Em matéria de castidade, não existem fortes nem fracos. Diante de uma tentação impura, vence quem recorre imediatamente a Deus, sem negociatas.
Se há um mandamento que as pessoas reclamam ser difícil de cumprir,
este é, sem dúvida, o sexto mandamento. O escritor C. S. Lewis
reconhecia que "a castidade é a menos popular das virtudes cristãs".
Enquanto os de fora – e, não raro, os de dentro – inflam-se para falar
da pobreza evangélica, das virtudes da paciência e da humildade,
ergue-se, muitas vezes, em torno da moral sexual cristã, uma barreira de
silêncio ou mesmo de desobediência. "Porém, escreve Lewis, não existe
escapatória. A regra cristã é clara: 'Ou o casamento, com fidelidade
completa ao cônjuge, ou a abstinência total'."01
Para aqueles que não descobriram a centralidade do amor de Deus na
religião cristã, fica realmente muito difícil entender o porquê de "não
pecar contra a castidade" ou a ratio de todas as demais normas
morais católicas. O Papa Bento XVI, certa vez, alertou para o perigo de
deixarmos o Cristianismo transparecer mais como um "código de conduta"
que como um encontro real e profundo com Jesus Cristo:
"Não deveríamos permitir que a nossa fé seja vanificada pelos
demasiados debates sobre múltiplos pormenores menos importantes mas, ao
contrário, ter sempre à vista em primeiro lugar a sua grandeza.
Recordo-me quando, nos anos 80-90, eu ia à Alemanha e me pediam que
concedesse entrevistas: eu conhecia sempre antecipadamente as perguntas.
Tratava-se da ordenação das mulheres, da contracepção, do aborto e de
outros problemas como estes que voltam a apresentar-se continuamente. Se
nos deixarmos absorver por estes debates, então a Igreja identifica-se
com alguns mandamentos ou proibições, e nós passamos por moralistas com
algumas convicções um pouco fora de moda, enquanto não sobressai
minimamente a verdadeira grandeza da fé."02
Olhando para Cristo – e só olhando para Cristo –, é possível viver a
castidade. Sem contar com o auxílio indispensável da graça, ninguém pode
ser casto. C. S. Lewis reconhecia que "a castidade perfeita – como a
caridade perfeita – não será alcançada pelo mero esforço humano". "Você
tem de pedir a ajuda de Deus", escrevia. E Santo Afonso de Ligório
também fazia notar que "nós, revestidos de carne, não podemos por
própria força guardar a castidade; só Deus, em sua imensa bondade, nos
poderá dar força para tanto".
E, todavia, como a própria salvação humana é obra conjunta de Deus e
dos homens, da mesma forma a castidade exige do ser humano que ele se
crucifique para si mesmo. Isto se manifesta de modo eminente por uma
coisa que os grandes santos chamavam de "fuga da ocasião do pecado". "Um sem-número de cristãos se perde por não querer evitar as ocasiões de pecado",
diz Santo Afonso. Na luta contra a impureza, vence quem foge. Diante de
uma tentação, ao invés de encarar a investida maligna de frente, é
preciso recorrer imediatamente ao auxílio de Jesus e Maria.
É este o parecer comum dos santos da Igreja e não há motivos para
procurar outra senda. Adverte São Francisco de Sales: "Logo que notes
uma tentação, imita as criancinhas que, vendo um lobo ou um urso, se
lançam ao seio do pai e da mãe ou ao menos os chamam em seu socorro"03. O autor sagrado alerta que "quem ama o perigo nele perecerá"
(Eclo 3, 27). Se uma pessoa tem o firme propósito de guardar a sua
pureza, mas não evita os ambientes, as pessoas ou as coisas que o levam
ao pecado, então, este propósito tem pouco ou nenhum valor. Santo Tomás
de Aquino explica que a razão disso é que Deus nos abandona ao perigo
quando a ele nos expomos deliberadamente ou dele não nos afastamos.
Pode parecer difícil, a partir destas considerações, a vivência da
castidade. Afinal, são tantas as ocasiões em que o mundo oferece uma
proposta tentadora de felicidade nos lugares errados! A verdade é que
Jesus nunca disse que a luta seria fácil. "No mundo haveis de ter
aflições" (Jo 16, 33). Não é possível viver a castidade sem passar pela
experiência da Cruz. Vivida com amor, no entanto, esta verdadeira via
crucis adquire um belo significado. Como escreve São Josemaría Escrivá, "quando te decidires com firmeza a ter vida limpa, a castidade não será para ti um fardo; será coroa triunfal"04.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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Referências
- Cristianismo puro e simples, Livro III, n. 5
- Discurso do Papa Bento XVI na conclusão do encontro com os bispos da Suíça, 9 de novembro de 2006
- Filoteia (Introdução à Vida Devota), parte IV, cap. 7
- Caminho, n. 123
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