Ao vir a este mundo, Jesus Cristo se revestiu do
divino poder de ensinar, operar milagres e expulsar demônios. Agora na
Quaresma a Igreja propõe para reflexão dos fiéis o Evangelho em que o
Filho de Deus expulsa o demônio de um homem cego e surdo-mudo, operando
três milagres de uma só vez: o de fazê-lo ver, ouvir e falar.
O Evangelho traz ensinamentos para todos os tempos. Que lição podemos
tirar hoje desse prodígio? O mundo contemporâneo se nega a ouvir, falar
e ver, pois grassa nele uma surdez e mudez generalizada à palavra de
Deus, cujos ensinamentos não são ouvidos nem pregados.
Enquanto o vício e o erro se desfecham na devassidão dos costumes,
desviando as pessoas do ensinamento perene da Igreja, Ela mostra que
Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Ao realizar o tríplice milagre,
nosso Salvador concorreu para que através dos séculos muitos cressem nos
seus divinos preceitos e os aceitassem.
Enquanto a multidão rendia glória a Deus por milagre tão sublime,
escribas e fariseus se empenhavam em não reconhecê-lo, atribuindo o
prodígio a Belzebu. A contradição — um demônio contrapondo outro — foi
aproveitada por Nosso Senhor em sua réplica: “Todo reino dividido perecerá”.
Em que pese a crise instalada na Igreja, o seu reino e a sua fé
inabalável e indivisível subsistirão sempre nesta Terra de exílio, onde
haverá uma luta perpétua entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro,
entre luz e as trevas, luta que durará até a consumação dos séculos,
pois que foi prescrita pelo próprio Deus.
Nosso Senhor revidou os inimigos ao afirmar que não era pelo poder do
demônio que Ele expulsava demônios, mas pelo dedo de Deus. Ele se
referiu ao Espírito Santo, pois Jesus lia e perscrutava os pensamentos
daqueles fariseus e respondia as objeções que estavam no segredo de seus
corações. Caso Nosso Senhor tivesse recorrido às Escrituras, eles não
teriam prestado atenção. De onde a comparação entre cidades e reinos,
pois é grande a união dos súditos em torno de reinos e casas.
No mundo atual se propaga uma crise avassaladora, crise de fé com
suas múltiplas consequências: crise da família, da sociedade, da
propriedade, das instituições, dos valores, dos costumes, e até dos
hábitos. Como um grande incêndio, tal crise invade todos os segmentos do
corpo social, chegando mesmo a ser generalizada e constante, rumo ao
caos. E isso só pode ser obra do demônio e de seus satélites.
Ao expulsar o demônio daquele homem, Jesus quis nos ensinar acerca do
poder conferido à Sua Igreja, o de anunciar o Evangelho. Ele não apenas
expulsou aquele demônio, mas conquistou méritos infinitos para a Igreja
com a Sua paixão e morte.
Segundo a narração do Evangelho, depois de expulso o demônio andou
por lugares secos e áridos; e não podendo voltar para aquele homem, pois
sua alma estava ornada e limpa, tomou então sete espíritos piores para a
ele retornar, tornando-o pior do que antes. Assim acontecerá com esta
geração perversa e má.
Hoje presenciamos a apostasia do mundo ocidental. O que aconteceu com
o povo judeu ao rejeitar o Salvador repete-se hoje com o abandono da
Igreja verdadeira por parte não apenas dos fiéis, mas de muitos de seus
pastores.
Assistimos a uma verdadeira paixão da Igreja, a qual já teria
perecido se não fosse imortal. Assim como Jesus foi condenado à morte,
morrem hábitos, costumes e modos de ser que marcaram o mundo outrora
cristão e civilizado. Mas a Igreja não morrerá, pois temos a promessa de
que as portas do inferno não prevalecerão.
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O autor é sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).
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