Texto completo da catequese do Papa Francisco
Cidade do Vaticano,
(Zenit.org)
Durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 16 de abril, o
Santo Padre Francisco destacou em sua catequese a liturgia do dia, que
narra a traição de Judas, o início da Paixão de Cristo. Eis o texto na
ítegra:
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, no meio da Semana Santa, a liturgia nos apresenta um episódio
triste: a história da traição de Judas, que vai até os líderes do
Sinédrio para mercantilizar e entregar a eles o seu Mestre. “Que me
dareis se vos entregar Jesus?”. Cristo, nesse momento, tem um preço.
Este ato dramático marca o início da Paixão de Cristo, um caminho
doloroso que Ele escolhe com liberdade absoluta.
Ele mesmo diz claramente: “Eu dou a minha vida… Ninguém a tira de
mim; eu a dou por mim mesmo. Eu tenho poder para entregá-la e autoridade
para tomá-la novamente”(Jo 10,17-18). E assim, com essa traição, começa
o caminho da humilhação, da espoliação de Jesus. Como se ele estivesse
no mercado: isso custa trinta moedas de prata… Uma vez no caminho da
humilhação e da desapropriação, Jesus o percorre até o fim.
Jesus chega à humilhação completa com a “morte de cruz”. Trata-se da
pior morte, pois era reservada para escravos e criminosos. Jesus era
considerado um profeta, mas morre como um criminoso. Olhando para Ele em
Sua Paixão, como podemos ver em um espelho os sofrimentos da
humanidade, encontramos a resposta divina para o mistério do mal, da
dor, da morte. Tantas vezes, sentimos horror pelo mal e a dor que nos
rodeia, e perguntamos: “Por que Deus permite isso?”. É uma ferida
profunda para nós ver o sofrimento e a morte, especialmente o a dos
inocentes! Quando vemos crianças sofrendo, é uma ferida para o coração, é
o mistério do mal. Jesus toma todo esse mal, todo esse sofrimento sobre
si mesmo. Nesta semana, será bom olhar para o crucifixo, beijar as
feridas de Jesus, beijá-Lo no crucifixo. Ele tomou sobre si todo o
sofrimento humano e se revestiu desse sofrimento.
Esperamos que Deus, em Sua onipotência, derrote a injustiça, o mal, o
pecado e o sofrimento com uma vitória divina triunfante. Em vez disso,
Deus nos mostra uma vitória humilde que parece humanamente um fracasso.
Podemos dizer que Ele vence no fracasso. O Filho de Deus, de fato,
parece na cruz um homem derrotado: sofre, é traído, caluniado e, por
fim, morre. Mas Jesus permite que o mal esteja sobre Ele; assim, o toma
para si e o vence. Sua Paixão não é um acidente; sua morte – aquela
morte – foi “escrita”. Realmente, não encontramos muitas explicações. É
um mistério desconcertante, o mistério da grande humildade de Deus:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho único” (Jo
3, 16).
Nesta semana, pensamos tanto na dor de Jesus e dizemos para nós
mesmos: isto é por mim. Mesmo que eu fosse a única pessoa no mundo, Ele o
teria feito. Ele fez isso por mim. Beijamos o crucifixo e dizemos: ‘Por
mim, obrigado Jesus, por mim’.
Quando tudo parece perdido, quando não resta ninguém, porque
golpearam o “pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersaram” (Mt 26,31),
é aí, então, que Deus intervém com o poder da ressurreição.
A ressurreição de Jesus não é o fim de um conto de fadas feliz, não é
o fim feliz de um filme, mas a intervenção de Deus Pai quando a
esperança humana estava perdida. No momento em que tudo parece perdido,
no momento de dor, no qual muitas pessoas sentem que precisam descer da
cruz, é o momento mais próximo da Ressurreição. A noite fica mais
escura, pouco antes de começar a manhã, antes de começar a luz. No
momento mais sombrio, Deus intervém e ressuscita.
Jesus, que escolheu passar por esse caminho, nos chama a segui-Lo no
mesmo caminho de humilhação. Quando em determinados momentos da vida
encontramos alguma saída para nossas dificuldades, quando nos afundamos
na escuridão mais espessa, é o momento da nossa humilhação e espoliação
total, a hora em que nós experimentamos que somos fracos e pecadores. É
próprio, neste momento, que não devemos mascarar o nosso fracasso, mas
nos abrir, com confiança, à esperança em Deus, como fez Jesus.
Queridos irmãos e irmãs, nesta semana, nos fará bem pegar o crucifixo
na mão e beijá-lo muito, muito, e dizer: “Obrigado, Jesus! Obrigado,
Senhor!”. Que assim seja.
(Trad.: Canção Nova)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.