Maria
é a Mãe da Igreja por ser a Mãe de Cristo, Cabeça da Igreja, que é o
seu Corpo Místico, Maria é também Mãe da Igreja. Durante o Concílio
Vaticano II, o Papa Paulo VI declarou solenemente que:
‘Maria é Mãe da Igreja, isto é, Mãe de todo o povo Cristão, tanto dos
fiéis como dos pastores’ (21/11/64). Em 30/06/68, no Credo do Povo de
Deus, ele repetiu essa verdade de forma ainda mais forte: “Nós
acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja,
continua no Céu a sua missão maternal em relação aos membros de Cristo,
cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos
remidos”.
A presença da Virgem Maria é tão forte e indissociável do mistério de
Cristo e da Igreja, que Paulo VI no discurso de 21/11/64 afirmou que:
“O conhedimento da verdadeira doutrina católica sobre a Bem” aventurada
Virgem Maria continuará sempre uma chave para a compreensão exata do
mistério de Cristo e da Igreja”. Conhecer Maria “segundo a doutrina
católica” é conhecer Jesus e a Igreja, pois Maria foi peça chave,
indispensável, no Plano de Deus para a Redenção da humanidade. “Na
plenitude dos tempos, Deus mandou o seu Filho, nascido de uma mulher,…
para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gal 4,4).Ou
como diz o Símbolo Niceno Constantinopolitano, falando de Jesus: O
qual, por amor de nós homens e para nossa salvação desceu dos céus e se
encarnou pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria. Desde os
primeiros séculos do Cristianismo Maria é reconhecida e chamada pelos
cristãos de Mãe de Deus Theotokos. Desde o final do século dois, os
cristãos do Egito e do norte da Africa, onde havia mais de 400
comunidades cristãs, já a invocavam como Mãe de Deus, na oração que
talvez seja a mais antiga que a Igreja conheça: Debaixo de Vossa
proteção nos refugiamos Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas
súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os
perigos, Virgem gloriosa e bendita. Para cumprir a missão extraordinária
de Mãe de Deus, Maria foi enriquecida por Deus com todas as graças, e
de modo especialíssimo com a graça de nunca conhecer o pecado: nem o
original e nem o pessoal. Foi concebida no seio de sua Mãe, santa Ana,
sem a culpa original.
O dogma da Imaculada Conceição de Maria, reconhecido pela Igreja
desde os primeiros séculos, foi proclamado solenemente pelo Papa Pio IX,
em 8/12/1854, através da Bula “Ineffabilis Deus” : Nós declaramos,
decretamos, e definimos que… em virtude dos méritos de Jesus Cristo… a
bem aventurada Virgem Maria foi preservada de toda mancha do pecado
original no primeiro instante de sua conceição… Nas aparições a Santa
Catarina Labouré, em Paris, em 1830, Maria ensinou lhe a conhecida
oração que foi cunhada na Medalha Milagrosa: “Ó Maria, concebida sem
pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.”
Em 1858, quatro anos após a solene declaração do Papa Pio IX, Ela
mesma revelou seu nome a Santa Bernardete, em Lourdes: Eu sou a
Imaculada Conceição. Por isso, o último santo Concílio a chamou de: Mãe
de Deus Filho, e, portanto, filha predileta do Pai e sacrário do
Espírito Santo (LG, 53). E ainda registra o Santo Concílio Vaticano II
que: Com este dom de graça sem igual, ultrapassa de longe todas as
outras criatura celestes e terrestres (idem). E repete as palavras de
Santo Agostinho: Verdadeiramente mãe dos membros de Cristo … porque com o
seu amor colaborou para que na Igreja nascessem os fiéis, que são
membros daquela Cabeça. E mais: Por esta razão é também saudada como
membro supereminente e absolutamente singular da Igreja, e também como
seu protótipo e modelo acabado da mesma, na fé, e na caridade; e a
Igreja católica, guiada pelo Espírito Santo, honraa como Mãe
amantíssima, dedicandolhe afeto de piedade filial (LG,53). E o Sagrado
Concílio reconhece que Maria: … na Santa Igreja ocupa o lugar mais alto
depois de Cristo e o mais perto de nós(LG,54).
