9 maio 2014
Nada é tão terrível quanto um tesouro afundado em um lamaçal. Nada é tão péssimo quanto a corrupção das coisas santas.
Não existe nada mais terrível que ver um grande tesouro afundado em
um denso lamaçal. Por isso a advertência do Evangelho: “Não lanceis aos
cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas” [1]. A
pérola é algo muito precioso. A simples razão ensina ao homem que aquilo
que é precioso deve ser guardado, tratado com bastante zelo e cuidado.
Aos porcos, lança-se lavagem, não pedras preciosas; aos porcos,
lançam-se as sobras, não aquilo que se tem em alta conta.
No mundo antigo, no entanto, certas pérolas jaziam afundadas na lama e
foi o Cristianismo, com a verdade de sua doutrina e o vigoroso
testemunho de seus adeptos, que recuperou a razão e a justiça então
obscurecidas pelos pecados dos homens. Em tempos como os nossos, em que
um malfadado feminismo prega ódio e desrespeito à religião, nada melhor
que lembrar o respeito e a dignidade que a religião cristã devolveu às
mulheres “em sua condenação do divórcio, do incesto, da infidelidade
conjugal e da poligamia” [2].
O Império Romano foi escolhido por Deus para presenciar a “plenitude
dos tempos” [3]. Era o ambiente apropriado para a visita de um Senhor
preocupado mais com os enfermos e pecadores que com os saudáveis e
justos [4]. De fato, a situação em que aí se encontravam os homens – e
principalmente as mulheres – era degradante. As leis e escritos da época
pressupunham “o direito de abandonar os filhos do sexo feminino” e a “a
prerrogativa [dos homens] de determinar às esposas e amantes que
praticassem o aborto” [5]. Uma sociedade permissiva como a antiga – em
que o divórcio era plenamente acessível e a poligamia amplamente
praticada – dava à figura masculina poder de subjugar as mulheres,
tornando-as mais escravas que seres humanos de verdade.
Assim se encontrava o mundo antigo – com louváveis exceções,
verificadas num e noutro lugar – até a chegada de Cristo. Com Ele, que,
no seio do Pai, escolheu uma mulher para ser a mais virtuosa criatura
que a terra viria a conhecer; com Ele, que, ressuscitado, apareceu
primeiro a mulheres [6]; com Ele, que, pela boca de São Paulo, abolia
todas as distinções entre as pessoas – já não havia mais “judeu nem
grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher” [7], mas todos eram
um só em Cristo; com Ele, restaurou-se a esperança à feminilidade então
tão suja e obscurecida pelo pecado e pela vileza humana. Historicamente,
é inegável: “a mulher em si mesma (…) nunca foi tão exaltada como no
cristianismo” [8].
A tradição cristã impregnou na cultura ocidental a consciência de que
a mulher é muito mais que seus atributos físicos e naturais; que a
mulher não é um pedaço de carne a ser idolatrado, mas um todo de
humanidade através do qual é possível vislumbrar a eterna beleza do
Criador. Ainda hoje, mulheres que aceitaram a doutrina cristã sobre a
modéstia dão testemunho da leveza, da delicadeza e da simplicidade da
autêntica beleza feminina.
“[A mulher] tem outras belezas muito mais excelentes e nobres: a beleza da sua inteligência, a beleza dos seus sentimentos e, sobretudo, a beleza da sua virtude e do seu caráter. Não se pode prescindir desta beleza espiritual, sob pena de rebaixar e degradar a mulher à condição vil dos irracionais. Seria o mesmo que entregar uma criatura humana, a pretexto de que é composta de carne e ossos, aos cuidados e ao laboratório do veterinário” [9].
Por isso, não é possível olhar para certas reivindicações de
movimentos ditos “progressistas” senão com ceticismo e vergonha.
Feministas que vão às ruas pelo direito de ser “vadias” ou que se
proclamam “prostitutas” [10] podem estar fazendo o que for, menos
defendendo a dignidade da mulher. Rebaixar-se à disposição aparentemente
“livre” dos próprios corpos – como se fossem apenas matéria –, expor
totalmente as próprias pernas e partes íntimas ao público – como se
fossem pedaços de carne num açougue –, pedir o “direito” de matarem os
próprios filhos que são concebidos em seu ventre – como se esses fossem
mera “extensão” de seus membros –, não só é desconsiderar o alto valor
que têm as mulheres – muito maior que o preço das pérolas e das joias
mais caras! É como entregá-las “aos cuidados e ao laboratório do
veterinário”; é transportá-las ao nível dos animais; é, real e
lamentavelmente, lançá-las aos porcos.
Marcha das vadias
O que querem essas senhoritas – que dizem “representar” as mulheres –
é a volta à Antiguidade, no mais horrível e decadente de seus aspectos;
a volta ao aborto e ao infanticídio, ao divórcio e à poligamia, à
degradação sexual e à permissividade dos costumes… na ilusão de que tudo
isso as liberte. Só que a história é uma grande mestra: esses
instrumentos que as feministas de hoje consideram “libertadores” são,
miseravelmente, as mesmas armas que as prenderam à escravidão noutros
tempos. Não as tornam “mais mulheres”; au contraire, colocam-nas abaixo
de sua própria natureza e vocação; lançam-nas, terrivelmente, aos cães e
aos porcos.
Corruptio optimi pessima est, diz um adágio latino. A corrupção dos
ótimos é péssima, a corrupção de quem deveria, por sua alta dignidade,
ser melhor, é ainda pior que as outras corrupções. A corrupção da
mulher, pelo feminismo, deforma-a a ponto de torná-la irreconhecível…
como uma pérola escondida em um chiqueiro, como uma joia cujo brilho é
ofuscado por uma porção de lama.
Ainda hoje – e especialmente hoje –, ressoam firmes as palavras de
Cristo: “Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos
as vossas pérolas”. Que as mulheres tomem consciência do grande dom e do
alto valor que possuem – e correspondam com coragem à sua dignidade.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Mt 7, 6
- Rodney Stark. O crescimento do cristianismo: um sociólogo reconsidera a história. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 119
- Gl 4, 4
- Cf. Mt 9, 12-13
- Rodney Stark. O crescimento do cristianismo: um sociólogo reconsidera a história. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 137
- Cf. Mt 28, 9; Mc 16, 9; Jo 20, 11-18
- Gl 3, 28
- Dom Aquino Corrêa. Elevação da mulher, 9 de dezembro de 1934. In: Discursos, vol. II, tomo II. Brasília, 1985. p. 137
- Dom Aquino Corrêa. Concursos de beleza, 27 de dezembro de 1930. In: Discursos, vol. II, tomo II. Brasília, 1985. p. 68-69
- Veja-se, por exemplo, o vídeo de um grupo feminista (sic), disponível no YouTube. Avisamos que possui palavras ofensivas e de baixo calão.
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