sábado, 15 de março de 2014

Bispos irlandeses decidem não publicar as respostas do questionário para o Sínodo

ihu - Os bispos irlandeses foram fortemente criticados após decidirem que não publicariam os resultados da pesquisa do Vaticano sobre a família.
As principais conclusões dos católicos irlandeses sobre questões como sexo antes do casamento, homossexualidade e comunhão para os divorciados e recasados irão ficar guardadas até o Sínodo, encontro dos bispos de todo o mundo que o Papa Francisco convocou e que acontecerá no final deste ano.
A reportagem é de Michael Kelly, publicada por National Catholic Reporter, 12-03-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Os resultados das pesquisas disponibilizadas ao público por outras conferências episcopais – incluindo as conferências da Alemanha e Suíça – até agora mostram uma clara divergência entre o que a Igreja ensina sobre casamento, sexualidade e vida familiar e no que os católicos acreditam em âmbito pessoal.
Um porta-voz dos bispos irlandeses disse que os resultados da pesquisa são “assuntos para o Sínodo dos Bispos e não para a Igreja local”, relatou o jornal The Irish Catholic em 13-02-2014. Isso iria “minar a integridade do processo de coleta de informações, se tivesse de ser feito um comentário por parte de um representante da Igreja irlandesa neste momento”, disse ele.
A Associação dos Sacerdotes Católicos – que representa cerca de um quarto dos padres irlandeses e que pede por reformas liberais na doutrina da Igreja – ficou desapontado com a decisão. Um porta-voz da associação disse que a declaração dos bispos é “contrária à abertura que o Papa Francisco está encorajando em todos os níveis da Igreja”.
“Numa época em que a Igreja irlandesa é vista com desconfiança, tememos que esta decisão dos bispos sirva somente para fazer as pessoas se perguntarem se eles realmente relataram as opiniões das pessoas”, falou o porta-voz da associação.
O arcebispo de Dublin, Dom Diarmuid Martin, quebrou o silêncio em 27-02-2014 durante um encontro na Faculdade Holy Cross, o maior seminário da cidade de Dublin. A doutrina da Igreja sobre o controle de natalidade, coabitação, relações homoafetivas e divórcio está “desconectada da experiência da vida real das famílias – e não apenas das pessoas mais jovens”, disse Martin.
Muitos dos participantes da pesquisa em Dublin “disseram que a doutrina parece não ser prática para com as lutas diárias das pessoas, sendo – na melhor das hipóteses – um ideal, muito pouco realista. Parece haver uma ‘teoria prática’ das lacunas”, afirmou.
Embora houvesse claramente entre os respondentes “hesitação, mal-estar e oposição” aos casamentos homoafetivos, “muitos perceberam que deveria existir alguma forma de reconhecer, em termos civis, uniões homossexuais estáveis”, disse Martin.
Há mais do que indícios mostrando que os católicos irlandeses diferem, em níveis significativos, das doutrinas controversas da Igreja, em particular acerca da sexualidade humana.
O relatório de uma visitação apostólica da Igreja na Irlanda, em 2012, criticou o que descreveu como sendo uma “certa tendência, não dominante porém bastante difundida entre os sacerdotes, religiosos e leigos, para sustentar opiniões teológicas em desacordo com os ensinamentos do magistério”.
Uma pesquisa de 2012 – realizada pelo respeitado centro Amarach Research e encomendada pela associação dos sacerdotes irlandeses – mostrou que 3 de cada 4 católicos do país acham a doutrina da Igreja sobre sexualidade “irrelevante”.
Uma parcela equivalente a 87% acredita que os padres deveriam ter a permissão para se casar, enquanto 77% dizem que a Igreja deveria admitir mulheres no sacerdócio.
À pergunta “Em que medida você concorda com a doutrina da Igreja Católica segundo a qual qualquer expressão sexual de amor entre um casal gay é imoral?”, 61% dos católicos disseram discordar, enquanto 18% acreditavam que os atos homossexuais seriam imorais.
Apenas 5% dos católicos acreditam que aos católicos divorciados ou separados que vivem um segundo casamento deveriam ser negado a comunhão, enquanto que 87% disseram não ter problemas em participar da comunhão em tais circunstâncias.

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