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Nesta Semana, Deus manifestou todo o seu amor pela humanidade e por cada um de nós.
Por Dom Pedro Brito Guimarães*
A Semana Santa, para nós cristãos, é a semana mais importante do ano.
Como bem diz o nosso povo: "estamos vivendo os dias grandes". Esta
Semana é grande porque nela celebramos o mistério da Paixão, Morte e
Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta Semana, Deus manifestou
todo o seu amor pela humanidade e por cada um de nós. Com o apóstolo
Paulo, cada um de nós pode dizer: “Ele me amou e se entregou por mim”
(cf. Gl 2,20).
A Semana Santa, que ora iniciamos, pode ser considerada um manual de
instruções para o cristão. Jesus pediu a seus discípulos que
preparassem, com todo esmero, a sua Páscoa e, com isso, nos ensina hoje a
fazer o mesmo. Vamos ler e meditar juntos o relato dos preparativos da
Páscoa de Jesus?
Assim descreve o evangelista Marcos: “No primeiro dia dos ázimos, quando
se imolava a Páscoa, os seus discípulos lhe disseram: ‘Onde queres que
façamos os preparativos para comeres a Páscoa?’. Enviou então dois dos
seus discípulos e disse-lhes: ‘Ide à cidade. Um homem levando uma bilha
d’água virá ao vosso encontro. Segui-o. Onde ele entrar, dizei ao dono
da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a minha sala, em que comerei a
Páscoa com meus discípulos?’ E ele vos mostrará, no andar superior, uma
grande sala arrumada com almofadas. Preparai-a ali para nós”! (Mc
12b-15).
O apóstolo Paulo, por sua vez, lembra aos cristãos da comunidade de
Coríntios para não celebrarem a Páscoa com o fermento da malícia e da
perversidade (cf. 1 Cor 5,8). Não é esta uma orientação segura também
para nós hoje? É triste constatar que muitos cristãos hoje vivem a
Semana Santa com certa frieza e até na indiferença. A Semana Santa para
nós, discípulos de Jesus, não é uma espécie de “carpe diem” (um
aproveitar o hoje). Não é tempo para passear, pescar, se divertir,
curtir a vida, relaxar, espairecer - como se fosse um feriadão. Assim
como os discípulos de Jesus, também nós hoje devemos nos preparar bem
para passar esses dias grandes na sua companhia. O Papa Francisco se
lamenta que “há cristãos que parecem ter escolhido viver uma quaresma
sem Páscoa" (EG 6). Contentam-se em celebrar uma Páscoa de aparência,
sem graça, sem vida e sem passagem da morte para a vida. O bom cristão
deve dizer com os cristãos de Abitine: “sem Eucaristia não podemos
viver”. Parafraseando, “sem Semana Santa não podemos viver”. Onde, como e
com quem vamos celebrar a Semana Santa deste ano de 2014?
Vejamos, então, os ensinamentos e as instruções que a Santa Mãe Igreja nos proporciona na Semana Santa através de sua liturgia:
O Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a
Semana em que Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência
terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e
ser pregado no lenho da cruz, o trono donde reinará para sempre,
atraindo a Si a humanidade de todos os tempos e oferecendo a todos o dom
da salvação. A liturgia deste Domingo inicia-se com a bênção dos ramos e
a procissão que comemora a entrada triunfal de Jesus na Cidade Santa de
Jerusalém, na qual é acolhido como Rei. Na liturgia Eucarística, o
Evangelho proclamado é a narrativa da Paixão do Senhor. Somos convidados
a entrar com Jesus no mistério de sua paixão e aquecer o nosso coração
com o amor que não tem fim, o amor de Deus por nós. O ensinamento deste
dia é que devemos acolher Jesus em nossa vida, nos deixar atrair pela
força do seu amor e trilhar o caminho alto que nos conduz a Deus.
