quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Quem foi Marcial Maciel, fundador da Legião de Cristo

Para o cardeal de Guadalajara (México), Juan Sandoval Íñiguez (foto), ele era um “psicopata e esquizofrênico”. 
“Eu acredito que o padre Maciel era um psicopata, porque as notícias que eu soube de suas andanças datam desde que eu era estudante, em Roma, que foi em 1956, 57 ou 58. Pode uma pessoa aguentar uma dupla vida ou tripla vida, por 50 anos, por meio século? Não. Aguenta-se por pouco tempo, mas por muito tempo, não”, destacou o religioso na apresentação do livro “Credo, retrato interior do cardeal Juan Sandoval Íñiguez”.

“Nesse caso, um esquizofrênico que tem personalidades divididas, pois pode viver uma de santo, outra de esposo, outra de homossexual, outra de grande empresário e tranquilamente. Por isso, eu digo que os seres humanos adoecem do cérebro é há personalidades desenquadradas que parecem normais, então isso é o que penso dele”.

O comportamento de Maciel prejudicou a imagem da Igreja, mas esta se recuperou, considerou Sandoval Íñiguez.

“A imagem se recupera porque poderia parecer que o padre Maciel é toda a Igreja. O padre Maciel foi um homem, um mexicano dentro da Igreja, fundador e se acabou, mas nós, os que não são como o padre Maciel, somos muito mais”, disse.
“A imagem se recupera porque poderia parecer que o padre Maciel é toda a Igreja. O padre Maciel foi um homem, um mexicano dentro da Igreja, fundador e se acabou, mas nós, os que não são como o padre Maciel, somos muito mais”, disse.

Sandoval apresentou seu livro na Catedral. Frente aos meios de comunicação, o prelado se referiu à violência e ao narcotráfico em Michoacán. Considerou que o governo “já tinha como perdida” a batalha contra o crime organizado.

“Não quero julgar a autoridade, é preciso fazer algo para remediar esse mal”, disse. Em seguida, acrescentou: “Não haverá paz (no México) enquanto não se eliminar os abortos. O número de assassinatos dos cartéis da droga é semelhante ao número de abortos”.
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Histórico da Legião de Cristo pede uma investigação criminal


ihu - "Com base em muitas informações sobre a Legião que vieram de vários países, o papa não vem sendo, a nosso ver, bem servido pelo trabalho do cardeal Velasio De Paolis, o canonista nomeado pelo Papa Bento XVI para supervisionar a ordem religiosa. Alguns daqueles que mais trabalharam para perpetuar as trapaças do fundador continuam ativos, influenciando a vida futura da organização. A comunidade nunca deu publicamente explicações para si própria ou lidou, de forma significativa, com seu passado ou com as mentiras junto das quais seus membros eram cúmplices conscientemente ou de modo involuntário", afirma em editorial, a publicação católica americana National Catholic Reporter, 24-01-2014.

Segundo o editorial, "merecemos saber como a duplicidade da Legião passou despercebida durante tanto tempo e até que ponto tal comportamento institucional chegou. Quantos outros foram enganados? Sabemos por experiência que obter descrições completas da atividade criminal de líderes da Igreja somente é possível quando autoridades civis intervêm com poder de exigir provas e testemunhos. A Legião tem dado motivos abundantes para tal intervenção".

A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Eis o texto.

A Legião de Cristo tem sido uma agência de fraudes quase inimagináveis. E isso por si só deveria ser motivo suficiente para as autoridades civis dar início a uma investigação criminal de suas atividades nos EUA e para que a Igreja proceda com extrema cautela ao permitir que o grupo continue.

A Legião, que era de muitas coisas menos de Cristo, construiu-se a partir da vida de um homem, o Pe. Marcial Maciel Degollado, que trafegou em trapaças, mentiras e crimes contra crianças. A natureza e extensão de sua fraude somente começou a ser reconhecida por meio de uma investigação do Vaticano nos últimos anos de sua vida.

Como relata Jason Berry, a Legião vem sendo alvo de duas ações judiciais no estado de Rhode Island, que alegam ter a ordem defraudado doadores idosos que acabaram morrendo sem saber o que aqueles que procuravam por suas fortunas conheciam muito bem: um homem que eles caracterizavam como santo havia sido acusado múltiplas vezes de abusar sexualmente de seminaristas e que, ao fim, foi punido pelo papa.

