Na passagem da antiga para a nova aliança
18 de Março de 2014
A família de Jesus
insere-se imediatamente na longa lista que chega aos nossos dias e que
inclui prófugos, clandestinos e
migrantes. De facto, quando o menino Jesus tem poucos meses, José é
representado a caminho com ele e com a esposa Maria através do deserto de Judá
para se abrigar no Egipto, longe do pesadelo do poder sanguinário do rei
Herodes.
Belém é o ponto de
partida da narração. O imperador romano Adriano no século II confirmou a
presença de um inicial culto cristão em volta de uma gruta venerada pelos
primeiros cristãos, desconsagrando-a com
um templo dedicado a Adónis. Já no ano 220 o grande mestre cristão Orígenes de
Alexandria do Egipto, quando chegou à Palestina, escrevia: «Em Belém mostra-se
a gruta onde, segundo os evangelhos, Jesus nasceu e a manjedoura na qual,
envolto em faixas, foi colocado. O que
me mostraram é familiar a todos os habitantes da região. Os próprios
pagãos dizem a quem quiser ouvir que
naquela gruta nasceu um certo Jesus que os cristãos adoram» (Contro Celso,
I, 51). Aqui, há séculos, os cristãos celebram com fé e alegria o Natal do
Senhor: a 25 de Dezembro os católicos, a 6 de Janeiro os ortodoxos, a 19 de
Janeiro os arménios; datas diversas em recordação de uma data desconhecida –
talvez o ano 6 a.C.
(sabe-se que a datação actual da era cristã quase certamente é errónea) –
daquele ano no qual Jesus entrou
na nossa história. Também nisto ele se revela pobre, não consta nos anais e dos
registros imperiais.
Aliás, sobre ele
estende-se imediatamente o pesadelo da repressão. Jesus, visto pela polícia
secreta de Herodes como um dos muitos pequenos perigos para o poder oficial,
devia ser liquidado depressa.
Começa assim para
Jesus a vicissitude de prófugo.
Gianfranco Ravasi
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