Por Philip Pullella
Na Cidade do Vaticano
Dario Lopez-Mills/AP
Papa João Paulo 2º, comandou a Igreja Católica entre 1978 e 2005
O prelado católico que liderou a campanha para canonizar o falecido
papa João Paulo 2º isentou o pontífice nesta terça-feira (22) das
acusações de que ele fez vista grossa a um dos maiores escândalos de
abuso sexual da igreja.
As vítimas de abuso sexual criticaram de
imediato a defesa de João Paulo 2º, que morreu em 2005 e será
canonizado em uma cerimônia neste final de semana, assim como o papa
João 23, que reinou entre 1958 e 1963.
Embora o falecido papa
polonês seja quase universalmente saudado por ter auxiliado na derrocada
do comunismo, seus críticos dizem que ele demorou para entender a
seriedade da crise de abusos sexuais que emergiu perto do final de seu
pontificado.
Mais especificamente, seus críticos vêm
pressionando o Vaticano a respeito do que o papa sabia sobre os abusos
do padre Marcial Maciel, o mexicano fundador de uma ordem religiosa
católica caída em desgraça, os Legionários de Cristo.
Durante
anos, Maciel viveu uma vida dupla como pedófilo, abusador de mulheres e
viciado em drogas enquanto comandava a ordem que criou, e era tido como o
exemplo de um líder religioso notável. A ordem tinha muitos benfeitores
ricos e conservadores que a viam como um bastião contra o liberalismo
na igreja.
"Não há sinal de envolvimento pessoal do Santo Padre
nesta questão", disse o monsenhor Slawomir Oder quando indagado se o
papa sabia das más ações de Maciel.
Oder, também polonês e o
grande porta-estandarte da canonização de João Paulo 2º, afirmou que
documentos estudados durante a investigação de santidade deram "uma
resposta muito clara" isentando o papa de culpa pessoal no caso Maciel.
Durante anos, a ordem mundial desfrutou do apoio do papa, e o Vaticano
descartou acusações de seminaristas de que Maciel os abusou sexualmente,
alguns deles quanto tinham doze anos.
João Paulo 2º apoiou Maciel firmemente, mesmo quando as críticas ao padre cresciam.
O que o papa sabia?
Os defensores de João Paulo 2º vêm
dizendo que, embora seus auxiliares possam ter sabido que as alegações
eram verdadeiras, ocultaram muitas informações do pontífice, que
acreditava serem parte de um complô contra a igreja, semelhante àquelas
das autoridades comunistas de sua Polônia nativa durante a Guerra Fria.
Os críticos do papa contestam essa versão.
"Os papas não podem deter grande poder e se eximir da responsabilidade
por grandes equívocos só porque seus auxiliares podem tê-lo protegido
cuidadosamente dos detalhes sórdidos", afirmou a entidade Rede de
Sobreviventes de Vítimas de Abusos de Padres (Snap, na sigla em inglês),
sediada nos Estados Unidos, em um comunicado.
Em 2006, um ano
após a morte de João Paulo 2º, uma nova investigação do Vaticano
concluiu que as acusações de molestações - anteriormente negadas - eram
verdadeiras. O papa Bento 16 ordenou que Maciel se recolhesse para uma
vida de "oração e penitência".
Maciel morreu em 2008, e depois
de sua morte investigações revelaram que ele também foi pai de várias
crianças com pelo menos duas mulheres diferentes, visitava-as
regularmente e lhes enviava dinheiro. Ele ainda molestou seus próprios
filhos.
"O Vaticano está se esquivando. O homem está se tornando
um santo, então por que esconder a verdade?", disse Jason Berry,
co-autor do livro "Votos de silêncio", de 2004, que expôs o histórico de
abusos de Maciel.
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