Maria é aquela Mulher que atravessa toda a história da salvação do
Gênesis ao Apocalipse. Ela é a Mulher que vence a Serpente, que havia
vencido a mulher: “Porei odio entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar ” (Gen 3,15). Quando Jesus chama a sua Mãe de Mulher, é para
nos indicar quem é a grande Mulher predileta de Deus: Jo 2,4 Mulher,
isto compete a nós ? Minha hora ainda não chegou. Jo 19,26 Mulher, eis
aí teu filho. Maria é a Virgem que o profeta anunciou que haveria de
conceber e dar à luz um Filho, cujo nome é Emanuel (cf Is 7,14; Mq 5,23 ;
Mt 1,2223). Pela primeira virgem entrou o pecado na história dos
homens, e com ele a morte (Rom 6,2); pela nova Virgem entrou a salvação e
a vida eterna. Foi ela quem deu a carne ao Filho de Deus, para que
mediante os mistérios da carne libertasse o homem do pecado (LG,55). Sem
isto Cristo não poderia ser o grande e eterno Sacerdote da Nova
Aliança.
Eis aí o papel indispensável de Maria. Como diziam os Santos Padres:
Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas
cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência
(LG, 56). Quis, porém, o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse
precedida da aceitação por parte da Mãe predestinada, a fim de que,
assim como uma mulher tinha contribuído para a morte, também outra
mulher contribuísse para a vida (idem).
Os Santos Padres disseram:
O laço da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria;
o que a virgem Eva atou com sua incredulidade, a Virgem Maria desatou
pela fé (S. Ireneu).
E ainda, disse S. Jerônimo:
A morte veio por Eva, a vida por Maria.
A união de Maria com Jesus, na obra da Redenção, acontece desde a
Encarnação até o Calvário. Assim foi na visita a Isabel (Lc1, 4145), no
nascimento na gruta de Belém, na apresentação no Templo diante de Simeão
(Lc 2, 3435), no encontro entre os
doutores (Lc 2, 4151). Na vida pública de Jesus, Maria logo se
manifesta nas bodas de Caná, antecipando a hora dos milagres (Jo 2,11),
revelandose a mãe de misericórdia e intercessora nossa. Durante a
pregação de Jesus, recolhia as suas palavras e guardava tudo no coração
(Lc 2,19 e 51). E assim ela foi avançando no caminho da fé e manteve
fielmente a sua união com o Filho até a cruz, onde estava, por vontade
de Deus, de pé (Jo 19,25), oferecendoo ao Pai por cada filho. Com Jesus
ela sofreu profundamente. Como disse alguém, Jesus sofreu a Paixão, Ela a
compaixão. A espada predita por Simeão atravessoulhe inteiramente a
alma.
Assim se expressou o Santo Concílio:
Sofreu profundamente com o Unigênito e associouse de coração materno
ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que
ela havia gerado; finalmente, ouviu estas palavras do próprio Jesus
Cristo, ao morrer na cruz, dando a ao discípulo por Mãe: mulher, eis aí o
teu filho (Jo 19,2627),(LG,62). Após a Ascensão do Senhor ao céu vemos
Maria com os seus discípulos, aguardando a vinda do Prometido do Pai,
implorando com suas orações a chegada do Espírito Santo :Todos eles
perseveravam unanimemente na oração; juntamente com as mulheres, entre
elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele (At 1,14). E, finalmente,
terminando a sua vida terrena, ela que fora preservada de toda mancha do
pecado, Foi levada à glória celeste em corpo e alma, e exaltada pelo
Senhor como Rainha do Universo, para que se parecesse mais com o seu
Filho, Senhor dos Senhores (cf Ap 19, 16) e vencedor do pecado e da
morte (LG 59).
Maria não substitui a Mediação única de Cristo diante do Pai.
São Paulo deixou claro:
Porque há um só Deus, também há um só mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, verdadeiro homem que se ofereceu em resgate de
todos (1 Tm 2,56). A função maternal de Maria acontece por livre escolha
de Deus e não por necessidade intrínseca e se realiza pelos méritos de
Cristo e de sua mediação única, e dela depende absolutamente em toda a
sua eficácia; isto é, sem o sacrifício redentor de Cristo, a função de
Maria como medianeira, não seria possível. Portanto, Maria, longe de
impedir o contato dos seus filhos com o Filho, o facilita ainda mais.
