma dificuldade em obter informações mais exatas já
que, oficialmente, toda atitude acolhedora neste tema tem sido
clandestina.
3. Que atenção pastoral é possível prestar às pessoas que escolheram viver em conformidade com este tipo de união?
Retomamos nosso terceiro parágrafo acima, sobre o termo Pastoral.
Prestamos todo o atendimento que nos é possível, em meio à
clandestinidade eclesial, e aguardamos o dia em que poderemos pensar, em
diálogo franco e aberto com nossos Bispos, os tipos adequados de
liturgia pública de bênção para estes casos, como também o
acompanhamento apropriado às diferentes etapas da vida das pessoas LGBT.
4. No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?
Há pouco a fazer enquanto as autoridades eclesiásticas ainda se
sentirem na obrigação de convencer as crianças adotadas por nós, pessoas
LGBT, que as suas famílias não são verdadeiras
famílias, e que suas mães ou seus pais são pessoas objetivamente
desordenadas que contrariam o plano de Deus ao formar uniões
caracterizadas por atos intrinsecamente maus. Se ultrapassarmos esta
posição, não haverá grande diferença quanto à transmissão da fé, sendo
as mesmas as facilidades e dificuldades de catequese para filhos
adotados por casais do mesmo sexo ou de sexos opostos. Ajudar a superar o
sentido do abandono na criança, sendo que muitas delas passam por
situações abomináveis antes de serem adotadas, vai muito além da mera
orientação sexual seja dos próprios filhos adotados, seja dos pais
adotivos.
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jbpsverdade: É impressionante a ação do mal sobre as criaturas de Deus, criaturas estas que por não se abrirem para a verdade, são seduzidas pelas artimanhas e ciladas do maligno e arrastam-nas para a condenação eterna onde é o lugar preparado para satanás e seus adeptos. Ora, querer fazer com que a Igreja fundada por Cristo seja a favor do homossexualismo é de uma incoerência tão grande que deixa até mesmo os anjos de "queixo caído".
Será que é tão difícil de entender que Deus abomina o pecado dos sodomitas (homossexualismo), e inclusive os que praticam tal pecado? Ora, sendo abominado por Deus jamais estarão inscritos no livro da vida do Cordeiro e consequentemente não entrarão na Nova Jerusalém Celeste, confirme tal afirmação verdadeira na Palavra de Deus, Ele é fiel ao que diz e faz.
Confirme... (Lv 18, 22), (Lv 20, 13), (I Cor 6, 9s), (Gl 5, 19ss), (Jd 6-7), (Ap 21, 8) e finalmente... (Ap 21, 27)
Diante de uma gama tão grande de verdade, ainda existe pessoas católicas que não aceitam-na e caminham para o fundo do lago de fogo e enxofre, isto é, a morte eterna.
Alias...
Não vos prendais ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunidade entre a luz e as trevas? Que compatibilidade pode haver entre Cristo e Belial? Ou que acordo entre o fiel e o infiel? Como conciliar o templo de Deus e os ídolos? Porque somos o templo de Deus vivo, como o próprio Deus disse: Eu habitarei e andarei entre eles, e serei o seu Deus e eles serão o meu povo (Lv 26,11s). Portanto, saí do meio deles e separai-vos, diz o Senhor. Não toqueis no que é impuro, e vos receberei. Serei para vós um Pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso (Is 52,11; Jr 31,9). (II Cor 6, 14-18)
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