terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A educação e a verdadeira formação do saber


O ato de educar não pode ser confundido com uma espécie de 'adestramento' ou informação.

 
A educação não pode ser confundida com uma espécie de 'adestramento' ou informação.
Por Dom Jaime Spengler*

A obra da educação é nobre e distinta, necessária e desafiadora, sempre urgente e complexa. Educar requer determinação e clareza, disposição e compreensão, necessidade de sair de si e ir ao encontro do educando com suas potencialidades e fragilidades.
Na atenção à obra da educação, está sempre presente – ou deveria estar – a necessidade de compreender aspectos fundamentais do próprio processo educacional de nossos adolescentes e jovens, tais como desenvolvimento, maturidade, maioridade, liberdade, agressividade, autoridade, direcionamento, obediência, capacitação, formação, educação, aprendizagem, ensino, normatividade, identidade, comunicação, costume, postura, motivação, convívio social, valores, ética, arte, beleza, criatividade, limites.

Sabemos que a pessoa é dom e tarefa. É dom porque sua identidade característica é única! É tarefa porque precisa ser construída e construir-se, precisa aprender o que é com suas potencialidades, e se deixar formar. Trata-se de um trabalho decidido e dedicado, empenhado e empenhativo, que envolve cada pessoa e toda a sociedade.
A educação não se limita à assimilação, adaptação e associação. Não se pode cair na simplificação dos processos, passando ao largo de possibilidades essenciais de aprendizagem. Existem funções elementares da vida que precisam ser trazidas para dentro de uma totalidade existencial esclarecida que, por vezes, são tidas como evidentes, mas que, na verdade, não o são.

A criatividade, por exemplo, expressa o que o ser humano tem de mais original. Trata-se de uma característica vigorosa dos adolescentes e jovens e que precisa ser promovida e orientada a partir de sua originalidade transparente, sem transcurar a tarefa de preparar o humano para decisões originais, e instaurar nele uma liberdade derradeira frente ao próprio processo educativo. Ao lado da criatividade, encontramos a força investigativa como atividade marcadamente jovem e que é aspecto integrante do trabalho educacional.

Há também o cuidado com a dimensão do incomparável, que não pode ser mostrado e transmitido em um processo educacional, embora sobreviva em muitos objetos pertencentes à educação: na história, na arte, na vida política e religiosa. Nesse âmbito, o trabalho está mais ocupado em desobstruir o ver, o compreender ou o poder, do que propriamente sugerir algo para o ver, o compreender e o poder.

Os aspectos acima salientados requerem muito mais que investigação: exigem estudo. E estudo não pode ser identificado sem mais com o fenômeno da educação. O estudo perpassa a obra de educar. Poderíamos, talvez, dizer que o estudo alcança de tal modo os fatos, que daí surgem alternativas para os caminhos em que se pode conquistar horizontes necessários para a apreensão da coisa, para melhorar o processo educacional.

Por que todas essas considerações? Para talvez vislumbrar uma distinção que precisamos sempre e de forma nova compreender: a educação não pode ser confundida com uma espécie de ‘adestramento’ ou informação. Até porque informação nunca foi sinônimo de formação!

Não basta, por exemplo, ser informado sobre posturas sociais como diligência e honestidade, sinceridade e confiabilidade, camaradagem, solidariedade, dignidade, honra, respeito humano, direitos humanos. A questão nesse contexto é saber, isto é, educar para o “aprendizado” que tais posturas necessitam. Assim, talvez, estaríamos despertados para aspectos da obra da educação que precisam de abordagem honesta e franca; expressão de uma opção preferencial da sociedade em favor dos adolescentes e jovens – patrimônio maior de um povo, de uma nação!

CNBB, 24-2-2014.

*Dom Jaime Spengler é arcebispo de Porto Alegre (RS).

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