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Binet toma como base quatro funções
intelectivas: direção, compreensão, invenção e censura. Pois bem:
aplicando ao nosso tempo os critérios de Binet pode-se concluir que houve uma infantilização do homem no século XX, sobretudo depois das Grandes Guerras mundiais.
Vejamos quais são essas quatro funções intelectivas. Iniciamos com uma característica evidente, que é a falta de direção da criança.
“A criança, em tudo o que empreende, mostra uma fraqueza de direção.
É estouvada e inconstante; esquece logo o que está fazendo, ou se
aborrece com o que faz, ou se deixa levar por uma fantasia, um capricho,
uma ideia que passa. Em uma conversa, em uma descrição, salta de um
assunto para outro, ao acaso das associações de ideias; faz
despropósitos”.
Quantos conspícuos adultos de hoje não possuem a mesmíssima lacuna?
Outra característica deveria ser a compreensão.
“Sua compreensão [dos meninos] é superficial. Se a percepção deve passar da sensação simples para uma verdadeira compreensão, ela dá sinais de fraqueza.
Diante de uma cena de miséria, por
exemplo, que representa mendigos jogados sobre um banco, a criança de
cinco a seis anos dirá: ‘É um homem, … uma mulher … uma árvore’; uma
criança de oito a dez anos tentará descrever o que ela vê: ‘O homem está
sentado sobre um banco, há uma mulher junto dele’. É preciso uma
inteligência adulta para ver além da gravura, compreender seu sentido e
dizer, enfim: ‘São pessoas sem abrigo, na miséria, sofredoras’”.
Terá alguma coisa a ver com isso o “déficit de atenção”, que hoje se discute no ENEM?
E o adulto de hoje como está em matéria de
compreensão? Tomemos o avanço da esquerda, e vemos uma espécie de
bobeira, pelo qual tende a tudo aceitar, tudo engolir. A mídia
esquerdista não encontra dificuldades para fazer passar as mais
incríveis colocações, as mais incríveis contradições.
Continua Binet:
“A capacidade de censura é, nela,
tão limitada quanto o resto. Mal se dá conta do que diz e do que faz; é
tão desajeitada de espírito como de suas mãos; é notável sua facilidade
em contentar-se com palavras sem perceber que não as compreende. Os
‘porquês’ com que sua curiosidade nos importuna não são nada
embaraçantes, porque se contenta ingenuamente com as respostas mais
absurdas”.
Pois bem, o que ontem eram limitações de
uma criança em desenvolvimento, hoje tende a ser e é muitas vezes
característica de um adulto “plenamente” desenvolvido.
A pessoa lê esse texto e se pilha pensando:
Fulano tem um pouco disso. Beltrano tem algo daquilo. Ora, Fulano e
Beltrano são homens adultos!
Não é inteiramente exato dizer que Fulano ou
Beltrano têm espírito infantil, no sentido próprio. Mas em determinados
pontos concretos, variáveis conforme o caso, dir-se-ia que neles a
distância existente entre a idade adulta e a infantil diminuiu
sensivelmente.
Trata-se de fragilidades que provocaram estranheza nas gerações anteriores. Escreve Carlos Alberto M. Pereira:
“Já desde os anos 50, era bastante visível
na sociedade americana a familiaridade crescente que a noção de
anti-intelectualismo vinha ganhando. Um exemplo desse fato é o
surgimento de toda uma tradição boêmia — aquela dos beatniks — de
verdadeiros representantes de um anarquismo romântico, cujo estilo,
contestação e agitação, novo e radical quando comparado à luta da
esquerda tradicional, estava apoiado sobre noções e crenças tais como a
da necessidade do ‘desengajamento em massa’, ou da ‘inércia grupal’ ”.(2)
Só na sociedade americana? Nos anos 60 apareceram os hippies,
“devotando-se a uma vida marcadamente sensorial e deixando-se arrastar
por sua ludicidade e desprezo pelas satisfações de uma carreira e de um
rendimento regular”.(3) E daí em diante prosseguiu o processo, até hoje. A humanidade está passando por uma verdadeira catástrofe antropológica, cuja vítima é o próprio homem.
Que é isso? Antropos é o homem e portanto catátrofe antropológica é a catátrofe do homem enquanto tal. Poucas coisas poderiam ser piores.
Ensina Plinio Corrêa de Oliveira “As
muitas crises que abalam o mundo hodierno — do Estado, da família, da
economia, da cultura, etc. — não constituem senão múltiplos aspectos de
uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem. Em
outros termos, essas crises têm sua raiz nos problemas de alma mais
profundos, de onde se estendem para todos os aspectos da personalidade
do homem contemporâneo e todas as suas atividades”.
Como diz a Sagrada Escritura: “Os pais comeram uvas verdes, e foram os dentes dos filhos que ficaram ásperos”… (Jer. 31, 29).
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