Logo, Maria jamais substitui a única e indispensável mediação de Jesus
diante do Pai, mas coopera com ela para o bem de seus filhos.
No céu garante a Igreja Maria continua a sua missão de Intercessora
para obternos os dons da salvação eterna. Com seu amor de Mãe, cuida
dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos
e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz (LG, 62). Sem nada
diminuir ou acrescentar à exclusividade de Cristo, Mediador único,
Maria é invocada pelos seus filhos com os títulos de Advogada,
Medianeira, Auxiliadora dos Cristãos, Refúgio, Consoladora, Porta do
Céu, e muitos outros. Por todas essas razões a Igreja presta, e sempre
prestou, um culto especial a Maria, Mãe de Deus.
Não um culto de adoração (latria), que só é devido a Deus (Pai, Filho
e Espírito Santo), mas um culto de hiperveneração (hiperdulia). O
Sagrado Concílio ensina deliberadamente essa doutrina católica e exorta
ao mesmo tempo todos os filhos da Igreja a que promovam dignamente o
culto da Virgem Santíssima, de modo especial o culto litúrgico; e que
tenham em grande estima as práticas e os exercícios de piedade que em
sua honra o magistério da Igreja recomendou no decorrer dos séculos (LG,
67).
E o santo Concílio adverte:
Recordemse os fiéis de que a devoção autêntica não consiste em
sentimentalismo estéril e passageiro ou em vã credulidade, mas procede
da fé verdadeira que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e
nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe, e à imitação das suas
virtudes (LG, 67).
A Virgem Maria sempre deu provas claras do seu amor maternal à Igreja, especialmente nos momentos em que esta foi ameaçada.
Quando, por exemplo, em 1571, a
civilização cristã estava em risco na Europa, devido ao ameaçador avanço
dos mulçumanos, o Papa S. Pio V implorou a proteção de Maria em favor
do povo cristão, pedindo que a Virgem afastasse, de uma vez por todas,
os perigos do islamismo.
No dia 07/10/1571, na grande e decisiva batalha de Lepanto, na
Grécia, as tropas dos príncipes cristãos venceram definitivamente os
turcos otomanos.Para agradecer à Mãe da Igreja essa vitória insígne, o
Papa mandou incluir na Ladainha Lauretana a invocação, Auxiliadora dos
Cristãos, Rogai por nós, e definiu o dia 7 de Outubro como o dia de
Nossa Senhora do Rosário, em agradecimento e homenagem à proteção dada à
Igreja.
Outro fato marcante da providência da Mãe e Auxiliadora, se viu
quando o imperador Napoleão Bonaparte mandou prender o Papa Pio VII, que
não quis aprovar a anulação do seu casamento com Josefina. Na noite de 5
a 6 de julho de 1809 Napoleão mandou prender o Papa em Savona (Itália
do Norte), que foi submetido a vexames por parte do imperador. Em 1812 o
Papa foi transferido para a cadeia de Fontainebleau perto de Paris. Em
todo o seu sofrimento o Papa se recomendou aos cuidados de Nossa
Senhora, Auxiliadora dos Cristãos. Em 10/03/1814, já vencido pelos
inimigos, Napoleão deu liberdade ao Papa, que neste dia partiu para
Roma, onde chegou em 24 de maio, passando por Savona. Nesta cidade
coroou Nossa Senhora com uma coroa de ouro, em agradecimento de sua
libertação. No dia 24 de maio, ao chegar em Roma, instituiu a festa de
Nossa Senhora Auxiliadora, dia do seu regresso a Roma.
Poucos dias depois, em 11/04/1814, no mesmo Castelo de Fontainebleau,
onde mandara prender o Papa, Napoleão era obrigado a abdicar do trono
da França. Em 18/06/1815 era vencido na batalha de Waterloo e deportado
para a ilha de Santa Helena.
Gostaríamos de recomendar aqui a leitura do livro A Mulher do
Apocalipse (Loyola, 1995) onde procuramos sintetizar a doutrina católica
sobre Maria; e o grande livro de São Luiz de Montfort, O Tratado da
Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima, afim de conhecer melhor e amar
mais a Mãe da Igreja e nossa Mãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.