quarta-feira, 19 de março de 2014

José, o prófugo

Na passagem da antiga para a nova aliança 

 


A família de Jesus insere-se imediatamente na longa lista que chega aos nossos dias e que inclui prófugos, clandestinos e migrantes. De facto, quando o menino Jesus tem poucos meses, José é representado a caminho com ele e com a esposa Maria através do deserto de Judá para se abrigar no Egipto, longe do pesadelo do poder sanguinário do rei Herodes.

Belém é o ponto de partida da narração. O imperador romano Adriano no século II confirmou a presença de um inicial culto cristão em volta de uma gruta venerada pelos primeiros cristãos, desconsagrando-a com um templo dedicado a Adónis. Já no ano 220 o grande mestre cristão Orígenes de Alexandria do Egipto, quando chegou à Palestina, escrevia: «Em Belém mostra-se a gruta onde, segundo os evangelhos, Jesus nasceu e a manjedoura na qual, envolto em faixas, foi colocado. O que me mostraram é familiar a todos os habitantes da região. Os próprios pagãos dizem a quem quiser ouvir que naquela gruta nasceu um certo Jesus que os cristãos adoram» (Contro Celso, I, 51). Aqui, há séculos, os cristãos celebram com fé e alegria o Natal do Senhor: a 25 de Dezembro os católicos, a 6 de Janeiro os ortodoxos, a 19 de Janeiro os arménios; datas diversas em recordação de uma data desconhecida – talvez o ano 6 a.C. (sabe-se que a datação actual da era cristã quase certamente é errónea) – daquele ano no qual Jesus entrou na nossa história. Também nisto ele se revela pobre, não consta nos anais e dos registros imperiais.
Aliás, sobre ele estende-se imediatamente o pesadelo da repressão. Jesus, visto pela polícia secreta de Herodes como um dos muitos pequenos perigos para o poder oficial, devia ser liquidado depressa.
Começa assim para Jesus a vicissitude de prófugo.

Gianfranco Ravasi

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