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Depois da renúncia de Bento XVI, a Igreja não é mais a mesma que se conhecia até então.
Por Carlo Marroni
Era o ponto máximo a que ele podia chegar. O papa Francisco – falando
de renúncia em resposta a uma pergunta dos jornalistas no voo de volta
da Terra Santa – disse que não sabe o que Deus reservou para ele, mas
certamente "Bento XVI abriu o caminho dos papas eméritos". Em suma,
depois da renúncia do dia 11 de fevereiro de 2013, a Igreja não é mais a
mesma que se conhecia até então. Uma afirmação forte, que confirma como
o novo curso do pontífice argentino não é feito apenas de uma mudança
da agenda pastoral e de governo, mas que trará consigo algo mais
profundo. Como se a sua eleição devesse ser lida como um unicum com a renúncia do papa alemão.
Um foco nítido da mudança que o papado está vivendo vem do belo livro "Francesco tra i lupi. Il segreto di una rivoluzione"
(Francisco entre os lobos. O segredo de uma revolução) (Ed. Laterza),
de Marco Politi, jornalista vaticanista de longa data, durante muito
tempo no jornal La Repubblica e agora colunista do jornal Il Fatto
Quotidiano, comentarista de redes de TV norte-americanas e escritor
afirmado. O capítulo conclusivo do livro é intitulado "Um papado por
tempo limitado", e a análise que daí surge é como um decodificador das
palavras de Francisco no avião.
"Dois papas no Vaticano. E no horizonte se perfila um pontífice por
tempo limitado. O ano de 2013 colocou em ação uma sublevação
imprevisível na catolicidade. Muda o perfil do papado, e Francisco está
mudando o modelo de Igreja. O sucessor provavelmente vai voltar a viver
no apartamento papal, mas não poderá mais se apresentar com a pompa do
passado. Sobretudo não conseguirá mais exercer um poder autoritário sem
limites. O absolutismo imperial dos pontífices foi rachado
irreversivelmente. O Papa Francisco se apresentou ao mundo como um
discípulo de Jesus. Depois dele é difícil que um papa possa subir ao
trono alegando ser plenipotenciário de Cristo."
Politi revela que no Vaticano correm rumores de que Bergoglio
confidenciou a um bispo que está disponível para renunciar: "É difícil
pensar que ele queira permanecer no cargo sem ter o pleno comando.
Vegetar no trono em idade avançada não faz parte do temperamento
intelectual de um pontífice jesuíta, atento para discernir as situações.
A declarada vontade de manter e, de fato, renovar passaporte e carteira
de identidade da sua pátria argentina permite entrever uma existência
futura não necessariamente concluída dentro dos muros vaticanos."
E a estreita ligação entre Bento e Francisco – para além dos estilos
dos programas que estão em polos opostos – é sublinhada no livro,
justamente quando se relata a renúncia do papa alemão: "Sem Ratzinger,
não há Francisco. Sem a renúncia de Bento XVI, o catolicismo não teria
chegado à virada histórica de um papa do Novo Mundo".
O livro de Politi percorre, em riqueza de detalhes e anedotas, o
histórico período entre os dois pontífices, as guerras entre os
cardeais, as resistências da Cúria à mudança, a espinhosa questão das
finanças pontifícias, os segredos do "conclave anti-italiano", que levou
à cátedra de Pedro aquele que já é "o líder mais influente do planeta,
que se prefixou uma obra gigantesca: reformar a Cúria e renovar a
Igreja. Mas, nos bastidores, a luta é cada vez mais acirrada. O tempo é
pouco. O que está em jogo é a fisionomia do catolicismo de amanhã".

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