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Sair de si é ser grande, pois só nos entregamos quando somos donos de nós mesmos.
Por Luiz Carlos de Oliveira*
Ao iniciar as celebrações da Semana
Santa, temos na Missa do Domingo de Ramos uma oração que dá uma razão
para os acontecimentos Mistério Pascal de Cristo: “Deus, para dar aos
homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se
fizesse homem e morresse na Cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da
Paixão e ressuscitar com Ele em sua glória”.
A razão da Encarnação e da Morte é
mostrar a humildade. Percebemos que se trata do fundamental da vida de
Jesus. É por esta virtude que temos entrada no Mistério de Cristo.
Por que a importância da humildade na
vida e na missão de Cristo Salvador? Jesus veio para nos salvar e nos
colocar em comunhão com Deus. E a vida de Deus consiste no amor de mútua
entrega e mútuo acolhimento.
Para isso é necessário a humildade.
Vemos que este termo vai além dos conceitos que temos de humildade como a
virtude que nos abaixa, que nos esconde e reduz. Sair de si é ser
grande, pois só nos entregamos quando somos donos de nós mesmos e somos
livres de tudo.
É o contrário do mal do orgulho que quer
tudo para si e colocar tudo a seu serviço. Na Encarnação de Jesus vemos
como Ele era o Tudo como Deus e se fez homem humilde e escravo
servidor. Não vim para ser servido, mas para servir.
Na Santa Ceia, Ele lavou os pés dos
apóstolos e disse: “Vós me chamais de Mestre e Senhor e Eu o sou. Se vos
lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o
exemplo para que, como Eu vos fiz, também vós o façais (Jo 13,13-15).
Sua morte foi o máximo da humildade,
pois foi um serviço. O orgulhoso não serve, serve-se dos outros. A
bondade de Jesus é expressão de sua humildade. Não se tratava só de uma
virtude, mas de seu Ser Divino. Para acolher Deus, é preciso ter Jesus
como exemplo de humildade. Percorrendo os evangelhos podemos ver suas
atitudes para com as pessoas, sobretudo para com os humildes e pobres.
Humildade e Ressurreição
Foi no momento máximo de sua humildade
que Jesus foi ressuscitado pelo Pai, como lemos em Filipenses:
“Humilhou-se e foi obediente até à morte e morte de Cruz. Por isso Deus O
exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome”(Fl 2,8-9) .
Sabemos que os humildes e os mansos
herdarão a terra e o Reino dos Céus (Mt 5,1-12). Estes têm uma
posteridade que dura para sempre. Ao aceitar Jesus Cristo pela fé e
pelos sacramentos, o cristão assume também viver sua mentalidade.
A humildade não era só um modo de agir,
mas seu Ser. O amor que pregou não era uma doutrina, era sua vida de
relacionamento com o Pai. Por isso tinha um impacto tão grande sobre as
pessoas. O amor é humildade. Não há humildade sem amor nem amor sem
humildade.
Sua morte foi conseqüência de sua decisão pela humildade. Foi o caminho que o levou a dar a vida em resgate por todos.
Ser pequeno grande
Notamos a dificuldade que a comunidade
cristã tem de entender sua vida como entrega de humildade. Por isso
vemos as atitudes de orgulho, prepotência, agressividade, falta de
diálogo e tantos males que invadem as comunidades e de modo particular
os que exercem algum modo de poder.
Esquecemos que todos vamos morrer.
Conhecemos em nossas comunidades aqueles humildes que se dedicam com
carinho aos fracos, aos doentes, aos pobres.
Conhecemos padres e bispos que são
abertos ao povo. Os humildes são os verdadeiramente grandes nas
comunidades, pois são um retrato vivo de Jesus.
A espiritualidade cristã deve se fundar nessa atitude de Jesus, para chegar à Ressurreição.
A12, 04-05-2014.
*Luiz Carlos de Oliveira é padre.
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