Na Quinta-feira Santa inicia-se o Tríduo Pascal com a solene celebração
da Ceia do Senhor. O mistério Pascal é o mistério central da vida
cristã. Unidos a Jesus Cristo na sua Paixão, Morte e Ressurreição,
podemos também nós viver santamente nossa paixão, morte e ressurreição.
Neste dia Jesus instituiu o grande dom da Eucaristia e do sacerdócio
ministerial. Também neste dia Jesus lavou os pés de seus apóstolos e nos
deixou o mandamento do amor, nos ensinando, deste modo, a unir em
nossas vidas, Eucaristia e serviço em favor dos irmãos. Quem se senta à
mesa da Eucaristia não tem o direito de desprezar os pobres e
marginalizados, nos quais Jesus se faz particularmente presente (cf. (Mt
25,31-46).
A Sexta-feira Santa é um dia inteiramente centrado na cruz e na morte de
Cristo. Não se celebra a Eucaristia neste dia. A principal celebração
deste dia é a celebração da Paixão que, é, fundamentalmente, uma ampla
celebração da Palavra que culmina com a adoração da cruz e termina com a
comunhão eucarística. Não é dia de luto pela morte de Jesus. É a morte
do Ressuscitado que celebramos, motivo pelo qual falar de luto é
inadequado. É também dia de jejum e abstinência. Somos convidados e
contemplar o mistério da morte de Jesus como mistério de amor infinito
por nós. Neste dia “o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque
se disse até calar, nada retendo do que nos devia comunicar. Está sem
palavra a Palavra do Pai, que fez toda criatura que fala; sem vida estão
os olhos apagados d’Aquele a cuja palavra e aceno se move tudo o que
tem vida” (Papa Emérito Bento XVI, Verbun Domini, 13).
O Sábado Santo é considerado o dia do silêncio litúrgico. A Igreja
permanece em comunhão com o seu Senhor que repousa no sepulcro. Por
isso, neste dia não se celebra nenhum sacramento. O grande símbolo deste
dia é o Círio Pascal que entra solenemente no início da Vigília Pascal,
simbolizando Cristo, Luz do mundo, que dissipa as trevas do pecado. Na
liturgia da Palavra a Igreja proclama as maravilhas operadas por Deus na
história da salvação, começando pela criação do mundo e passando pela
libertação da escravidão do Egito. Maravilhas de todas as maravilhas é a
Ressurreição de Cristo. Esta é a noite da nova criação, do novo mundo
recriado na luz da ressurreição do Senhor. Esta Vigília se conclui com o
“Aleluia”, canto, por excelência, da ressurreição, e a Solene liturgia
eucarística da Páscoa do Senhor.Domingo da Páscoa. A Páscoa é a festa da nova criação. Jesus ressuscitou
e nunca mais morre. A porta que dá acesso à nova vida foi arrebentada.
Na Páscoa, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Deus disse novamente:
“Faça-se a luz!” Antes tinham vindo a noite escura do Monte das
Oliveiras e da traição de Judas, o eclipse solar da paixão e morte de
Jesus, a noite do sepulcro e do silêncio. Mas, agora a criação recomeça
inteiramente nova. Jesus ressuscita do sepulcro. A vida é mais forte que
a morte. O bem é mais forte que o mal. O amor é mais forte que o ódio. A
verdade é mais forte que a mentira. O salmo desta liturgia canta: “Este
é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”. A
Ressurreição de Cristo é o mistério fundante da fé cristã. Já bem dizia
Santo Agostinho: “Crer que Jesus morreu não é grande coisa. Isto até os
pagãos professam. Grande coisa é crer que Jesus ressuscitou. A fé cristã
é a ressurreição de Cristo”. O Ressuscitado vence toda forma de
escuridão. Ele é o novo dia de Deus que dá sentido pleno à nossa vida.
Celebremos, portanto, nossa Páscoa na pureza e na verdade. Feliz Páscoa
da Ressurreição!
CNBB, 14-04-2014.
*Dom Pedro Brito Guimarães é arcebispo de Palmas (TO).
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