O primeiro processo foi indeferido com base em uma questão técnica, mas o juiz não deixou passar a oportunidade de fazer um julgamento severo da Legião e de suas táticas, e de divulgar milhares de páginas com testemunhos e evidências do caso, que haviam sido mantidas longe do público por uma ordem protetiva que a Legião havia requerido.

O indeferimento deste processo está agora pendente do recurso feito pela sobrinha da viúva rica que deu milhões à Legião, sem jamais saber que Maciel era uma fraude.

A segunda ação judicial acabou de superar um importante obstáculo em um tribunal federal com alegações de que a Legião cometeu fraude e abusou de idosos ao enganar um professor universitário em mais de 1 milhão de dólares.

Dado o que surgiu destes dois casos – um padrão de exploração da fé devota de católicos idosos incapazes de compreender o grau de depravação exibido por Maciel ao longo das décadas –, parece razoável que o procurador geral de Rhode Island, Peter Kilmartin, estuvesse curioso sobre quais outras fraudes poderiam ter sido perpetradas contra um público desavisado. O que sabemos é que a Legião necessitava de um enorme esforço para levantar recursos a fim de manter suas operações.

Tais operações, mantidas por um orçamento de centenas de milhões por ano, incluíam assegurar que Maciel tivesse dinheiro disponível à mão para suas viagens ao redor do mundo e, presumivelmente, cuidar de suas duas amantes e sua filha.

Sem dúvida, havia – e há – homens e mulheres envolvidos nas várias estruturas da Legião que permanecem por razões nobres e com elevadas intenções. Isso não exime as autoridades eclesiais de sua responsabilidade em extirpar do organismo um câncer que tem causado danos graves à comunidade.

Durante milênios a Igreja vem absorvendo movimentos religiosos e grupos entusiastas de todo tipo. No entanto, a Legião é inteiramente de uma outra espécie. Ela não tem um carisma, salvo para a fraude do fundador. Sua relação com o resto do mundo e com a Igreja está tão contaminada por corrupção e mentiras que fica difícil imaginar uma justificativa para sua continuidade. É uma convocação o que o Papa Francisco terá de fazer. Com base em muitas informações sobre a Legião que vieram de vários países, o papa não vem sendo, a nosso ver, bem servido pelo trabalho do cardeal Velasio De Paolis, o canonista nomeado pelo Papa Bento XVI para supervisionar a ordem religiosa. Alguns daqueles que mais trabalharam para perpetuar as trapaças do fundador continuam ativos, influenciando a vida futura da organização. A comunidade nunca deu publicamente explicações para si própria ou lidou, de forma significativa, com seu passado ou com as mentiras junto das quais seus membros eram cúmplices conscientemente ou de modo involuntário.

No lado civil, o padrão impressionante das táticas fraudulentas de captação de recursos por uma organização religiosa de caridade e o charlatanismo com americanos idosos apresenta-se como matéria que exige rigorosa investigação.

Uma investigação conduzida por autoridades policiais com poderes de intimação teria muito mais chance de descobrir a verdade destes casos do que os passos ainda em grande parte secretos das autoridades vaticanas. Neste caso, sabemos o suficiente para dizer que uma investigação criminal não poderia ser vista como uma atividade anticatólica. Muito pelo contrário. Trata-se de um ato público para o bem comum. A Legião procurou receber favores da comunidade em geral; procurou ter sua confiança e recursos financeiros, ao comercializar uma imagem que estava anos luz distante da verdade.

Merecemos saber como a duplicidade da Legião passou despercebida durante tanto tempo e até que ponto tal comportamento institucional chegou. Quantos outros foram enganados? Sabemos por experiência que obter descrições completas da atividade criminal de líderes da Igreja somente é possível quando autoridades civis intervêm com poder de exigir provas e testemunhos. A Legião tem dado motivos abundantes para tal intervenção. Apelamos ao procurador geral do estado de Rhode Island para abrir um processo de investigação criminal da Legião de Cristo.

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