quarta-feira, 19 de março de 2014

Revista Times: 'Papa lança desafio ao mundo'



Nancy Gibbs destaca o modo como Francisco faz "sentir sua presença na Igreja e no mundo".

 

Por Elena Molinari

A revista norte-americana Time escolhe a pessoa do ano (até 1999, era o "Homem do Ano") desde 1927 – o primeiro foi Charles Lindbergh –, mas Jorge Mario Bergoglio é apenas o terceiro papa a ter sido agraciado com o título. Francisco foi precedido por João XXIII em 1962, às vésperas do Concílio Vaticano II, e por João Paulo II em 1994, quando ambos tinham ao menos três anos de pontificado sobre os ombros.
Para escolher o novo pontífice como "person of the year", a diretora da Time, Nancy Gibbs (a primeira mulher à frente da histórica revista), precisou de apenas nove meses. É justamente a novidade da personalidade e do estilo de Francisco, explica Gibbs, o modo pelo qual ele fez "sentir imediatamente a sua presença na Igreja e no mundo" que impressionou o comitê que decide a quem atribuir a mais vendida e a mais vista capa da Time do ano.  
Leia a entrevista:

Como funciona o processo de escolha da pessoa do ano?

É um processo democrático até quase no fim, quando a decisão cabe ao diretor. A partir de novembro, eu começo a receber as nomeações dos correspondentes e dos leitores, e o discuto com os redatores-chefe. É um processo que dura semanas, até meados de dezembro.

O que você busca na pessoa que recebe o título?

A definição clássica é "a pessoa que teve a maior influência sobre a sociedade no ano passado". Nem sempre em sentido positivo.

E o que faz surgir o nome de Francisco?

O seu próprio nome, para começar. Tão simbólico do seu estilo pastoral. Na escolha, buscamos sempre um equilíbrio entre poder institucional e poder individual. Nesse caso, tínhamos pela frente um homem com enorme poder, mas que o exerce a partir de baixo, a partir do seu contato com as pessoas. Uma pessoa que tem uma posição de imensa influência, mas que se apresenta com grande humildade. E a combinação não é artificial, mas absolutamente genuína e crível.

A redação conhecia Bergoglio antes da sua eleição a papa?

Bem pouco, e isso é significativo. O novo papa deu tanta esperança para tantas pessoas em tão pouco tempo de um modo que ninguém mais soube fazer. Ficamos impressionados com a velocidade com a qual ele capturou a imaginação de milhões de pessoas. Em poucos meses, Francisco colocou novamente no primeiro lugar a missão consoladora da Igreja, a imagem da Igreja como refúgio em um mundo impiedoso. É um papa pastor, no sentido da parábola do bom pastor, que deixa 99 ovelhas segura protegidas para ir buscar a ovelha perdida. Isso por si só lhe valeu o título.

Pesou o fato de ele não ser um papa europeu?

Francisco é o primeiro papa do novo mundo. E esse é um evento histórico. Além disso, ele foi eleito em um momento em que a Igreja precisava renovar a sua energia, e ele soube infundir um incrível carisma que parece vir do nada. Ele tem 77 anos, mas reza missa para os imigrantes, lava os pés dos presos, repete que quer uma Igreja como um hospital de campanha e se alia com os que estão sozinhos.

A redação da Time levou em consideração o impacto da presença de Francisco sobre o resto do mundo ou só sobre os católicos?

Francisco se preocupa com os pobres, católicos ou não. Muitas coisas que ele disse e fez emocionaram muitas pessoas, de todas as fés. Ficamos impressionados como o papa rapidamente trouxe de novo à tona os temas da desigualdade, da pobreza e da globalização. São debates que já estávamos tendo como nação e como comunidade internacional. Mas faltava uma figura que se colocasse à frente dessa conversa global. O papa se tornou essa figura. Ele lançou um desafio para enfrentar os problemas do mundo contemporâneo, imitando Jesus Cristo. E poderia, assim, ter encontrado o modo de desvincular a Igreja Católica das guerras de cultura do século XX. Em um tempo muito curto, ela mudou a percepção mundial de uma instituição com 2.000 anos de história.

Foi uma escolha difícil essa de 2013?

Foi um ano particularmente interessante para a escolha. Não havia muitos candidatos óbvios. Quatro das cinco personalidades que havíamos selecionado eram desconhecidas a nós apenas um ano antes. Isso demonstra o quão rapidamente o poder muda de mãos nestes tempos.

Avvenire, 13-03-2014.

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