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Ressuscitar com Jesus é integrar-se sempre mais no cuidado do mundo que nos foi confiado.
Por Luiz Carlos de Oliveira*
Sempre rezamos: "Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovareis a face
da terra". Normalmente, ficamos no aspecto espiritual. O homem, na
linguagem da Escritura e mesmo de mitos, foi feito do barro ao qual foi
dada a inteligência e a alma espiritual.
O ser humano é um todo. A matéria, mesmo perecível, é animada por uma
alma que lhe dá sentido e consistência vital. Graças a Deus, a partir
do crescente respeito ao ser humano, também a natureza foi beneficiada.
Temos o sentido da preservação da natureza como condição de vida para as
pessoas. Mas há uma dimensão espiritual que pode fundamentar melhor
este cuidado.
São Paulo nos ensina na carta aos Romanos sobre a vida do Espírito em
nós e na natureza: “A criação em expectativa anseia pela revelação dos
filhos de Deus. De fato, a criação foi submetida à vaidade – não por seu
querer, mas por vontade daquele que a submeteu – na esperança de ela
também ser libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade
da glória dos filhos de Deus.” (Rm 8,19-22).
A Ressurreição de Jesus e nossa ressurreição, pelo dom do Espírito,
são a base da ecologia que é também espiritual. Por isso podemos dizer
que uma vida espiritual só será coerente se preservar também os bens na
natureza. O pecado que desequilibra a pessoa tem ressonância na
natureza. Quando a Bíblia, ao narrar a criação do homem, diz: “Sede
fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28).
O sentido é dominação para não ter a terra como um deus. Mas podemos
entender um lado positivo de cuidar da terra, como lemos mais adiante:
“Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para cultivá-lo e
guardá-lo” (Gn 2,15).
A natureza caminho para Deus
Quando se fala de espiritualidade, há uma tendência de sair da
realidade, até com desprezo da natureza, inclusive a humana. Isso
contradiz o ensinamento da Escritura que criou tudo na unidade. Essa
unidade chega ao máximo na pessoa de Jesus que é Homem-Deus.
A Divindade se uniu à matéria. Esta matéria participa de sua
Ressurreição e está glorificada Nele. Por isso, a natureza é caminho
para Deus. Por ela podemos compreender o amor criador do Pai e força
redentora da Ressurreição. A Palavra ensina: “Os céus cantam a glória de
Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” ( ).
São Bernardo dizia que aprendera mais nas plantas do que nos livros.
Rezamos nos salmos o quanto as belezas da natureza são motivo de louvor a
Deus. No hino das criaturas damos voz a todo o Universo para o louvor a
Deus: “Obras do Senhor, bendizei o Senhor....” (Dn 3,57ss).
No salmo 64, depois de louvar a ação de Deus na natureza, explode em
grito que resume tudo: “Tudo canta e grita de alegria” (Sl 64,14). A
espiritualidade sem a união ao outro e à natureza é “um sino que toca e
um címbalo que retine” (1Cor 13,1).
Por causa do homem
O ser humano, como natureza, está unido ao Universo. Com a
Ressurreição de Jesus o universo iniciou sua renovação. Ressuscitar com
Jesus é integrar-se sempre mais no cuidado do mundo que nos foi
confiado. O respeito, promoção e integração da pessoa na vida digna leva
consigo a natureza.
Se por causa do pecado do homem a natureza sofre, mesmo que não
saibamos explicar, viver na graça é sua redenção. Na Eucaristia a
natureza que chora e geme em dores de parto (Rm 8,22), enxuga suas
lágrimas e oferece a Deus o pão e o vinho, Corpo e Sangue do Senhor, que
são sua ressurreição.
Somos chamados a dar ao mundo e a todas as pessoas o direito de amar a
Deus com totalidade, unindo a sua resposta de fé, a natureza criada com
muito amor.
A12, 25-05-2014.
*Luiz Carlos de Oliveira é padre.
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