ihu - Há apenas alguns dias, o sitio LifeSiteNews.com,
um dos mais importantes sites dos católicos integralistas
norte-americanos, convidava para rejeitar a tese dos cristãos liberais
segundo a qual o Papa Francisco está pouco interessado na luta contra o aborto e os casamentos gays: "Não é verdade, ele recebeu e elogiou os chefes do Instituto para a Dignidade Humana, muito comprometidos com essas questões", afirmara a publicação digital.
A reportagem é de Massimo Gaggi, publicada no jornal Corriere della Sera, 18-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas, nessa terça-feira, o mesmo site expressava sua consternação com a decisão do pontífice de excluir da Congregação para os Bispos
– um dos órgãos mais poderosos da Igreja, aquele que designa os chefes
das dioceses de todo o mundo – o cardeal norte-americano Raymond Burke (foto): o líder da cruzada antiabortista, um personagem em grande evidência sob o papado de Bento XVI e muito estimado também por João Paulo II.
"O movimento pró-vida está chocado", escreveu o site LifeSiteNews.com, mas o Papa Francisco
foi implacável. E provavelmente não poderia fazer diferente, depois das
críticas recebidas pelo cardeal norte-americano. Diante do seu convite a
não enfatizar demais as batalhas contra o aborto e o casamento gay,
concentrando-se mais nas questões por ele definidas como "essenciais",
ou seja, as da fé, da dignidade humana e da luta contra a pobreza, Burke
respondeu rispidamente: "E o que há de mais essencial do que a proteção
das leis éticas sobre a natureza do homem? Nunca falaremos o suficiente
da defesa da vida humana, dos nascituros indefesos que são privados do
seu direito à vida, do massacre dos não nascidos".
Uma rebelião aberta por parte de um cardeal nos antípodas de Francisco, da coreografia aos paramentos sagrados. Burke
continuou escolhendo os mais solenes, chamativos e "luxosos", em uma
implícita rejeição do vestuário mais sóbrio e humilde sugerido pelo
pontífice. Uma rebelião que Francisco decidiu não
tolerar, mas ao seu gesto não deve ser dado um significado doutrinário,
nem de "deslocamento à esquerda" do eixo da Igreja.
Francisco substituiu Burke por Donald Wuerl, o cardeal de Washington: um moderado que pode ser colocado à esquerda de Burke
só porque, ao contrário deste último, não quer negar o sacramento da
Comunhão aos políticos católicos favoráveis à livre escolha em relação
ao aborto, como o secretário de Estado, John Kerry.
Mas o Papa Francisco confirmou na Congregação que nomeia os bispos outro conservador moderado norte-americano: o cardeal William Levada, embora em posições menos duras do que as de Burke. Outra "depuração" entre os prelados conservadores dos EUA, a do cardeal Justin Rigali,
era óbvia, já que o ex-arcebispo da Filadélfia se envolveu em um
escândalo pelo péssimo modo pelo qual geriu o caso dos padres pedófilos
da sua diocese.
Em suma, o Papa Francisco não muda a doutrina
católica, mas reorienta as prioridades da Igreja e tenta abri-la mais às
instâncias do mundo. Mas sem rasgos. A atual corrente liberal dos
cristãos norte-americanos arrefeceu o seu entusiasmo com o sucessor de Bento XVI, quando, em outubro, o papa promoveu, nomeando-o como bispo de Hartford, Dom Leonard Blair: o prelado que liderou a investigação eclesiástica contra as irmãs progressistas que se rebelaram contra a rigidez da hierarquia eclesiástica dos EUA.
Agora, alguns começam a pensar (ou a esperar) que essa promoção foi desejada justamente por Burke e que, também por isso, o papa decidiu tirar-lhe a importante atribuição.
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