IHU - Um abraço no início e outro no fim. Uma dupla saudação cordial e afetuosa entre o Papa Francisco e o Papa Bento XVI no domingo na Praça de São Pedro, em um dia especial para ambos: a subida às honras dos altares de João Paulo II e de João XXIII.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 28-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O abraço entre o papa reinante e o papa emérito que escolheu o
retiro, o silêncio monástico para estar a serviço da Igreja na
contemplação pareceu o sinal mais evidente da amizade e da partilha de
intenções entre os dois.
Não há diarquias, nem rebeliões dentro dos sagrados muros leoninos. Ao contrário, há uma resposta positiva de Joseph Ratzinger ao convite que lhe foi dirigido por Jorge Mario Bergoglio no dia 28 de julho de 2013 na coletiva de imprensa no voo de regresso do Brasil: "Santidade, receba [as pessoas], tenha a sua vida, venha conosco".
Um convite, em suma, a não permanecer fechado no seu mosteiro, mas a
sair e a participar da vida da própria Igreja. E assim fez o Papa Ratzinger, no dia em que o pontífice com o qual compartilhou anos de trabalho e de intensa amizade, João Paulo II, tornava-se santo.
No domingo, a Praça de São Pedro fez com que a
Igreja respirasse como um nova consciência: a presença de um papa
emérito ao lado do papa reinante pode ser normal. "Há sessenta anos ou
mais – disse o próprio Francisco, não por acaso – o
bispo emérito não existia. Veio depois do Concílio. Hoje, é uma
instituição. A mesma coisa deve acontecer com o papa emérito. Bento XVI é o primeiro, e talvez haverá outros".
Além disso, em várias dioceses do mundo já há, ou houve no passado, mais bispos eméritos: na arquidiocese de Milão, por exemplo, o cardeal Carlo Maria Martini renunciou em 2002, enquanto o cardeal Dionigi Tettamanzi
renunciou em 2011. O que significa que, durante um certo período, cerca
de um ano, a Igreja de Milão teve dois arcebispos eméritos.
Portanto, além da dupla canonização, o domingo foi histórico também
por causa da presença de dois papas no presbitério. Nesse sentido, se o
papado de dor e de sofrimento de João Paulo II encerrou uma era, o de Bento XVI abriu uma nova.
Ratzinger chegou ao presbitério às 9h32min, meia hora antes dos cardeais que entraram na praça em procissão, juntamente com Francisco, às 10 horas em ponto. Acompanhado por Dom Georg Gänswein,
usando os paramentos sagrados, foi acolhido por um grande e longo
aplauso. Depois, sentou-se na primeira fila, talvez um pouco cansado
pelo peso da idade. Não quis um lugar especial, mas sim uma cadeira
entre os cardeais concelebrantes.
Ao lado dele, na meia hora que antecedeu o rito, apenas o subdecano do Colégio Cardinalício, Roger Etchegaray, 91 anos, que também chegou antes dos outros cardeais. Estes, tendo entrado com Francisco,
antes de tomar assento, quiseram saudar o papa emérito um por um. Além
disso, não são poucos os curiais que encontram nele ainda hoje, além de
em Francisco, escuta e acolhida.
Também se aproximou de Bento XVI a Ir. Tobiana, a religiosa polonesa que cuidou durante 27 anos de Karol Wojtyla. Na imagem, imortalizada pelo Centro Televisivo Vaticano, a religiosa, evidentemente comovida, beijou a mão de Ratzinger e trocou algumas palavras com ele.
Uma homenagem especial foi reservada ao presidente da Itália, Giorgio Napolitano. Acompanhado pela esposa, Clio, quanto entrou no presbitério, o chefe de Estado foi logo acompanhado por Gänswein para saudar Bento XVI, que, vendo-o, colocou-se de pé.
Durante a celebração eucarística, Ratzinger parecia
absorto, concentrado na liturgia, em atitude composta, discreto, com o
resultado de que, no fim, fez de tudo, exceto roubar a cena dos dois
papas canonizados e de Francisco.
Ao término da celebração, outra saudação calorosa com Bergoglio,
antes de voltar ao seu mosteiro. Os dois apertaram-se repetidamente as
mãos, sorrindo e trocando algumas palavras, mostrando um costume que
parece estar ficando cada vez mais forte.
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