Eurodeputada Cristiana Muscardini luta contra a tendência de alguns países a intervir com termos extravagantes na configuração da sociedade.
Roma,
(Zenit.org)
Por Federico Cenci
Existe alguém, nos salões do Parlamento da União Europeia,
que está lutando para defender o direito das crianças de chamar seus
pais de... pai e mãe. É um direito aparentemente óbvio, pelo qual
ninguém precisaria estar lutando. Mas... De acordo com uma terminologia
escolar que parece estar se espalhando como fogo por alguns
países-membros da União Europeia, até mesmo este direito evidente está
sendo inesperadamente pisoteado.
É por isso que, na semana passada, a eurodeputada italiana Cristina
Muscardini se mobilizou: mulher combativa, ela escreveu de próprio
punho uma carta ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e fez um
questionamento parlamentar.
Ela nos conta: "Nós temos um fenômeno que está ganhando cada vez mais
terreno: o de uma burocracia que distorce a realidade para promover o
suposto ‘politicamente correto’. Em vários países-membros da União
Europeia e em várias localidades da Itália, estão substituindo os campos
‘pai’ e ‘mãe’, nos formulários escolares, por umas ‘figuras
mitológicas’ em ordem hierárquica: ‘genitor 1’ e ‘genitor 2’".
Muscardini considera essa tendência “grotesca” e dispara: "Não
podemos aceitar isso. E não é por razões ideológicas nem religiosas, mas
simplesmente porque é contra os fatos reais e contra a lei da natureza:
um filho tem um pai e uma mãe, sejam eles conhecidos ou não".
Quando pergunto até que ponto, mesmo não tendo jurisdição sobre tais
assuntos, a União Europeia está incentivando uma cultura que põe em
xeque o conceito tradicional de família, Muscardini me responde com
palavras contundentes: "Desde os relatórios Estrela e Lunacek, em
praticamente todas as sessões plenárias nós ficamos discutimos leis que
querem regulamentar a sexualidade das pessoas impondo normas europeias".
Se o relatório Estrela foi mandado embora do Parlamento Europeu pela
porta, os princípios contidos nele voltaram a Estrasburgo pela janela,
através do relatório Lunacek, aprovado no mês passado. Muscardini
acredita que é "louvável" a iniciativa do relatório de combater a
homofobia, mas vê nele "contornos lábeis que podem minar a liberdade de
expressão para aqueles que, sem ser homofóbicos, criticam certas
configurações familiares e as normas que as regulamentam".
A eurodeputada se diz preocupada com este novo relatório: "O objetivo
dele é levar para as escolas, desde bem cedo, a ideologia de gênero. E
mais importante: ele invade o campo dos direitos da família, que é de
competência dos países-membros. É um sinal que alguns grupos dentro do
Parlamento Europeu quiseram dar à sociedade". Mas, levando em conta que
"isso não terá um grande impacto do ponto de vista legislativo", a
parlamentar vê o relatório como algo confinado ao âmbito da “mera
propaganda”.
Muscardini, porém, espera atenção maior da UE para questões mais
urgentes. "É muito estranho que haja tanto ativismo no tocante à
sexualidade e um silêncio tão culpado no tocante à situação das crianças
na Europa". Sua referência é ao “Jugendamt”, instituto alemão que, no
caso de filhos de casais mistos, determina que as crianças filhas de pai
ou mãe alemães devem viver na Alemanha, falar alemão e não ter
praticamente nenhuma relação com o progenitor não-alemão, nem com sua
família, nem com sua cultura. "Numa Europa que liberalizou bens e
pessoas, as crianças ainda não têm direitos iguais nos diferentes países
da União. Isso não vai favorecer o nascimento nem o crescimento da
própria União".
Voltando aos esforços contra a terminologia extravagante, a deputada
italiana no Parlamento Europeu apresentou uma proposta alternativa aos
termos "genitor 1" e " genitor 2": "Na sociedade moderna, também existem
tutores, pais adotivos, casais gays, pais divorciados e recasados,
mães solteiras, enfim, uma série interminável de casuísticas que
poderíamos reunir no termo ‘outros’. É isso o que eu proponho como
alternativa: incluir a categoria ‘outros’ ao lado de ‘mãe’ e ‘pai’. Esta
é uma proposta inclusiva, não exclusiva".
“Não temos que pensar só nos casais homossexuais, que, aliás, não são
tantos, mas também nos avós, tias, tios, tutores e pessoas que adotam
ou cuidam de órfãos ou de crianças obrigadas a se separar dos pais por
causa de situações-problema".
Pergunto a ela se esta é uma proposta concreta ou uma provocação.
Ela responde: "É uma proposta inclusiva e de bom senso". Depois de um
suspiro, porém, ela completa: "Mas o bom senso, na Itália de hoje, já
virou uma provocação".
Nenhum comentário:
Postar um comentário